Brasil

Após ser citado em delação, assessor de Temer pede demissão

Saída de Yunes é primeira perda do governo após vazamento de depoimento de ex-executivo da Odebrecht

 (Adriano Machado/Reuters)

(Adriano Machado/Reuters)

Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro

Publicado em 14 de dezembro de 2016 às 13h12.

Última atualização em 14 de dezembro de 2016 às 13h42.

Brasília – O assessor especial do presidente Michel Temer (PMDB), José Yunes, pediu demissão nesta quarta-feira (14). A decisão de Yunes, que é amigo do presidente há 50 anos, ocorreu dias após ele ser citado na delação premiada do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Claudio Melo Filho.

De acordo com o ex-executivo da empreiteira, Yunes teria sido o intermediário de uma parte dos R$ 10 milhões solicitados por Temer a Odebrecht para o pagamento de campanhas eleitorais do PMDB em 2014.

Em carta, Yunes disse que entregou cargo para “preservar dignidade e manter acesa chama cívica que me faz acreditar nos imensos potenciais de meu país”.

No documento enviado a Temer, o assessor especial do presidente afirmou ter visto "seu nome ser jogado no lodaçal de uma abjeta delação". Ele disse ainda que não conhece Melo Filho e que nunca teve qualquer relação com o ex-diretor da Odebrecht.

Procurada por EXAME.com, assessoria do Palácio do Planalto confirmou saída do assessor do presidente.

Leia a íntegra da carta enviada por Yunes ao presidente Michel Temer:

"Caro Presidente,

Movido pelo alto interesse em dedicar meu tempo à causa da Nação, depois de ter vivido fértil passagem pela vida político-partidária, nas jornadas cívicas das décadas de 70/80, aceitei convite de Vossa Excelência para assessorá-lo no Planalto, oportunidade em que passei a conviver com experientes e altos quadros do seu Governo.

Seria uma honra ajudar o amigo de 50 anos a colocar o país nos trilhos, após a hecatombe que arrasou a economia, proporcionando a maior recessão de toda a nossa história, jogando milhões de pessoas nas ondas perversas do desemprego, minando a confiança de brasileiras e brasileiros de todas as classes em governantes e instituições.

Nos últimos dias, Senhor Presidente, vi meu nome jogado no lamaçal de uma abjeta delação, feita por uma pessoa que não conheço, com quem nunca travei o mínimo relacionamento e cuja existência passei a tomar conhecimento, nos meios de comunicação, baseada em fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie de uma doação destinada ao PMDB.

Repilo com a força de minha indignação essa ignominiosa versão.

Como advogado e pai de família, que zela pelo dever de agir como cidadão sob os valores da honra e do zelo pela expressão da verdade, em respeito à minha família, aos amigos e aos concidadãos, não posso ver meu nome enxovalhado por irresponsáveis denúncias de figurantes com quem nunca tive qualquer contato direto ou por terceiros.

Para preservar minha dignidade e manter acesa a chama cívica que me faz acreditar nos imensos potenciais de meu país, declino, Senhor Presidente, do honroso cargo de assessor da Presidência, sem, porém, abdicar da admiração e da amizade que nos une desde os heróicos tempos nas Arcadas do Largo de São Francisco.

Tenha em mim o leal amigo que o acompanha há décadas e que o admira por suas incomparáveis qualidades, entre as quais, o equilíbrio, a capacidade de harmonizar os contrários, a sapiência, o respeito pelo outro, a determinação de fazer as grandes reformas que o país exige e a vontade férrea de pacificar a Nação.

São Paulo, 14 de dezembro de 2016.
José Yunes
Advogado"

Acompanhe tudo sobre:Marcelo OdebrechtMichel TemerNovonor (ex-Odebrecht)

Mais de Brasil

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdermar

As 10 melhores rodovias do Brasil em 2024, segundo a CNT

Para especialistas, reforma tributária pode onerar empresas optantes pelo Simples Nacional

Advogado de Cid diz que Bolsonaro sabia de plano de matar Lula e Moraes, mas recua