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Autoteste de covid-19: farmácias estimam vendas em março e calculam preço

Em entrevista à EXAME, CEO da Abrafarma avalia como os custos com importação de insumos e logística vão impactar no preço dos autotestes de covid-19

Teste de diagnóstico de covid-19. (Oliver Helbig/Getty Images)

Teste de diagnóstico de covid-19. (Oliver Helbig/Getty Images)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 9 de fevereiro de 2022 às 08h30.

Última atualização em 9 de fevereiro de 2022 às 11h08.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já recebeu mais de 50 pedidos de registro de autotestes de covid-19 desde que autorizou o uso no país, no fim de janeiro. Até esta quarta-feira, 9 de fevereiro, nove foram negados devido à falta de documentos, fornecidos pelos laboratórios interessados em comercializar os produtos no Brasil. Por enquanto, nenhum teve o aval concedido. 

A expectativa das farmácias e drogarias brasileiras para iniciar as vendas dos autotestes é grande. Desde o início da pandemia, o setor realizou mais de 15 milhões de testes. Fora do Brasil, os autotestes são uma realidade há muito tempo. Por aqui, algumas incógnitas ainda pairam sobre quando efetivamente a comercialização deve começar. 

Para Sérgio Mena Barreto, CEO da Abrafarma, a grande questão não é só o aval da Anvisa, mas como os custos de importação dos insumos (dolarizados) e de logística vão impactar no valor que estará nas gôndolas.

“Precisamos receber algumas propostas para entender qual é economicamente mais viável. Nós estamos ainda no escuro porque esperamos o registro”, disse ele em entrevista exclusiva à EXAME. 

A entidade representa as maiores redes de farmácias do país. Em números de lojas, são 10% do mercado - com 8.900 lojas - mas em faturamento, corresponde a quase metade das vendas, com 64 bilhões de reais em faturamento anual.

Sérgio Mena Barreto estima que a partir de março os autotestes devem estar disponíveis para a população a um preço médio entre 50 e 60 reais, para ficar abaixo do que já é comercializado hoje em dia. Veja os principais trechos da conversa dele com a reportagem de EXAME.

Como está a expectativa do setor para começar a vender os autotestes de covid-19?

Ainda dependemos do registro na Anvisa e a agência é muito criteriosa na avaliação. Só para se ter uma ideia do mercado de testes, temos 700 aprovados, mas na prática nós usamos de dez a 15, no máximo. Nem todos conseguem ter uma escala de produção ou de abastecer o mercado. A partir do momento que tiver o registro, aí entenderemos o potencial. Precisamos receber algumas propostas para entender qual é economicamente mais viável. Nós estamos ainda no escuro porque esperamos o registro.

Mas o setor imagina algum prazo viável para ter os autotestes disponíveis nas farmácias?

Acho que fevereiro é muito prematuro. Há o desembaraço aduaneiro, por exemplo, porque todos os kits são importados. Só há produção nacional do cartucho, a embalagem. O kit, com reagente, é importado. Não se montou uma fábrica para fazer teste de covid-19 no Brasil. Depois de importar, a indústria precisa embalar, além de toda a cadeia de logística para distribuir. Isso tudo só acontece depois que a fábrica tiver o registro na Anvisa. Continuo batendo na lógica de que março é um bom prazo para termos os autotestes em farmácias. Tem fornecedor que tem falando para mim que é final de março, mas eu sou otimista para dizer que vai ser no começo do mês.

E já se fala em preço? Qual seria um valor competitivo com os testes que já são vendidos?

Nos Estados Unidos, uma caixa com dois testes custa entre 17 e 25 dólares. Ou seja, cada teste custa entre 8 e 12 dólares, o que equivale a 50 e 70 reais, respectivamente, em valores aproximados. Para o Brasil, 70 reais é um valor alto porque a gente cobra 90 reais no teste de farmácia de antígeno. Neste preço há ainda o serviço do farmacêutico, o uso da sala para fazer o procedimento, o custo do laudo. Se o preço ficar quase igual, não é viável. Mas já temos parceiros e propostas que precisamos ver qual vai poder ser atendido. Eu acredito que o preço deve ficar entre 50 e 60 reais.  

Há uma preocupação muito grande com as pessoas interpretando os autotestes ou mesmo fazendo da maneira adequada. O setor está pensando em fazer algo neste sentido? De orientação além da venda?

Nós já temos mais de 15 milhões de testes de covid-19 feitos desde o início da pandemia. Então nossa equipe está mais que qualificada para fazer isso. É verdade que não se faz teste em todas as farmácias. Das 8.900 lojas que a Abrafarma representa, há testes em 4.500. As farmácias em que não há venda de testes vamos fazer um treinamento com os profissionais para explicar às pessoas como usar, mas o procedimento é muito simples.

Tem alguma recomendação que deve ser reforçada?

É preciso entender que esse teste é algo complementar. Ele não substitui o teste rápido ou os outros testes feitos em farmácias e laboratórios. Não pode ser usado antes de embarcar em um voo internacional, nem para atestado de trabalho, que são duas situações em que se usa muito os testes de covid-19. Ele é interessante para a pessoa que vai ver um parente próximo, mais idoso, e quer saber se está contaminado, por exemplo. Ou mesmo descartar outras doenças respiratórios que têm sintomas muito parecidos.

Após o pico de buscas por testes de covid-19 entre o fim do ano passado e o começo deste ano, como está hoje a busca pela testagem?

Chegamos a fazer um pico de 740 mil testes por semana. Eu jamais achei que a gente fosse chegar a isso. Na última semana foram 650 mil. Acho que o movimento já está mais tranquilo. No pico, nunca chegou a faltar teste. O que a gente tinha era uma farmácia que conseguia fazer no máximo 30 testes por dia e tinha 50 pessoas querendo fazer teste. A questão é que o farmacêutico precisa de tempo para fazer o teste, esperar o reagente, inserir o laudo nos controles sanitários, e tudo isso leva tempo. O que ocorreu foi uma demanda muito acima da capacidade instalada, não de falta de testes.

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