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Bastidores: pauta ambiental, esvaziamento da COP30 e tarifaço de Trump preocupam Planalto

Primeiras medidas da administração do presidente dos Estados Unidos preocupam o governo brasileiro que ainda avalia os impactos para o país e o mundo

Palácio do Planalto: governo teme que política econômica de Trump mantenha o preço do dólar alto e pressione a inflação (Leandro Fonseca/Exame)

Palácio do Planalto: governo teme que política econômica de Trump mantenha o preço do dólar alto e pressione a inflação (Leandro Fonseca/Exame)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 17h24.

Última atualização em 21 de janeiro de 2025 às 17h45.

A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, após o presidente Donald Trump assinar um decreto com a decisão e cumprir promessa de campanha, era dada como certa pelo governo brasileiro. Mas o temores e efeitos práticos da medida no Brasil e no mundo são grande fonte de preocupação no Palácio do Planalto.

Como consequências imediatas, auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmaram reservadamente à EXAME que é esperado um retrocesso na agenda de transição para uma economia de baixo carbono e há o temor de esvaziamento da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada em novembro, em Belém. Apesar do risco, a ordem é para "turbinar" o evento.

O governo federal e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), têm feito um esforço de comunicação para manter o evento e agenda climática na pauta global. Barbalho, inclusive está em Davos, a Suíça, e detalhou algumas medidas tomadas para acomodar os 60 mil visitantes esperados.

Entretanto, auxiliares de Lula reconhecem que sem os Estados Unidos, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, a pauta global de transição ecológica perde força. “A pauta ambiental do mundo está em risco”, disse um auxiliar de Lula

Como mostrou a EXAME, os planos do governo para a COP30 preveem três grandes temas centrais: Fundo para as Florestas Tropicais para Sempre, a Taxonomia Sustentável Brasileira (TSB) e fomentar a integração dos mercados globais de carbono por meio de coalizão de países.

Efeitos do tarifaço ainda são aguardados

Para além da pauta climática, as preocupações de quem trabalha no Palácio do Planalto e na equipe econômica têm relação com um eventual tarifaço prometido por Trump. Por ora, auxiliares do presidente não trabalham com a hipóteses de tarifas sobre produtos brasileiros. No ano passado, o Brasil teve recorde de exportações para o país, somando US$ 40,3 bilhões. Os volumes exportados chegaram ao máximo já registrado (40,7 milhões de toneladas embarcadas), quase 10% acima do registrado em 2023.

O temor maior entre palacianos é de que um possível aumento das tarifas de importação tenha impacto direto na inflação da maior economia do mundo e interrompa o processo de redução de juros nos Estados Unidos. No mercado, as apostas são de que as tarifas efetivas devem subir de 14% para 34%, em média, sobre produtos da China e de 3% para 4% para os produtos da Europa — o que favorece um cenário de alta da inflação.

Com um freio no corte de juros dos Estados Unidos, a tendência é de que o dólar continue em patamares elevados, o que pressiona os preços no Brasil e no resto do mundo. No caso brasileiro, o custo dos alimentos é uma preocupação de Lula, vocalizada na reunião ministerial da última segunda-feira, 20. A equipe econômica, entretanto, resiste a medidas intervencionistas que possam afetar a credibilidade da política econômica do país.

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