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Após viagens, Lula está de volta — com arcabouço e CPMI no radar

Entre China, Oriente Médio e Europa, presidente passou 11 dias no exterior

Lula: agenda em Brasília nesta quinta-feira (Andressa Anholete/Getty Images)

Lula: agenda em Brasília nesta quinta-feira (Andressa Anholete/Getty Images)

Carolina Riveira
Carolina Riveira

Repórter de Economia e Mundo

Publicado em 27 de abril de 2023 às 06h00.

Após uma semana de viagens, o presidente Lula retoma de vez nesta quinta-feira, 27, sua agenda em Brasília. Entre as viagens à China e a Abu Dhabi e, após um curto intervalo, a ida à Espanha e a Portugal, Lula passou neste mês 11 dias no exterior, seja em trajeto ou diretamente em agenda com líderes.

Agora, em sua volta aos despachos no Planalto, o presidente encontrará uma lista crescente de desafios para o governo.

Fazem parte da pauta da semana temas que vão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os ataques de 8 de janeiro à tramitação do arcabouço fiscal. Ambos os temas devem testar a capacidade de articulação da base do governo no Congresso, cujo alcance segue por ser conhecido.

Enquanto Lula ainda estava na Espanha (onde se encontrou com o premiê Pedro Sánchez), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), leu na quarta-feira, 26, o requerimento de abertura da CPMI. Os trabalhos da comissão, que até a semana passada parecia incerta, começam na próxima semana.

A CPMI agora conta com o apoio do governo, após momentos de dúvidas na base. Os próximos dias devem ser de negociações no Congresso até que os partidos decidam quais serão seus indicados a membros permanentes, além das pressões para a escolha da mesa diretora da CPMI, que serão cruciais para o desenrolar dos trabalhos. O governo trabalhará para ter uma mesa diretora mais favorável, a julgar pela memória do que foi a CPI da Covid, na época um combustível à oposição ao então presidente Jair Bolsonaro.

Já o arcabouço fiscal ainda precisa avançar na tramitação na Câmara, após ter chegado ao Congresso no último dia 18. Oficialmente, o governo diz não acreditar que o burburinho gerado pela CPMI possa atrapalhar a tramitação do arcabouço.

Ao menos da porta para fora, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a CPMI não interfere no debate sobre a regra fiscal porque "ninguém tem dúvida do que aconteceu no dia 8". A ministra do Planejamento, Simone Tebet, foi na mesma linha e disse acreditar que o impacto será zero. Perguntado sobre se a CPMI terá efeito na tramitação do arcabouço, Pacheco afirmou que os congressistas têm "senso de urgência em relação ao arcabouço fiscal".

O texto circula desde o fim de março, mas foi entregue ao Congresso, inclusive, em um dos poucos dias que Lula passou em Brasília em abril — um dia depois da volta de Abu Dhabi, no dia 17, e dias antes de um novo embarque para Portugal, na noite do dia 20.

Desde então, a matéria ainda não avançou, mas o tempo será curto. O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), disse acreditar que o projeto de lei complementar pode ser votado até o dia 10 de maio. O relator escolhido para o projeto foi o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), próximo a Lira.

Além da CPMI e do arcabouço, o chamado PL das Fake News teve urgência aprovada nesta semana e entrou no radar na Câmara. O tema é caro ao governo, e o relator Orlando Silva (PCdoB-SP), que faz parte da base governista, pode entregar ainda nesta semana o parecer do projeto. A votação em plenário pode ficar já para a próxima terça-feira, 2 de maio.

Agenda internacional

Com tudo em compasso de espera no Congresso, a leitura é de que o começo do mandato de Lula, até aqui, foi fortemente marcado pela agenda internacional — algo que o governo já anunciava, desde a campanha, que seria uma prioridade do mandato.

Passada a resposta aos ataques de 8 de janeiro e os anúncios iniciais, ainda em janeiro, Lula foi primeiro a Argentina e Uruguai; em fevereiro, foi a um encontro com o presidente Joe Biden nos EUA; em março, iria à China, mas teve a viagem adiada para abril após uma pneumonia; por fim, completou o ciclo com as viagens a Portugal e Espanha nesta semana.

Com as quatro viagens, o presidente terminou passando por todos os maiores parceiros comerciais do Brasil: a China, que é a maior parceira comercial desde 2009, os Estados Unidos, a União Europeia (terceira maior parceira em bloco) e a Argentina (terceira maior individualmente).

Das agendas internacionais, o governo voltou com assinatura de acordos e investimentos que, nos próximos anos, podem ser importantes para o Brasil (foram 15 acordos na China, 13 em Portugal e três na Espanha, além de investimento em Abu Dhabi para a refinaria de Mataripe, na Bahia).

Viagens vão bem nas redes sociais

O tour pelo mundo nestes primeiros meses foi também usado para a própria imagem interna do governo: como a EXAME mostrou, um dos pontos fortes de Lula em redes sociais são os registros de viagens e reuniões bilaterais. Esses conteúdos tiveram alguns dos maiores engajamentos nos primeiros 100 dias de mandato, segundo levantamento da consultoria Bites — um ganho para um governo que precisa, desesperadamente, liderar o debate nas redes, espaço onde o ex-presidente Jair Bolsonaro ainda é forte.

Mas, invariavelmente, a distância geográfica terminou por atrasar a discussão de outras pautas, sobretudo na relação com o Congresso. Agora, a corrida começa de fato, em um ano que, depois do arcabouço, deve incluir ainda a votação da primeira fase da reforma tributária. Serão dias de muito trabalho para Lula. Agora em Brasília.

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