Marielle Franco: os investigadores já sabem “sem dúvida alguma” ter se tratado de um crime político (Ricardo Moraes/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2018 às 06h10.
Última atualização em 14 de junho de 2018 às 07h05.
O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, no centro do Rio Janeiro, completa três meses nesta quinta-feira ainda sem respostas. Temendo que as investigações diminuam durante o período de Copa do Mundo, que começa hoje, a Anistia Internacional organizou uma manifestação em frente ao Ministério Público do Rio (MPRJ) com a presença da viúva de Marielle, Mônica Benício.
O ato, realizado ontem, cobrou o empenho dos promotores no caso, considerado o mais difícil na história da Delegacia de Homicídios da Capital (DH). Após a manifestação, o procurador-geral do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem, se reuniu com os pais da vereadora, Benício e com representantes da Anistia Internacional.
Segundo o jornal O Globo, durante a reunião, Gussem afirmou que já foi criado um grupo específico para acompanhar os trabalhos da polícia. Ele também afirmou que os investigadores já sabem “sem dúvida alguma” ter se tratado de um crime político “para calar uma das maiores, se não a maior, representante de direitos humanos hoje em dia do nosso país. Tentaram calar a comunidade”, disse. Alguns vereadores já foram chamados para prestar depoimento.
Ainda de acordo com o jornal carioca, a apuração aponta que o assassinato de Marielle pode ter começado a ser planejado no ano passado. A suspeita se deve ao fato de assessores de Marielle terem relatado que perceberam alterações nas placas do teto da sala da vereadora, ao voltarem do recesso de fim de ano, no início de fevereiro. A hipótese dos investigadores é de que a vereadora estava sendo alvo de uma escuta clandestina em seu gabinete. O grampo teria sido retirado durante as férias, por isso as mudanças nas placas. Imagens do circuito interno do local reforçam a suspeita, já que mostram o momento em que um homem escalou o prédio, em fevereiro, diz o Globo.
O general interventor da Segurança do Rio, Walter Braga Netto, afirmou ontem que as apurações ainda estão na fase de “busca de provas”. Já o ministro da Segurança, Raul Jungmann, afirmou que a resolução do caso está levando aproximadamente o mesmo tempo que outros crimes de grande repercussão no Rio tomaram para serem solucionados — o que não é exatamente animador. Em entrevista à rádio CBN, ele citou como exemplos o caso do desaparecimento do pedreiro Amarildo, em 2013, e a execução da juíza Patrícia Acioli, em Niterói, em 2014.
Em nota pelos três meses da morte de Marielle e Anderson, a organização internacional Human Rights Watch afirma que o esclarecimento do crime deve ser uma prioridade e cobra atualizações regulares sobre os avanços da apuração e dos recursos investidos na solução do caso. “Não se trata de revelar informações sensíveis, mas expressar e demonstrar um compromisso inequívoco de identificar e prender os assassinos”, afirma a ONG.
O Brasil, não custa lembrar, é o país onde 60.000 pessoas morrem assassinadas todos os anos, e onde apenas 10% dos casos são solucionados pelos investigadores.