Brasil

As suspeitas que cercam Lula, alvo de ação da Lava Jato

Entre 2011 e 2014, empresas do ex-presidente teriam recebido R$ 30 milhões repassados por empreiteiras com participação já comprovada na Operação Lava Jato

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento em São Paulo em 31 de março de 2015. (REUTERS/Paulo Whitaker)

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento em São Paulo em 31 de março de 2015. (REUTERS/Paulo Whitaker)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 4 de março de 2016 às 16h00.

Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 15h13.

São Paulo – O pior pesadelo do Partido dos Trabalhadores (PT) começou às 6h da manhã desta sexta-feira (4) quando agentes da Polícia Federal entraram no apartamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Bernardo do Campo (SP). Eles empunhavam mandados de busca e apreensão e uma ordem de condução coercitiva endereçada ao ex-presidente.

O petista foi encaminhado ao Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, onde prestou depoimento aos investigadores da Operação Lava Jato das 8h ao meio-dia.

Em uma dura nota, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou que há evidências que Lula foi um dos “principais beneficiários” do esquema de corrupção na Petrobras. Veja, aqui, a íntegra da nota emitida pelo MPF.

“O esquema tem por objetivo final a compra de poder político, cujo principal beneficiário é o ex-presidente Lula e a atual presidente Dilma”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em coletiva de imprensa.

Segundo a procuradoria, as investigações são justamente para comprovar ou não da consciência do presidente sobre o esquema e seu papel.

As buscas de hoje visam a gerar provas para destrinchar os ganhos da LILS Palestras e o Instituto Lula, controladas pelo petista. Entre 2011 e 2014, ambas teriam recebido R$ 30 milhões, boa parte repassado por empreiteiras com participação já comprovada no âmbito da operação.

Esse dinheiro, segundo as suspeitas, pode se tratar de pagamentos de favorecimentos ilícitos em forma de lavagem de dinheiro.

De acordo com o procurador Carlos Fernando, cerca de 60% das doações ao Instituto Lula e 47% dos rendimentos com palestras foram feitas por Camargo Corrêa, Odebrecht, Queiroz Galvão, UTC, Andrade Gutierrez e OAS.

OAS e Odebrecht, além de serem grandes doadoras, seriam as responsáveis pelas altas cifras despendidas nas reformas no tríplex do Guarujá e do sítio em Atibaia. Pesa sobre ambos os imóveis também a suspeita de que se trata de pagamento de propina.

Outros repasses do Instituto Lula para duas empresas da família estão também sob suspeita de triangulação, já que não há uma atividade evidente e o dinheiro é proveniente das empreiteiras. Foram dois repasses: R$ 1 milhão e R$ 90 mil, segundo a procuradoria.

Sítio em Atibaia

Em nota divulgada na manhã desta sexta-feira (4), o Ministério Público Federal (MPF) diz que as apurações revelam que Lula adquiriu dois sítios em Atibaia (SP) em 2010 pelo valor de R$ 1,5 milhão de reais por meio dos sócios de Lulinha, Jonas Suassuna e Fernando Bittar.

A compra das propriedades, de acordo com investigações, foi formalizada no escritório do advogado e empresário Roberto Teixeira, padrinho do filho caçula de Lula, Fábio Luiz Lula da Silva. Posteriormente, as propriedades foram unificadas em um só imóvel.

Segundo o MPF, ao menos R$ 770 mil da reforma do imóvel e compra de móveis foram custeados de forma ilícita pela Odebrecht, pela OAS e por José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente preso na Lava Jato em novembro do ano passado.

Parte da reforma do sítio, inclusive, “foi paga em dinheiro vivo, uma das formas elementares de lavar dinheiro”, disse hoje o procurador Carlos Fernando.

A Polícia Federal investiga a participação de empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras na reforma do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP) – frequentado por Lula e sua família. Entre março 2012 e 11 de janeiro de 2016, o ex-presidente e parentes visitaram o imóvel 111 vezes, segundo cálculo da revista Época.

“Ademais, o ex-presidente determinou que parte de sua própria mudança, quando do fim do exercício da presidência, fosse entregue na sede dos sítios, para onde foi, com expressiva frequência, ao longo dos últimos anos”, afirma o MPF em nota.

O tríplex no Guarujá

O Ministério Público Federal (MPF) diz que há evidências de que o petista recebeu valores provenientes do esquema de corrupção na Petrobras por meio de um repasse disfarçado para um apartamento tríplex no Guarujá (SP).

Lula e a ex-primeira dama, Marisa Letícia, teriam escondido serem os reais donos do tríplex 164-A do Edifício Solaris, na Praia das Astúrias, no litoral de São Paulo.

Ao menos R$ 1 milhão teria sido repassado pela OAS por meio de reformas e móveis de luxo implantadas na propriedade. Apesar do petista negar a acusação, o MPF apurou que funcionários do apartamento confirmam o envolvimento de Lula e seus parentes com o imóvel.

Segundo a nota, foram encontradas mensagens no celular de Léo Pinheiro que apontam que os beneficiários da compra de R$ 170 mil em móveis para a cozinha do tríplex eram o ex-presidente e sua esposa.

Oficialmente, o tríplex ainda pertence à empreiteira.

A suspeita contra “Lulinha”

O filho de Lula, Fábio Luiz Lula da Silva, também é alvo da investigação da Polícia Federal na operação Aletheia, deflagrada nesta manhã.

O sócio de Lulinha, Jonas Leite Suassuna, é o dono (em papel) do sítio em Atibaia e também é alvo da operação de hoje. O empresário pode ter atuado como “laranja” do ex-presidente na compra da propriedade.

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