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Bolsonaro aposta em reviravolta para Trump na Suprema Corte

Com Biden cada vez mais próximo da Casa Branca, Bolsonaro adotou a narrativa de Trump de que o processo eleitoral dos Estados Unidos está fraudado

"A esperança é a última que morre", disse Bolsonaro sobre as eleições americanas (Adriano Machado/Reuters)

"A esperança é a última que morre", disse Bolsonaro sobre as eleições americanas (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de novembro de 2020 às 06h50.

Com o avançar da contagem de votos que colocou o democrata Joe Biden mais próximo de Casa Branca, Jair Bolsonaro trocou o otimismo das primeiras horas de apuração pela narrativa do colega americano Donald Trump de que o processo eleitoral dos Estados Unidos está fraudado. Diante do cenário adverso, nos bastidores, a torcida no Palácio do Planalto passou a ser para que Trump reverta a derrota com a recontagem na Suprema Corte.

Ao chegar no Palácio da Alvorada no início da noite desta quarta-feira, 4, Bolsonaro evitou comentar a situação, seguindo o orientação de auxiliares da área internacional para que se mantivesse neutro diante de uma judicialização da eleição americana.

"O que que tu acha? Todo mundo acompanhando. Parece que foi judicializado o negócio lá, né. Um estado ou outro. Esperar um pouquinho", disse Bolsonaro ao ser questionado por um apoiador na chegada do Palácio da Alvorada.

"A esperança é a última que morre", respondeu o presidente a uma apoiadora que relatou a ansiedade pela apuração dos votos na eleição americana. "O que seria de nós sem o senhor e o Trump? A gente está aqui com o coração na mão pelo que está acontecendo nos Estados Unidos", afirmou a mulher.

Pela manhã, no entanto, o presidente, que passou a madrugada checando os resultados, disse que achava que Trump ganharia a disputa. Ele voltou a dizer que não se tratava de uma interferência, mas de uma preferência.

Bolsonaro passou o dia de olho na apuração da eleição dos Estados Unidos com a televisão ligada e recebendo análises do cenário do assessor-chefe para Assuntos Internacionais, Filipe Martins. Ele ainda almoçou com o ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo, e se reuniu com os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Braga Netto (Casa Civil) e José Levi (Advocacia-Geral da União).

Diante das notícias indicando o quadro favorável a Biden, Bolsonaro fez uma piada com os ministros dizendo que se Trump não vencesse jogaria o Filipe Martins da janela do terceiro andar do Planalto, onde está localizado o seu gabinete. Na previsão do assessor, Trump levaria os votos do Arizona. A projeção de vitória no Estado é para Biden e até agora o único equivoco da perspectiva de Martins. Com 86% das urnas apuradas no Estado, o Planalto ainda acreditava que seria possível uma reviravolta.

O assessor se tornou uma espécie de oráculo do governo sobre as eleições americanas após ter acertado o resultado de 2016, com vitória de Trump sobre Hillary Clinton. Neste ano, Martins traçou três cenários possíveis, em um deles com vitória de Trump se daria com 280 delegados dos colégios eleitorais dos 538. O vencedor precisa de 270 delegados.

Ao longo dia, aliados do presidente passaram a compartilhar publicações nas redes sociais de sites americanos de direita com supostas denúncias de fraudes, nenhuma comprovada. Entre ela uma postagem que engana ao afirmar que cédulas com votos para Donald Trump foram achadas enterradas no Arizona. De acordo com a Procuradoria Geral do Estado americano, os votos foram encontrados em envelopes selados - portanto, não é possível atribuí-los ao candidato republicano. Além disso, as cédulas roubadas foram devolvidas aos eleitores, que tiveram a oportunidade de reenviar seus votos.

E se der Biden?

Apesar da torcida por Trump seguir, interlocutores do Planalto já veem na vitória de Biden o aumento da pressão para a saída do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Os dois atualmente são vistos como entraves até mesmo para uma relação pragmática com um governo democrata.

A política ambiental do governo Bolsonaro foi alvo de crítica de Joe Biden no primeiro debate no fim de setembro. Na ocasião, o democrata prometeu se juntar com outros países e oferecer US$ 20 bilhões para ajudar na preservação da Amazônia. "Parem de destruir a floresta e, se não fizer isso, você terá consequências econômicas significativas", completou, indicando possíveis retaliações ao governo brasileiro.

Bolsonaro respondeu, dizendo que a observação era "lamentável" e "desastrosa". Nesta quarta-feira de manhã, ele voltou a criticar Biden. "O candidato democrata, em duas oportunidades, falou sobre a Amazônia. É isso que vocês estão querendo para o Brasil? Aí sim uma interferência de fora pra dentro", declarou.

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