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Aposentada paulista percorre 40 km em busca de água

Maria Helena é uma dos milhões de residentes de São Paulo que enfrentam escassez de água com a pior seca das últimas oito décadas


	Moradores de Itu, que é abastecido pelo sistema Cantareira, enchem baldes com água em uma praça da cidade
 (Nacho Doce/Reuters)

Moradores de Itu, que é abastecido pelo sistema Cantareira, enchem baldes com água em uma praça da cidade (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 3 de novembro de 2014 às 16h12.

Nova York - Maria Helena Medeiros Graciano, uma aposentada de 59 anos, disse que teve que viajar quase 40 quilômetros para lavar o cabelo e suas roupas por causa da seca que afeta seu estado, São Paulo.

“Está cada dia pior”, disse Maria Helena, que mora em Itu, 101 quilômetros a noroeste da capital, por telefone. “Eu tive água na segunda-feira. E antes disso, no domingo anterior. Não sai nada das torneiras”.

Maria Helena é uma dos milhões de residentes de São Paulo que enfrentam escassez de água porque a pior seca das últimas oito décadas está esgotando os reservatórios do estado que responde por um terço da economia brasileira.

A falta de chuvas está aumentando também as dificuldades da Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, Sabesp, que abastece mais da metade do estado.

A empresa está vendo os custos subirem por bombear água das partes mais profundas de seus reservatórios e as vendas caírem devido aos descontos oferecidos para incentivar a economia no consumo.

Os US$ 140 milhões em bonds da empresa com vencimento em 2016 caíram 2 por cento nos últimos 30 dias.

Esse desempenho contrasta com um avanço médio de 1,4 por cento das dívidas de empresas semelhantes de mercados emergentes, mostram dados compilados pela Bloomberg.

A Sabesp verá seus lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização caírem 22 por cento em 2014 em relação ao ano passado, segundo estimativas de nove analistas que cobrem a companhia.

Níveis dos reservatórios

“A receita certamente vai diminuir, e eles estão tendo que aumentar os investimentos -- não só para tirar a água agora, mas para algum tipo de projeto de médio e longo prazo --”, disse Leonardo Kestelman, gestor e diretor da Dinosaur Securities, por telefone, de São Paulo.

“Isso terá um impacto no fluxo de caixa da companhia”.

A assessoria de imprensa da Sabesp disse que “não existe racionamento ou restrição de uso da água em nenhuma das 364 cidades atendidas pela Sabesp”. A assessoria de imprensa do Palácio dos Bandeirantes encaminhou as perguntas à companhia.

Os níveis de água nos principais reservatórios da Sabesp estão em queda.

As chuvas na Cantareira, o complexo formado por quatro barragens que abastece metade dos 20 milhões de residentes da Grande São Paulo, foram menos de um terço da média histórica em outubro.

No dia 16 de outubro a Sabesp recebeu autorização da Justiça para retirar água da segunda cota do volume morto da Cantareira -- reservatório cheio de sedimentos do qual antes não se podia captar água.

Descontos da Sabesp

Dilma Pena, presidente da Sabesp, disse à Câmara Municipal de São Paulo que o abastecimento estava garantido apenas até meados de novembro, a menos que a empresa pudesse recorrer às reservas.

Antes de a Sabesp começar a recorrer à segunda cota, no dia 24 de outubro, a capacidade do Cantareira estava em 3 por cento. Outubro foi o mês mais seco em 84 anos no Sistema Cantareira.

Em fevereiro, a Sabesp começou a oferecer 30 por cento de desconto aos clientes que reduzissem o consumo em pelo menos 20 por cento na média das contas dos últimos 12 meses.

O Ebitda ajustado da empresa caiu 27 por cento no segundo trimestre, a pior queda desde 2001, pelo menos. A companhia programou para 13 de novembro a divulgação dos resultados do terceiro trimestre.

Apesar da expectativa de que as chuvas aumentarão em novembro e dezembro, e de que ficarão ligeiramente acima da média histórica da região Sudeste, esse incremento não compensará o déficit acumulado no reservatório, segundo Graziella Gonçalves, meteorologista da Somar Meteorologia.

“Nós podemos ver os níveis pararem de cair, mas eles não vão subir”, disse ela, por telefone, de São Paulo.

“Mesmo se chover, o solo está muito seco e só absorverá essa água. Vai voltar a chover, mas levará um bom tempo para que ela comece a fazer uma diferença no reservatório”.

Pedidos de "ajuda"

Embora a Sabesp não abasteça Itu, a cidade de Maria Helena, ela disse que a falta d’água é tão severa que muitos moradores estão colocando cartazes pedindo “ajuda” em frente às suas casas.

A Águas de Itu, que abastece a cidade, disse em um e-mail que a decisão de interromper o racionamento de água iniciado em fevereiro dependerá da quantidade de chuva captada.

A empresa, que disse que os níveis de seuS reservatórioS estão abaixo de 2 por cento, também está fornecendo água por meio de caminhões-pipa.

Maria Helena disse que mesmo quando ela viaja para a casa de seu namorado para lavar suas roupas em Sorocaba, onde a água não está sendo racionada, ela ainda faz um esforço para economizar.

Eles reutilizam a água da máquina de lavar para limpar o chão e o quintal, disse ela.

“Em casa, nós tomamos banho com garrafas de Coca-Cola”, disse Maria Helena. “Não chove. E eu não vejo como isso vai mudar sem chuva”.

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