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Bilionário troca São Paulo por Roraima para ajudar migrantes venezuelanos

Dono de um conglomerado de mais de 20 empresas, Wizard defende como solução transferir os migrantes para outros estados para aumentar suas oportunidades

Carlos Wizard Martins: Bilionário assume missão de um ano em Roraima para ajudar imigrantes venezuelanos por meio de uma rede de conexões com empresas pelo país (MIGUEL SCHINCARIOL/AFP)

Carlos Wizard Martins: Bilionário assume missão de um ano em Roraima para ajudar imigrantes venezuelanos por meio de uma rede de conexões com empresas pelo país (MIGUEL SCHINCARIOL/AFP)

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AFP

Publicado em 11 de julho de 2019 às 13h18.

Para os brasileiros, Carlos Wizard Martins é um empresário "self-made", que entrou para o clube da Forbes em 2014, mas os migrantes venezuelanos que ele ajuda no Brasil veem neste bilionário algo mais valioso: uma chance de recomeçar.

Martins, de 62 anos, e quase aposentado dos negócios, mudou-se em agosto de 2018 com a mulher de São Paulo para Boa Vista, capital do estado de Roraima, na fronteira com a Venezuela, para cumprir uma missão da igreja mórmon Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que frequenta desde a adolescência em Curitiba, onde nasceu.

Mais velho de sete filhos de um motorista e uma costureira, ele sentiu na própria pele o que é chegar sem nada a outro país quando optou ir viver dois anos nos Estados Unidos aos 17. Mas ele nunca havia administrado uma rede de apoio migratório. "Muitas vezes eu me sinto como um funcionário de 'call center'", diz, sorrindo e mostrando seu WhatsApp, que centraliza a rede de ação que coordena.

O Brasil, que não era destino comum para os venezuelanos, se tornou atraente pela fronteira terrestre entre os dois países e a flexibilização dos trâmites para o migrante se legalizar.

Desde 2016, mais de 100 mil venezuelanos chegaram ao Brasil, transformando Pacaraima e Boa Vista, as cidades mais próximas da fronteira, encravadas no norte do país. Treze refúgios abrigam ali quase 7 mil migrantes, enquanto outros milhares dormem nas ruas.

"Sem gastar um centavo"

Martins, dono de um conglomerado de mais de 20 empresas, defende como solução transferir estes migrantes para outros estados para aumentar suas oportunidades e evitar a sobrecarga de Roraima.

A Operação Acolhida, do governo brasileiro, interiorizou 8.755 venezuelanos desde fevereiro de 2018. Martins e sua rede de voluntários, outros 3 mil desde agosto do mesmo ano. "Fizemos sem gastar um real", afirma.

Para acelerar o processo, ao chegar fechou um acordo para usar os assentos vazios das três companhias aéreas que voam a partir de Boa Vista.

Como se montasse um quebra-cabeças social, Martins analisa o perfil de cada família e a relocaliza graças à sua rede de voluntários que oferece apoio até que os migrantes consigam um emprego. Em 90% dos casos, isto acontece em 60 dias, diz.

Assistencialismo: diferença cultural

O empresário, que fez grande parte de sua fortuna com a venda de sua rede de cursos de inglês, diz ter recebido uma lição de humildade nesta missão, passando de ser o centro das atenções a ser mais um. Ele passa despercebido pelas ruas de Boa Vista e é identificado pelos venezuelanos a quem ajuda como "o irmão Carlos".

"É um homem muito generoso, impressiona como é capaz de te fazer sentir que tudo vai ficar bem", diz Alfredo Muñoz, ex-segurança de Caracas, que chegou ao Brasil com esposa e dois filhos e agora está em São Paulo, graças à rede de Martins. Muñoz ainda não conseguiu trabalho, mas tem documentos e mora em um apartamento de um quarto graças à ajuda da igreja.

Martins insiste em que a interiorização não pode ter uma visão assistencialista, um conceito que ele vê arraigado nos venezuelanos aos quais ajuda, tanto que é uma diferença cultural. "Temos uma casa de apoio, onde os migrantes ficam alguns dias. O venezuelano nunca apaga a luz porque eles não pagavam mais a luz em seu país, então não vê o custo; é o mesmo com a água ou o gás, temos que explicar a eles (...) A Venezuela é um assistencialismo total", diz.

Martins visitou 45 países, mas nunca pôs os pés na Venezuela. "Nem na fronteira", diz, rindo.

Mais sério, diz ser criticado diariamente por ajudar os venezuelanos e não os brasileiros pobres. Mas ele replica: "Você não pode perder o foco. O pobre sempre existiu e sempre vai existir, mas o refugiado está vindo sem nada, com a roupa do corpo (...) É uma situação muito mais vulnerável".

A missão de Martins termina em junho de 2020. A um ano dessa meta, se diz satisfeito, mas para aumentar a escala da sua rede, acaba de criar em Brasília uma frente religiosa. "Se uma igreja consegue acolher três mil pessoas, se eu tiver dez igrejas, esvazio os abrigos".

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