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Área de transmissão da dengue mais que quadruplica no Brasil

Nos últimos dez anos, a área saltou de 1,5 milhão km² para 6,9 milhões de km²


	Aedes aegypti: o mosquito gosta do clima quente do Brasil
 (James Gathany/Wikimedia Commons)

Aedes aegypti: o mosquito gosta do clima quente do Brasil (James Gathany/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2016 às 09h32.

São Paulo -- Em uma década, a área de transmissão da dengue no Brasil mais que quadruplicou, saltando de 1,5 milhão de km² para 6,9 milhões de km². Isso significa que há mosquitos espalhando dengue em todos esses lugares, o que aumenta o alerta sobre como pode se disseminar o zika nos próximos anos, vírus que usa o mesmo vetor da dengue. Do Brasil, a nova doença tem potencial para se espalhar para o mundo.

Pesquisa publicada há uma semana no periódico de saúde The Lancet estimou o potencial de exportação da epidemia a partir do Brasil. Os pesquisadores, liderados por Oliver Brady, da Universidade de Oxford, mapearam os destinos finais de quase 10 milhões de pessoas que saíram do País para o exterior de aeroportos próximos de locais onde o zika foi transmitido: 65% tinham como destino as Américas, 27%, a Europa, e 5%, a Ásia.

Eles então avaliaram nesses destinos onde há áreas propícias à transmissão do zika, considerando a presença de mosquitos do gênero Aedes. Concluíram que cerca de 60% da população de EUA, Itália e Argentina - alguns dos países com maior fluxo de turistas para o Brasil - vivem em áreas onde pode ocorrer transmissão sazonal da doença. E só nos Estados Unidos 22,7 milhões de pessoas residem em áreas passíveis de transmissão de zika o ano inteiro.

"O ministro (da Saúde, Marcelo Castro) não errou ao declarar que o País está perdendo a luta contra o Aedes. Mas talvez tenha sido infeliz. Se dissesse que o mundo inteiro está perdendo a luta, seria mais correto. Porque o problema não é só no Brasil. O Aedes está alcançando distribuição mundial", afirma o virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. Zanotto coordena uma força-tarefa de vários laboratórios empenhados em desvendar o zika vírus.

Parte dessa expansão, ao menos no Brasil, se dá por motivos já bem conhecidos: aumento da população de mosquitos e avanço da doença por populações que nunca tinham tido contato com a dengue ou que estão se contaminando com sorotipos diferentes. Mas o aquecimento do planeta também pode estar colaborando com isso.

Terra quente

O ano passado foi o mais quente já registrado na história, de acordo com análise das agências americanas espacial (Nasa) e de oceanos e atmosfera (Noaa). Em média, para o mundo inteiro, a temperatura foi 0,9°C mais alta que a média registrada no século 20. O Brasil, somente em dezembro, chegou a ter em algumas regiões temperaturas máximas de 3°C a 5°C mais altas que a média para o mês, segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC).

O clima mais quente segue tendência observada nos últimos anos e causada pelas mudanças climáticas, mas em 2015 foi particularmente intensificado pela presença de forte El Niño. Estudos que relacionem o aquecimento global a uma maior dispersão de doenças transmitidas por vetores ainda são pouco conclusivos, mas a teoria é defendida por vários estudiosos do assunto.

Na quinta-feira, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio de sua diretora-geral, Margaret Chan, disse esperar que o El Niño "incremente a população de mosquitos em muitas áreas (do mundo)."

"O que temos notado é que a dengue tem ido para áreas que eram mais frias, como o Sul do País, onde as temperaturas têm subido. Lá o mosquito tem vida mais curta, mas já temos visto surtos", diz Christovam Barcellos, da Fiocruz, que fez o mapeamento da expansão da dengue entre 2001 a 2013 (último ano em que estão disponíveis todos os dados por cidades).

"É uma questão de bom senso. Temperaturas mais altas e chuva são condições apropriadas para o mosquito se estabelecer", explica a bióloga Margareth Capurro, também do ICB da USP, que tenta criar mosquitos transgênicos para combater a disseminação da doença.

E se para o mosquito a situação quente é boa, para o vírus também. "Quando aumenta a temperatura externa, o período de incubação do vírus dentro do mosquito fica bem mais rápido", explica Zanotto.

Em temperaturas ambientes em torno de 25°C, o período que leva entre o mosquito picar uma pessoa com o vírus e poder transmiti-lo para outra é de cerca de 15 dias. "Mas quando a temperatura é de 30°C, esse período de incubação vai para 6 dias. Fica muito mais rápida a transmissão da doença", diz. "Sem contar que com calor o mosquito fica muito mais ativo, se locomove mais rápido, aumentando sua área de transmissão", complementa.

Novos vírus

O pesquisador alerta ainda que a infestação elevada de mosquitos é crucial para estabelecer a infecção por outros arbovírus. Além de dengue, zika e chikungunya, diz, muitos outros vírus estão na fila e não dá para saber qual será o próxima a vir. "Acredita-se que existe febre amarela (também transmitida pelo Aedes) em área urbanas na África (no Brasil é só em florestal) porque lá a infestação é mais elevada. O medo é que o aquecimento traga outros arbovírus para as áreas urbanas."

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