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Áudios mostram caráter golpista de impeachment, diz Dilma

A presidente disse que gravações envolvendo Romero Jucá deixam "evidente o caráter golpista e conspiratório que caracteriza o processo de impeachment"


	A presidente Dilma Rousseff: "agora mais do que nunca está claro o caráter golpista desse processo de impeachment"
 (EVARISTO SA/AFP)

A presidente Dilma Rousseff: "agora mais do que nunca está claro o caráter golpista desse processo de impeachment" (EVARISTO SA/AFP)

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Da Redação

Publicado em 23 de maio de 2016 às 22h05.

Brasília - Em sua segunda agenda pública depois da abertura do processo de impeachment, a presidente afastada Dilma Rousseff afirmou que as gravações envolvendo o agora ministro afastado Romero Jucá deixam "evidente o caráter golpista e conspiratório que caracteriza o processo de impeachment".

"Agora mais do que nunca está claro o caráter golpista desse processo de impeachment", afirmou na abertura do IV Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil, na capital federal.

Jucá solicitou nesta segunda, 23, o afastamento de seu cargo, "até que sejam esclarecidas as informações divulgadas pela imprensa". A saída de Jucá foi consequência das conversas gravadas e divulgadas pela Folha de S.Paulo, entre ele e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, em que Jucá supostamente fala da tentativa de se barrar a Operação Lava Jato com o afastamento de Dilma Rousseff da presidência da República.

Dilma disse que a gravação demonstra a necessidade de afastá-la do cargo para interromper as investigações da Lava Jato e que esse sempre foi o objetivo do grupo do vice-presidente Michel Temer. "Se alguém ainda não tinha certeza de que há um golpe em curso, baseado no desvio de poder, as informações de Jucá sobre reais objetivos do impeachment eliminaram qualquer duvida", afirmou.

A presidente afastada disse que o caráter golpista ficou "escancarado" na gravação. "Agora um dos principais articuladores (do impeachment) confessa que eles são golpistas", reforçou. Dilma cita ainda um trecho da conversa de Jucá em que ele diz que o presidente interino é o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. "É uma frase muita pesada", diz. "Hoje, mesmo afastado da presidência, Eduardo Cunha ainda dá as cartas", completou.

A presidente afastada voltou a citar a dificuldades com o Congresso para aprovar medidas econômicas, disse que ela quer que o País volte a crescer e que Cunha é o responsável por impedir "sistematicamente" as comissões do Congresso de funcionarem. "Quero destravar a economia."

"O ex-presidente da Câmara impediu que houvesse indicação para essas comissões e impediu também que tramitasse pela Câmara qualquer medida que melhorasse a economia."

Ao dizer que foi afastada provisoriamente, Dilma disse que, em 2014, o Brasil reelegeu uma mulher para executar um programa progressista e para montar um ministério "que tivesse a cara e as cores do Brasil". "Os brasileiros não elegeram um governo só de homens, brancos, ricos e velhos", afirmou.

Medidas do governo Temer

Dilma criticou o governo interno de Temer, disse que em pouco mais de uma semana ele anunciou medidas que contrariam programa que foi aprovado e teve, muitas vezes, que recuar em decisões. "O presidente provisório não foi autorizado pelo povo a mexer em programas sociais para diminuí-los. Ele não foi autorizado pelo povo", disse. "Ninguém deu a ele o direito de ser neoliberal na economia e conservador em tudo mais."

Aos agricultores familiares, Dilma classificou a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário "como uma das mais graves" e afirmou que é preciso desfazer as iniciativas do governo interino. "Vamos ficar atentos para desfazer essas iniciativas desse governo provisório e interino", afirmou.

A presidente afastada afirmou ainda que o governo Temer não conhece a realidade do campo brasileiro. "É lamentável esse desprezo pela realidade rural, por esse desconhecimento da realidade", disse. "Nós temos memória e quem tem memória tem a capacidade de lutar. Sabemos que são esses que não olham e não dão importância à agricultura familiar", completou.

Sem citar especificamente a retirada pela polícia de manifestantes em frente a casa do Temer em São Paulo, Dilma rechaçou a ideia de que os movimentos sociais devem ser controlados e afirmou ser contrária a governos autoritários que acham que é preciso tratar movimentos como "questão de polícia". "Tenho muito orgulho de jamais ter me relacionado com movimentos sociais de forma autoritária e arbitrária", disse.

Dilma disse ainda que tem "grande temor" pelo que "eles" podem fazer. "Estamos enfrentando um governo ilegítimo que em uma semana já fez muitas coisas de forma incorreta", afirmou. No fim do seu discurso, Dilma disse que continuará lutando em respeito ao voto dos brasileiros. "Estarei nas ruas, nos campos e nas cidades, em paz, mas firme em minhas convicções e clara no meu objetivo", disse.

No evento, organizado pela Federação Nacional do dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), órgão ligado a CUT, a petista foi recebida aos gritos de "Dilma, guerreira do povo brasileiro". A secretária nacional de formação CUT, Rosane Bertotti, fez um discurso dizendo que o governo "golpista de Temer não me representa". Ao entoar gritos de "Fora Temer", do palco, Dilma apenas sorria para a plateia.

Na sexta-feira, Dilma participou de um evento com blogueiros em Belo Horizonte. Hoje, apesar de escolher também um público que costuma ter poder de mobilização, o auditório no Parque da Cidade, em Brasília, ficou com muitas cadeiras vazias ao fundo. Cerca de 700 pessoas ouviram o discurso de Dilma.

A presidente afastada chegou acompanhada dos ex-ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Agrário), Eleonora Menicucci (Política para Mulheres) e Carlos Gabas (Aviação Civil).

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