Café: fatores climáticos contribuíram para uma queda dramática na produção neste ano (Fernando Moraes/VEJA)
Reuters
Publicado em 24 de julho de 2017 às 19h49.
Nova York/São Paulo - Produtores de café em algumas áreas do Brasil estão enfrentando a pior infestação por broca da história recente, uma vez que a proibição de um pesticida usado há 40 anos permitiu que o besouro se espalhasse, afetando a qualidade e a produtividade das plantações em importantes regiões.
Os danos por causa da broca - até 2013 controlada pelo pesticida endosulfan - agravam a situação dos cafezais, já que este ano é de bienalidade negativa, com produção menor.
Os produtores também enfrentam um clima adverso e a fadiga das plantas após uma colheita recorde. O governo brasileiro já esperava uma queda de 11 por cento na produção de café neste ano, antes mesmo de o problema com a praga surgir.
A infestação pela broca apareceu em áreas que respondem por cerca de 40 por cento da safra brasileira, com danos estimados de 5 por cento a 30 por cento dos grãos de café verde, segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Isso afetará a qualidade de grãos de arábica produzidos na região e vendidos a companhias como Starbucks e Nestlé, disse Thomas Hojo, proprietário do Grupo Hojo, cuja família cuida de 1.300 hectares de café e possui uma unidade de torrefação.
"A quantidade de café de menor qualidade será maior neste ano na comparação com os anos passados", disse um grande importador dos Estados Unidos.
A Epamig já está buscando reverter essa situação por meio de pesquisa, disse o entomologista Julio Cesar de Souza.
Segundo ele, infestações no sul de Minas são raras -a última havia sido em 2010 devido a chuvas no período de entressafra.
Os fatores climáticos contribuíram para uma queda dramática na produção neste ano, mas a questão da broca não é menos importante, disse Hojo.
"A broca é difícil de controlar... sua proliferação pode causar perdas incalculáveis", disse ele. As alternativas ao endosulfan são caras e os custos aos produtores estão crescendo, acrescentou.
Os pesticidas disponíveis não foram eficientes, e produtores parecem ter perdido controle do besouro, disse um exportador brasileiro.
"Era um problema que basicamente havia desaparecido do Brasil. De tudo que recebemos até agora, vimos 5 por cento de grãos brocados em média", destacou esse exportador.
Produtores cujas lavouras têm altos níveis de infestação podem ter dificuldade para achar compradores.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) recomenda que processadores verifiquem o café verde para garantir que eles não comprem nenhuma remessa com mais de 5 por cento dos grãos danificados pelo besouro.
A população de besouros também teve condições ideais para se reproduzir neste ano, disse o importador dos EUA.
A colheita anterior foi grande e muitos grãos foram deixados no solo por trabalhadores inexperientes, permitindo que o besouro prosperasse, disseram as fontes.
Isso foi agravado por chuvas no início da colheita em Minas Gerais, favorecendo um aumento da população de broca devido aos níveis mais elevados de umidade dos frutos não colhidos, afirmou Souza.
A crise ocorre no momento em que o Brasil atravessa a baixa no ciclo bienal, quando a safra é naturalmente menor que a anterior, e após uma seca que levou os estoques do país a caírem.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que os estoques privados em março estavam 27 por cento abaixo do ano anterior.
Categorizado como um poluente orgânico persistente (POP), o endosulfan está em uma lista de 12 substâncias químicas que provocam efeitos adversos em humanos e no ecossistema.
O endosulfan pode ser carregado por grandes distâncias pela água e vento, disse o Ministério do Meio Ambiente do Brasil, contaminando o ambiente e a cadeia alimentar ao passar por plantas e animais.