Tombini vai comandar oito reuniões do Copom em 2011 - a primeira já neste mês (Divulgação/Ordem dos Economistas do Brasil)
Da Redação
Publicado em 7 de janeiro de 2011 às 15h37.
São Paulo - A alta de 5,91% na inflação oficial em 2010 ficou longe do centro da meta, que era de 4,5%, mas permaneceu dentro da banda de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Do ponto de vista técnico, portanto, o Banco Central cumpriu a sua missão, mas sem louvor. Sob a ótica do consumidor, o preço do “pão nosso de cada dia” assustou, principalmente se o sanduíche tinha carne.
O item alimentação do IPCA cresceu 10,39% no ano passado, impulsionado por alta nos preços de commodities agrícolas no mercado internacional e por problemas climáticos no Brasil e no mundo. Tendo como pano de fundo o aumento de gastos públicos pelos governos federal, estaduais e municipais em ano eleitoral, teria faltado mais rigor do Banco Central ou não se combate preço de alimentos (o tal “feijãozinho” do Mantega) com taxa de juros?
O Sistema de Metas de Inflação, criado em 1999, pressupõe um alvo determinado pelo Conselho Monetário Nacional, que é formado pelo presidente do Banco Central e pelos ministros da Fazenda e do Planejamento. A partir daí, cabe aos integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central calibrar a taxa de juros com o objetivo de cumprir a meta estabelecida, que pode ter uma margem de tolerância.
Quando a inflação estoura a meta, o presidente do Banco Central precisa explicar, por meio de uma “Carta Aberta” ao ministro da Fazenda, os motivos do descumprimento, bem como as providências e o prazo para o retorno da taxa de inflação aos limites estabelecidos. Isso já aconteceu três vezes: em 2001, quando o IPCA acumulou alta de 7,67% (o teto da meta era de 6%); em 2002, quando foi registrada a maior inflação da década: 12,53% (o teto da meta era de 6,5%); e em 2003, quando a inflação oficial atingiu 9,30% (o teto da meta era de 6,5%).
Vários especialistas apontam que a inflação não está mais restrita à alimentação. A tabela de preços do setor de serviços, por exemplo, já reflete o aumento da renda da população e a queda do desemprego. Novamente a pergunta: falta rigor do Banco Central ou não se combate corte de cabelo com taxa de juros?
Por outro lado, os preços de produtos industriais - esses, sim, indiscutivelmente dependentes de crédito e, portanto, sensíveis à taxa de juros - não pesaram no bolso do consumidor. Nesse caso, faz sentido elevar a Selic agora em 2011?
Na inexata ciência econômica, não há certo ou errado. Há opiniões, que bem fundamentadas, devem ser respeitadas. Ganha força, no entanto, a percepção de que tão importante quanto monitorar a inflação é controlar as expectativas - essas bastante influenciadas pelos juros. Se o dono de uma livraria acha que inflação vai subir muito, ele pode se antecipar e reajustar os livros para “proteger” o seu estoque. É o fantasma da indexação que não sai da vida econômica dos brasileiros.
Embora não tenha o mesmo peso como no passado, o IGP-M de 11,32% em 2010 é um complicador a mais nesse ano - os inquilinos que o digam. Sem falar no reajuste de 11% na tarifa de ônibus em São Paulo, no aumento das mensalidades escolares etc. Haja taxa de juros para segurar as expectativas inflacionárias nesse início de ano... Nos dias 18 e 19 de janeiro, acontece o primeiro teste de Alexandre Tombini no comando do Copom.
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