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Bancada evangélica divulga manifesto contra "ideologia de gênero"

Bancada, à qual pertencia Jair Bolsonaro (PSL), é uma das mais influentes do Congresso e deve ter 180 membros a partir de 2019

Congresso: Frente Parlamentar Evangélica divulgou um manifesto em que descreve propostas e prioridades de sua bancada para os próximos anos (Adriano Machado/Reuters)

Congresso: Frente Parlamentar Evangélica divulgou um manifesto em que descreve propostas e prioridades de sua bancada para os próximos anos (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de novembro de 2018 às 08h38.

São Paulo - A Frente Parlamentar Evangélica divulgou um manifesto em que descreve propostas e prioridades de sua bancada para os próximos anos no Congresso. Entre os principais pontos, estão o combate ao "democratismo comunista" e à "ideologia de gênero" na escola, "punindo severamente todos que atentem contra a inocência infantil".

Segundo o documento de 60 páginas, lançado no dia 24, "a instrumentalização das escolas e universidades públicas a serviço de ideologias totalitárias e ditaduras comunistas envenenou a alma e o espírito das últimas gerações, e destruiu a qualidade de ensino".

Intitulado O Brasil para os Brasileiros, o manifesto traz propostas da frente evangélica para quatro grandes temas da administração pública: modernização do Estado, segurança jurídica, segurança fiscal e "revolução na educação". A bancada, à qual pertencia o deputado federal e agora presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), é uma das mais influentes do Congresso e deve ter 180 membros a partir de 2019, diz o documento.

O manifesto condena o "uso político-partidário das escolas e universidades públicas", que, segundo os parlamentares, "se tornaram instrumentos ideológicos que preparam os jovens para a Revolução Comunista, para a ditadura totalitária a exemplo da União Soviética e demais regimes sanguinários". Para reverter isso, o documento propõe "valorizar e incentivar o mérito em todo o sistema educacional nacional".

Em linha com o manifesto evangélico, o programa de Bolsonaro afirma que "um dos maiores males atuais (na Educação) é a forte doutrinação".

"Estão falando de uma coisa que não existe", diz o educador Carlos Cury, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). "É um manifesto oco, cheio de afirmações que carecem de qualquer tipo de comprovação. Pintam as escolas como um antro de subversão comunista. De onde tiraram isso?"

"O documento tem uma coloração ideológica muito forte e evidente", diz Nelio Bizzo, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). As propostas apresentadas, segundo ele, "destoam de tudo o que se tem discutido nas revistas especializadas sobre educação nos últimos 30 anos".

O manifesto faz críticas pesadas à chamada "ideologia de gênero", que "desvia a escola das suas atribuições normais e investe na subversão de todos os valores e princípios da civilização". "Será necessária uma campanha ininterrupta de combate à sexualização e erotização das crianças e adolescentes em todo o Brasil, utilizando-se todos os meios possíveis, e punindo severamente todos que atentarem contra a inocência infantil", diz o texto.

A defesa da Escola sem Partido e o combate às discussões de gênero também foram bandeiras de Bolsonaro. O líder da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Hidezaku Takayama (PSC), foi procurado pela reportagem, mas não respondeu.

Ensino superior

O manifesto cita dados de estudo do Banco Mundial, segundo o qual um aluno de universidade pública custa até três vezes mais do que um aluno de instituição privada, e defende que seja feita uma "rigorosa auditoria independente" dos programas de apoio do Ministério da Educação (MEC) ao ensino superior e técnico - Prouni, Fies, Sisu e Pronatec.

Ainda há críticas à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do MEC, dizendo que ela faz "repressão aos professores" e fere a autonomia universitária. Procurado, o órgão disse que "não pode se manifestar sobre alegações subjetivas não fundamentadas em fatos". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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