Brasil

Assinei cheque de propina à campanha do PT, diz ex-gerente

Carlos Alberto Nogueira Ferreira afirmou que assinou dois cheques nominativos para as construtoras do cartel no valor total de R$ 14 milhões


	Humberto Costa: a propina teria sido destinada à campanha ao governo de Pernambuco, em 2006, do atual senador Humberto Costa
 (Moreira Mariz/Agência Senado)

Humberto Costa: a propina teria sido destinada à campanha ao governo de Pernambuco, em 2006, do atual senador Humberto Costa (Moreira Mariz/Agência Senado)

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Da Redação

Publicado em 27 de março de 2015 às 11h43.

Um ex-gerente aposentado da Petrobras é um novo personagem das investigações da Operação Lava Jato envolvendo o pagamento de propina para campanhas do PT.

Em uma declaração gravada no dia 15 de março - durante os protestos contra a corrupção e o governo Dilma Rousseff -, em Recife, Carlos Alberto Nogueira Ferreira afirmou que assinou dois cheques nominativos para as construtoras do cartel no valor total de R$ 14 milhões destinados à campanha ao governo de Pernambuco, em 2006, do atual senador Humberto Costa (PT-PE).

"Assinei um cheque de R$ 6 milhões nominativo a Schahin Construtora e outro cheque de R$ 8 milhões nominativo a Odebrecht. Esses R$ 14 milhões de reais em 2006 foram para a campanha do senhor Humberto Costa, candidato a governador de Pernambuco em 2006 e arrecadador financeiro do PT aqui", afirma Ferreira.

Ex-gerente da Petroquímica Suape, em Pernambuco - subsidiária da Petrobras, que fica ao lado da Refinaria Abreu e Lima -, Ferreira está aposentado e foi subordinado a Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Abastecimento da estatal que virou peça central da Lava Jato.

No vídeo que circulou na internet à partir do dia 16, Ferreira acusa ainda o empresário pernambucano Mário Beltrão de ser o PC Farias do senador petista - referência a Paulo César Farias, pivô do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992.

"Quem recebeu o dinheiro em nome de Humberto Costa foi o senhor Mário Beltrão. Ele é o amigo de infância de Humberto Costa, arrecadador financeiro dele. É o PC Farias do senador Humberto Costa", afirma Ferreira.

As declarações do ex-gerente vão servir no inquérito aberto por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar o recebimento de propina pelo senador, em sua campanha de 2010. Beltrão também é alvo desse inquérito.

Delator. Em sua delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa já havia apontado o envolvimento do senador com propina proveniente da unidade.

Segundo ele, a campanha do senador em 2010 recebeu R$ 1 milhão do esquema de propinas e corrupção na Petrobras.

O dinheiro foi solicitado pelo empresário Mário Barbosa Beltrão, amigo de infância do petista e presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco (Assimpra).

Paulo Roberto Costa afirmou que o dinheiro saiu da cota de 1% do PP - Partido Progressista que tinha o controle político da diretoria Abastecimento da estatal.

Segundo o delator, o PP decidiu que tinha que ajudar na candidatura de Humberto Costa, razão pela qual teria cedido parte de sua comissão. Paulo Roberto Costa afirmou ainda que, se não ajudasse, seria demitido.

Humberto Costa foi eleito em 2010, o primeiro senador pelo PT de Pernambuco. Antes, havia exercido cargo de secretário das Cidades de Pernambuco (2007 a 2010) no governo Eduardo Campos - depois de perder a disputa ao governo em 2006 - e foi ministro da Saúde no primeiro mandato de Lula, de janeiro de 2003 a julho de 2005.

Reação

O senador Humberto Costa entrou no Tribunal de Justiça de Pernambuco com um pedido para que o vídeo fosse retirado da internet.

A gravação circulou na internet à partir do dia 16. " Tão logo tomou conhecimento, por meio de um vídeo, da acusação criminosa feita contra a honra dele durante um ato de rua, o senador Humberto Costa (PT-PE) determinou aos seus advogados que buscassem a identificação do autor e o interpelassem judicialmente", informou a assessoria de imprensa do senador.

"O senador não conhece e jamais viu o homem que fala no vídeo", diz a nota.

O senador ressaltou ainda que "recebeu pouco mais de R$ 5 milhões para custeá-la e que, desse total, não houve qualquer doação por parte das construtoras Odebrecht e Schahin, como consta da sua prestação de contas, julgada e aprovada pela Justiça Eleitoral".

A Schahin informou, por meio de nota, que "não tem conhecimento dos fatos mencionados".

A Odebrecht, também por nota, disse que "não comentará ilações levantadas de forma questionável e sem qualquer fundamento".

Mário Beltrão não foi encontrado nesta quinta-feira, 26, para comentar o assunto. No ano passado, quando foi apontado pelo delator referente à campanha de 2010, o empresário informou que era "uma leviandade" a acusação.

"Eu sou um homem que preza a transparência e a honestidade. O dia em que eu mentir eu morro do coração. Humberto Costa é meu amigo de infância, mas nunca me pediu colaboração de campanha." Ele afirmou que "jamais pediu um centavo para Paulo Roberto".

Humberto Costa

Por meio de sua assessoria de imprensa, o senador Humberto Costa negou qualquer irregularidade. Leia íntegra da nota:

"Tão logo tomou conhecimento, por meio de um vídeo, da acusação criminosa feita contra a honra dele durante um ato de rua, o senador Humberto Costa (PT-PE) determinou aos seus advogados que buscassem a identificação do autor e o interpelassem judicialmente;

O senador não conhece e jamais viu o homem que fala no vídeo - gravado, reitere-se, no meio da rua, por não se sabe quem, com que interesse e em que condições;

Sobre a campanha ao Governo de Pernambuco, em 2006, o senador Humberto Costa - que não passou do 1º turno da disputa - ressalta que recebeu pouco mais de R$ 5 milhões para custeá-la e que, desse total, não houve qualquer doação por parte das construtoras Odebrecht e Schahin, como consta da sua prestação de contas, julgada e aprovada pela Justiça Eleitoral;

Nesse sentido, o senador Humberto Costa repudia de forma veemente as acusações criminosas feitas contra ele e, da mesma forma que acionou a Justiça para que elas sejam postas à prova ante as autoridades responsáveis, acredita que outras esferas de investigação poderão ajudar na elucidação dos fatos."

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