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Bancada evangélica critica o governo Bolsonaro

Para Feliciano, por exemplo, "a comunicação [do governo] está péssima"

Jair Bolsonaro: presidente lança mão de outra estratégia para tentar agradar ao grupo de parlamentares (Adriano Machado/Reuters)

Jair Bolsonaro: presidente lança mão de outra estratégia para tentar agradar ao grupo de parlamentares (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de março de 2019 às 09h06.

Última atualização em 9 de março de 2019 às 09h08.

Brasília - Descontente com a falta de interlocução com o Palácio do Planalto e sem espaço na Esplanada, a bancada evangélica afinou o discurso e decidiu votar fechada com o governo apenas nas pautas relativas a temas de costumes. Deputados eleitos com apoio das igrejas evangélicas já não poupam, inclusive, o presidente Jair Bolsonaro, que ajudaram a eleger, de críticas públicas nas redes sociais.

O deputado federal Marco Feliciano (Podemos-SP) usou o Twitter para mandar um recado. "Vocês não pediram minha opinião, mas deixo aqui humildemente a mesma. A comunicação está péssima", escreveu. Emendando um apelo: "Quando o governo resolve governar sozinho, se torna um gigante com pés de barros. O que adianta ter a estrutura que tem se o alicerce é frágil? O presidente tem que cimentar os pés. E isso se faz chamando as bancadas para conversar".

O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) disse que, "ideologicamente, jamais" a bancada irá "sabotar o governo", mas alertou que "política se faz com diálogo ou cada um vai cuidar do seu mandato". "A bancada nunca teve espaço, mas agora está pior. Ele (o presidente) só dialoga com os militares e com os filhos." Sóstenes diz que a falta de interlocução terá reflexo nas votações. "Matérias como a da Previdência, sem diálogo, ninguém coloca o dedo", avisou.

A mais recente baixa dentro do governo foi a exoneração de Pablo Tatim, ex-subchefe de Ações Governamentais, cuja indicação foi referendada pela frente evangélica. A exoneração saiu nesta sexta-feira, 8, no Diário Oficial da União. Ele foi coordenador jurídico do gabinete de transição de Bolsonaro e, no governo, trabalhava com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Para agradar evangélicos, Bolsonaro usa discurso moral

Sem conseguir saciar o apetite da bancada evangélica com cargos, Bolsonaro lança mão de outra estratégia para tentar agradar ao grupo de parlamentares: o discurso moral. Em 67 dias, foram inúmeras as demonstrações do governo de que o tom conservador nos costumes terá prioridade.

A prova mais recente deste comportamento está nas declarações do presidente de quinta-feira, quando criticou o teor da Caderneta de Saúde do Adolescente. Lançada em 2008, ela traz informações sobre métodos de prevenção da gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, além de abordar a transformação do corpo e de alertar para a necessidade da vacinação. O presidente deixou claro que irá determinar a mudança no conteúdo, para que ilustrações e trechos sobre prevenção da gravidez , considerado por ele inapropriado para determinadas faixas etárias, sejam suprimidos.

Ainda na primeira semana de governo, uma cartilha dirigida a homens trans foi retirada de circulação. O material voltou poucos dias depois, mas sem ilustrações consideradas polêmicas por grupos conservadores. Também para evitar desagradar a "famílias", o Ministério da Saúde adotou um tom "genérico" na campanha de carnaval.

No Ministério da Educação, o tom se repete. O ministro Ricardo Velez já disse que o programa de Saúde nas Escolas, que trata também de educação sexual, deverá ser "atualizado" para se adequar aos padrões das "famílias". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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