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Da Redação
Publicado em 2 de julho de 2013 às 21h23.
Rio de Janeiro - Um ato ecumênico na entrada do Complexo da Maré, na zona norte da capital fluminense, promovido por várias organizações que atuam na comunidade, lembrou as mortes de dez pessoas na ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Rio de Janeiro, na noite da segunda-feira (24), na favela Nova Holanda.
A manifestação pacífica interrompeu, durante 1 hora e 20 minutos, o trânsito na pista lateral de subida da Avenida Brasil, principal via de ligação entre o centro e as zonas norte e oeste da cidade. Os manifestantes atravessaram um carro de som na via e do alto pediam paz para a comunidade. "A nossa manifestação ecumênica é de paz", disse o pastor Marcos. Em, seguida todos rezaram o Pai Nosso.
A fotógrafa Tatiana Altberg que desenvolve há dez anos, com adolescentes da comunidade, o projeto Mão na Lata, que mistura fotografia com literatura, reuniu os integrantes do projeto com os do projeto Marecatu, de percussão, e fez uma apresentação durante o ato. Ela disse que o impacto provocado pela operação do Bope foi muito grande entre os moradores. “As pessoas estão muito tristes. Já está na hora da polícia entender que não é essa a maneira de se relacionar com a população”, declarou.
Parte dos manifestantes vestia camisetas pretas com a frase: “Estado que Mata, Nunca Mais. Na passarela próxima à entrada da Nova Holanda, faixas pediam paz na favela e apontavam uma atitude dos moradores: “Maré Resiste”.
O ator Enrique Diaz, que participou do protesto, explicou que estava ali por causa da violência cometida contra a comunidade. “Como agora está vindo um movimento de mudar o ponto de vista, mudar a relação viciada, que a polícia tem com a população de baixa renda, é importante que a gente venha aqui também para mostrar para estas pessoas que estamos irmanados e que somos todos iguais. Que ninguém tem o direito de baixar o pau, de sair arrebentando as pessoas sem motivo. As pessoas estão se manifestando pelo direito delas e ainda bem que estão”, disse.
Dayse que perdeu um parente em um confronto entre policiais e traficantes da favela disse que o ato era uma forma de dar voz aos mortos. “A voz dos mortos tem vez. É por isso que estamos aqui. Para dar voz aos nossos mortos que desceram à sepultura por essa polícia”, discursou.
A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional do Rio de Janeiro (OAB-RJ) estava representada por15 integrantes. O vice-presidente da comissão, Aderson Bussinger, disse que a ação que provocou as mortes na Nova Holanda não se justifica. Ele ressaltou que a OAB-RJ quer uma investigação independente do caso. “Pedimos uma investigação envolvendo vários órgãos para que não fique só no âmbito estadual”, declarou.
O comandante do 22º Batalhão da Polícia Militar, que atende a todo o Complexo da Maré, Rodrigo Sanglard, dise que foi montado um esquema com 70 policiais do batalhão espalhados ao longo da Avenida Brasil para dar segurança aos manifestantes e mais 30 do Batalhão de Vias Especiais para ajudar no controle do trânsito, além do Batalhão de Choque poderia ser acionado se houvesse um conflito de grande proporção.
Para o comandante, o trabalho da polícia é de ação e reação e depende de como se dá o combate quando as forças policiais entram na comunidade. “Lamentavelmente ocorreu a situação na semana passada, mas ela está sendo investigada e com certeza ela foi feita, por mais triste que seja, dentro de toda técnica operacional que tinha que ser aplicada”, disse o comandante Sanglard.
A Força Nacional de Segurança mandou para o local 36 policiais para dar apoio à Polícia Militar. “Nós estamos no Rio para colaborar com a segurança desde a Copa das Confederações”, disse o comandante da tropa, o capitão Evandro Bezerra da Silva.
No fim da manifestação, o diretor do Observatório de Favelas, organização não governamental que atua na Maré, Jaílson de Souza e Silva, ficou satisfeito com o resultado do ato ecumênico. “A gente está feliz por que foi um ato como a gente quer, sem violência, um ato pacífico. [A manifestação] contou com a contribuição da polícia, que cumpriu o papel dela, que é proteger o direito de nos manifestar. A gente está feliz por que falou em alto e bom som que a gente está cansado dessa política genocida do estado do governador Sérgio Cabral e do secretário de Segurança José Mariano Beltrame contra as favelas. Eles têm um discurso esquizofrênico. De um lado tem a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora], que eles dizem que humaniza a favela e de outro eles têm uma política de guerra nas favelas. Isso tem que acabar”, declarou.