Lula e Bolsonaro em debate no ano passado (foto de arquivo): ex-presidente voltou ao Brasil após três meses na Flórida (Renato Pizzutto/Band/Divulgação)
Repórter de Economia e Mundo
Publicado em 31 de março de 2023 às 13h11.
Última atualização em 3 de abril de 2023 às 09h24.
Horas após a volta do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso na primeira queda de braço entre as partes. Pelo menos na arena das redes sociais.
O novo arcabouço fiscal apresentado pela Fazenda na quinta-feira, 30, ganhou mais menções nas redes sociais em boa parte do dia do que a volta do ex-presidente, segundo novo levantamento da Quaest.
A apresentação do arcabouço ocorreu paralelamente às primeiras horas de Bolsonaro em solo brasileiro após três meses na Flórida — uma estratégia propositada do governo Lula, que vinha debatendo o arcabouço há dias, mas que ainda não tinha data oficial de apresentação até a noite da véspera.
Os dados da Quaest mostram que, até cerca de 10h, a volta de Bolsonaro tinha mais menções no Twitter; depois desse período — quando o desenho do novo arcabouço foi divulgado à imprensa e as primeiras notícias oficiais começaram a sair —, o debate sobre o arcabouço dominou.
O ministro Fernando Haddad começaria ainda um pronunciamento pouco depois das 11h, e a repercussão da apresentação do arcabouço virou, depois disso, o tema do dia na arena política.
No somatório do dia, a regra fiscal teve 10 mil menções a mais do que o retorno de Bolsonaro.
Para Felipe Nunes, diretor da Quaest, o comportamento mostra o poder de um governo na situação em pautar o debate público.
"Não dá para ignorar a força de comunicação que qualquer governo tem. A disputa de ontem mostra que, com estratégia, até um assunto técnico pode servir para fazer a disputa política", diz Nunes.
Para a estratégia que a oposição a Lula pretende a partir de agora com a volta de Bolsonaro, o resultado é um sinal. Como a EXAME mostrou, embora Bolsonaro tenha historicamente capacidade alta de mobilizar sua base mais fiel nas redes, o ex-presidente terá como um dos principais desafios organizar um grupo político e fazer isso, agora, fora do poder.
"O dia 2 é sempre mais difícil", disse em entrevista anterior à EXAME Creomar de Souza, da consultoria política Dharma, em Brasília. "E envolverá Bolsonaro fazer o que nunca fez, que é organizar um grupo político. Ele se utilizou da Presidência para fazer política, mas nunca foi um político de organizar grupos. Um dado empírico disso é a incapacidade de construir um partido [quando tentou fundar o Aliança Pelo Brasil], mesmo com todos os recursos na mão."
"Bolsonaro vai ter mais dificuldade fora do governo", conclui Nunes, da Quaest, afirmando também que Lula, com base nisso, "precisa aproveitar melhor a força de comunicação do governo". A ver como se desenrolarão os próximos embates.