Expert (XP/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2018 às 07h41.
Última atualização em 22 de março de 2019 às 15h40.
A quinze dias das eleições, a polarização política e o excesso de brigas entre os eleitores foram os assuntos mais tratados pelo ex-presidente americano Bill Clinton em conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Os dois líderes participaram do evento ExpertXP, na noite desta sexta-feira, em São Paulo.
Aos eleitores, ofereceram conselhos como “respeitem as diferenças” e “tentem se unir”. “Não se pode tomar uma decisão com raiva e ressentimento. Olha o que deus deu a vocês. Esse é um conselho que minha mãe daria, e que eu aconselho que vocês sigam também, como eu segui”, afirmou o ex-presidente Bill Clinton. O encontro ocorreu no centro de um auditório para mais de 7.000 pessoas. Sem contar as outras centenas que esperavam do lado de fora.
Sobre as eleições, os dois ex-presidentes não criticaram diretamente nenhum candidato. Eles preferiram, no entanto, mostrar que o acirramento dos eleitores pode prejudicar mais as eleições do que os próprios candidatos em si. A diversidade, segundo Clinton, só é boa para quem tem conhecimento suficiente para respeitar. “Há quem diga que vivemos, atualmente, tribalismos radicais. Mas a verdade é que sempre vivemos em tribos, grupos restritos”, afirmou.
Para FHC, há uma necessidade de se discutir os problemas em conjunto, sem priorizar o individualismo. “As pessoas estão preocupadas com seus empregos, com suas crises financeiras. Enquanto não houver um pensamento coletivo, não poderemos realizar soluções para o país”, afirmou.
Ainda segundo o ex-presidente, as mudanças devem estar sempre acompanhadas de valores comuns. “O Brasil precisa voltar a crer nele próprio. Começou com o futebol, e na política tem que ser assim também. Acreditar na superação, aceitar o outro”. “O que mais me preocupa é a irracionalidade e o ódio, que não aceita a opinião do outro. Não é o que nós queremos”, afirmou.
Para Clinton, que presidiu os Estados Unidos entre 1993 e 2001, as soluções estão na divisão das responsabilidades dos papeis de uma sociedade. “A democracia reúne maiorias, e ao mesmo tempo indivíduos. Por isso é importante dizer que a mudança é algo que faremos juntos, porque parece ser a melhor opção”. Embora os dois presidentes tenham sido eleitos sob regimes democráticos, foi unânime a opinião de que a crise da democracia é uma realidade. Para FHC, que governou o país entre 1995 e 2002, o atual momento brasileiro é mais um exemplo da crise de um regime político, que precisa passar por adaptações.
“Se quisermos uma democracia mais verdadeira, temos que mexer no sistema eleitoral do país. E para fazer isso, é preciso que o presidente eleito proponha ações logo no início do mandato”, afirmou. A população, segundo ele, tem que ser informada, e participar do processo. “Temos que explicar o que vai ser feito, ganhar o povo, para que o deputado seja constrangido a votar a favor. Além disso, é necessário formar opinião, através da internet, redes sociais, Twitter. Acho que dá para fazer, o sistema está cheio de distorções. O representante está distante do eleitor, e quebrou a confiança. Essa é a tarefa futura. Da para fazer se tivermos paciência e persistência, dá para acontecer”.
Enquanto a situação política do Brasil se resolverá em instâncias mais estruturais, a dos Estados Unidos ocorrerá, segundo Clinton, através da movimentação da sociedade. “Somos abençoados porque temos jovens com diferentes backgrounds que querem mudar as coisas”, afirmou. O ex-presidente, que preferiu não citar o atual presidente Donald Trump, ou as ações políticas do atual governo, proferiu sutis afirmações, ressaltando que “em toda democracia, as decisões devem ser tomadas por uma sociedade cidadã”.
Menos sutil foi sua opinião sobre a guerra comercial travada entre os Estados Unidos e a China. A troca de tarifas e sobretaxas sobre importações de produtos mútuos já somam 200 bilhões de dólares, e estima-se que praticamente todos os produtos estejam sobretaxados.
Para Clinton, os Estados Unidos poderão perder mais do que ganhar com esta batalha, no futuro. “Deveríamos priorizar uma parceria, com troca de conhecimento e de tecnologias. Mas não estamos fazendo isso. Não vamos poder suportar as consequências, e vamos perder o poder para outros. Espero que isso seja temporário. ” A crítica, porém, foi amenizada pela defesa de que, de fato, os Estados unidos vivem um período de prosperidade. Infelizmente, neste ponto Fernando Henrique não tinha como concordar.