CÂMARA DOS DEPUTADOS: Liberação R$ 1,8 bilhão de emendas parlamentares ocorre durante negociação para aprovar reforma da Previdência na Câmara / Ueslei Marcelino / Reuters (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de setembro de 2016 às 06h21.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h35.
Na calada da noite, uma emenda de um antigo projeto aparece de supetão na pauta da Câmara. O efeito seria anistiar deputados acusados de caixa 2 na Operação Lava-Jato. A imensa maioria dos deputados não sabe de onde o projeto saiu, nem quem são seus defensores. Segundo Beto Mansur (PRB-SP), que presidiu a sessão, foi uma demanda dos líderes partidários – do PT, do PSDB, do centrão. Eles, obviamente, negam, assim como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que estava assumindo interinamente a presidência da República no dia da votação.
Passadas 36 horas, a tentativa de anistiar o caixa 2 segue envolta em mistério, mas traz uma certeza à tona: ao contrário da inteligência, a desfaçatez do Congresso não tem limites. A Câmara, como bem lembrou o ex-deputado Eduardo Cunha no dia em que foi cassado, tem 160 congressistas acusados por algum crime – boa parte deles justamente por caixa 2. “Não importa a pressão pública, o Congresso sempre vai dar um jeito de defender seus interesses”, diz um cientista político. “Pode ter certeza que outras tentativas serão feitas após as eleições municipais”.
Para o governo, os simples boatos de ter participado desta empreitada sorrateira são péssimos. Se foi surpreendido, o fato serve como uma sombria lembrança. Vai ser duro aprovar, com esse Congresso fisiológico, medidas importantes como a reforma política ou a cláusula de barreira. E mesmo medidas sobre as quais há mais consenso, como o limite de gastos públicos, podem ficar reféns dos oportunistas. Que, como se viu na noite de segunda-feira, não dão muita bola para limites.