A presidente Dilma Rousseff conversa com o presidente da Fifa, Joseph Blatter (Pedro Ladeira/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2012 às 19h50.
São Paulo - Brasil e Fifa tentaram restaurar a relação num encontro nesta sexta-feira em que a presidente Dilma Rousseff assegurou ao chefe da entidade, Joseph Blatter, que o país cumprirá com as garantias acertadas para realizar a Copa do Mundo de 2014, em meio a um impasse sobre a liberação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios durante o evento.
A relação entre Brasil e Fifa vive uma crise detonada pela declaração feita pelo secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, de que o país precisava de um "chute no traseiro" para realizar o evento. A fala gerou uma forte reação do Brasil, que vetou a atuação de Valcke como intermediador.
O dirigente chegou a desmarcar uma visita oficial que faria ao país depois de o governo dizer que não iria recebê-lo. Após cartas com pedidos de desculpas, ainda não foi anunciado oficialmente quem representará a Fifa nas tratativas com o governo brasileiro.
Blatter, no entanto, reuniu-se na quinta-feira à noite com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, e com o ex-atacante Ronaldo, conselheiro do Comitê Organizador Local (COL), e acertou manter Valcke afastado das conversas com o Brasil num primeiro momento, disse à Reuters uma fonte do governo que pediu para não ser identificada.
O dirigente disse ainda que irá negociar pessoalmente com o país.
Após o encontro com Dilma, Blatter disse que a questão Valcke não foi conversada com a presidente, e afirmou tratar-se de um "tema interno da Fifa".
"Jérôme Valcke continua trabalhando para a Fifa. O problema entre Jérôme Valcke e o Brasil é um problema que pertence ao presidente da Fifa e que o presidente (da Fifa) tem que solucionar", disse Blatter a jornalistas após o encontro, de uma hora. "Vocês podem dar um tempo para ele solucionar o problema?"
Preocupa à Fifa, além do cronograma das obras nas arenas e de infraestrutura, a demora em aprovar a lei que estabelece regras para a realização do Mundial em 2014 e das Confederações em 2013. A Lei Geral da Copa ainda aguarda votação na Câmara dos Deputados e no Senado e tem como um dos pontos mais polêmicos a venda de bebidas alcoólicas durante as partidas dentro dos estádios, proibido no país pelo Estatuto do Torcedor.
Só sorrisos
O Brasil deu uma série de garantias à entidade, em 2007, durante a escolha do país-sede, dentre elas a legalização da venda de bebidas nas arenas, mas a questão enfrenta resistência entre congressistas, o que tem atrasado a aprovação da lei.
"A presidente disse não haver dúvida que o governo do Brasil irá implementar todas as garantias que foram dadas à Fifa", disse Blatter. "Eu confio nela e confio no Brasil".
A questão é de interesse da Fifa, que tem uma cervejaria entre seus principais patrocinadores. Deputados contrários à liberalização das bebidas alegam que a permissão pode aumentar casos de violência nas arenas. O projeto deve ser votado no plenário da Câmara na próxima semana.
Blatter e Aldo, que também participou do encontro, tentaram demonstrar harmonia entre as partes. O brasileiro falou de "reunião construtiva". Já o dirigente suíço se disse "sorridente" com o resultado da reunião, mas pediu por encontros mais frequentes com Dilma.
Pelé, embaixador da Copa do Mundo de 2014, usou de humor para definir o momento atual da relação entre o Brasil e a entidade.
"Eu falei para a presidente Dilma que daqui para frente não é para me chamar de ministro, é para me chamar de bombeiro. Eu estou aqui para apagar as fogueiras, é isso que eu estou fazendo", disse.
Questionado sobre a saída de Ricardo Teixeira da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) após 23 anos, e do comando do Comitê Organizador Local (COL) da Copa, Blatter optou por uma resposta diplomática, dizendo que mudanças são normais.
"No que concerne a mudança na presidência da CBF e do Comitê Organizador Local, temos novas pessoas e isso é uma transformação natural, é normal, que acontece o tempo todo, no mundo todo", disse.
Teixeira foi substituído pelo vice-presidente da confederação, José Maria Marin, que não esteve na reunião por estar na Argentina.