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Após semanas de desgastes, Bolsonaro diz que Moro é "patrimônio nacional"

Embate entre presidente e ministro ocorria por conta de mudança no comando da Polícia Federal; os dois negam que relação estava próxima de ruptura

Moro e Bolsonaro: presidente e ministro demonstraram durante evento que relação estaria bem (Carolina Antunes/PR/Flickr)

Moro e Bolsonaro: presidente e ministro demonstraram durante evento que relação estaria bem (Carolina Antunes/PR/Flickr)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de agosto de 2019 às 16h31.

Última atualização em 29 de agosto de 2019 às 18h33.

Brasília — Após semanas de confronto, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, deram sinais de alinhamento e trocaram afagos em evento de lançamento do "Em Frente, Brasil", realizado nesta quinta-feira, 29, no Palácio do Planalto.

O primeiro sinal de reaproximação ocorreu no começo do evento. A pedido de Bolsonaro, o ministro atrasou a sua descida pela rampa que leva ao salão do evento para acompanhar o presidente.

Na rampa, eles se abraçaram e foram aplaudidos pelos presentes. Depois sentaram um ao lado do outro. Os demais ministros desceram separadamente.

"Obrigado, Sérgio Moro. Vossa Senhoria abriu mão de 22 anos de magistratura para não entrar em uma aventura, mas para entrar na certeza de que todos nós juntos podemos, sim, fazer melhor pela nossa pátria", disse Bolsonaro no discurso. O presidente afirmou mais de uma vez que os ministros têm "liberdade". "Eles devem satisfação a vocês, povo brasileiro. Eles têm uma coisa importante: iniciativa. Têm essa liberdade de buscar soluções ao nosso Brasil", disse.

A declaração destoa do tom adotado pelo presidente nos últimos dias ao se referir a Moro. A relação ficou estremecida após Bolsonaro anunciar, em entrevista a jornalistas no dia 15, a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro por "questão de produtividade". A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tem "qualquer relação com desempenho".

Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que "quem manda é ele" e, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nome de confiança de Moro. Internamente, as "ameaças" do presidente foram vistas como uma tentativa de interferência política no órgão responsável por investigações.

Na semana passada, o presidente chegou a responder irritado a um comentário de internauta de que ele não poderia abandonar Moro. A mensagem dizia: "Jair Bolsonaro, cuide bem do ministro Moro. Você sabe que votamos em um governo composto por você, ele e o Paulo Guedes". Em resposta, escreveu: "Todo respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha, até que, como juiz não poderia".

Reaproximação

Numa tentativa de contornar a situação, Bolsonaro e Moro se reuniram na terça-feira, fora da agenda. Conforme revelou o Estado, no encontro, falou-se em uma "rede de intrigas" que teria como objetivo desgastar a relação entre os dois. Horas depois, o ministro abriu evento da PF no qual reiterou compromisso com o combate à corrupção e elogiou o diretor-geral, Maurício Valeixo, ameaçado de demissão por Bolsonaro. Mais tarde também trocaram afagos pelas redes sociais. Moro tuitou que Bolsonaro tem compromisso com o combate à corrupção. O presidente respondeu: "Vamos, Moro!".

As críticas sobre ameaças de interferência de Bolsonaro na polícia eram pontos de desgaste e incômodo do presidente, de acordo com interlocutores. Fontes próximas a Bolsonaro disseram que, antes da reaproximação, ele havia se incomodado com a resistência do ministro a atender algumas das sugestões dele. Os dois lados sempre negaram, contudo, que a relação estivesse próxima de uma ruptura. Bolsonaro e o ministro admitem ainda a pessoas próximas que a saída do titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública seria ruim para o governo e o próprio Moro.

Durante o evento desta quinta-feira, o ministro da Justiça também fez acenos ao presidente. Afirmou que o programa para combater a segurança foi desenvolvido com orientações de Bolsonaro. "É certo que não devemos ignorar esforços que governadores e prefeitos estão fazendo, mas é inegável mérito do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro", disse.

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