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Após medo de ataques, escolas têm salas vazias nesta quinta-feira

Também nesta quinta, o ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que a pasta abrirá um processo administrativo contra o Telegram após a rede não informar os mecanismos adotados para conter conteúdos de ódio e ataques escolares

Sala de aula: escolas ficaram mais vazias nesta quinta-feira (Amanda Perobelli/Reuters)

Sala de aula: escolas ficaram mais vazias nesta quinta-feira (Amanda Perobelli/Reuters)

Publicado em 20 de abril de 2023 às 15h40.

Última atualização em 20 de abril de 2023 às 15h49.

Após supostas ameaças de ataques nesta quinta-feira, 20, às escolas no País, redes públicas tiveram salas mais vazias e atividades sobre convivência pacífica e valorização da educação. As faltas também foram ampliadas, segundo Estados, por se tratar de véspera de feriado, quando em geral a ausência já é maior. Entre as escolas particulares de São Paulo, a redução de alunos foi menos significativa. Crianças levaram flores para os professores e participaram de conversas sobre cultura da paz.

Em uma escola estadual de Mauá, na Grande São Paulo, só cerca de 60 dos 500 estudantes apareceram nesta quinta. "Mesmo com um processo de conscientização dos estudantes e seus responsáveis, muitos deles comentaram que não viriam para a escola, visto que estão aflitos e inseguros", disse o professor André Sapanos.

Segundo ele, que é coordenador do sindicato dos professores na região, o mesmo ocorreu em outras escolas do ABC.

Em outra escola estadual, no Sacomã, zona sul, havia no período da manhã desta quinta-feira apenas cinco alunos por sala, segundo relatos dos professores. Em outras, as informações foram de 25% de faltas.

Houve também unidades que usaram a quinta-feira para realizar reuniões pedagógicas com professores e dispensaram os alunos, já que esta quinta era o último dia do primeiro bimestre na rede estadual oficialmente.

A Secretaria Estadual da Educação informou que deve divulgar um balanço de faltas durante a tarde. Segundo a Secretaria de Segurança de São Paulo, o policiamento foi reforçado nas imediações das escolas e não houve nenhum incidente até o fim da manhã.

Foi aumentado o "número de policiais na ronda ostensiva, com o efetivo operacional reserva que atua, normalmente, na administração de unidades", segundo a pasta.

Na escolas particulares de elite, a presença, segundo apurou o jornal "O Estado de S. Paulo", ficou em torno de 80% no período da manhã desta quinta.

A véspera de feriado também influencia normalmente as faltas porque muitas famílias viajam, segundo diretores.

No Colégio Pentágono, que tem unidades em Perdizes e em Alphaville, a maior ausência foi entre alunos do ensino médio, com 35% de faltas. Entre os pequenos, houve roda de leitura e distribuição de balões brancos.

Na Escola Projeto Vida, na zona norte, a maioria dos estudantes estava presente nesta manhã. A instituição fez palestras para os pais nesta semana sobre conscientização e combate à violência e contratou uma empresa de segurança privada para fazer rondas.

"As crianças trouxeram flores para professores e funcionários e fizemos uma prática de mindfulness para desejar paz e coisas boas. Procuramos ritualizar de uma maneira positiva", disse a diretora Monica Padroni.

A Camino School, na Pompeia, zona oeste, registrou mais faltas nas salas de fundamental 2 e ensino médio, com um total de 50% dos alunos presentes. "O clima foi muito legal com quem veio, trouxeram flores, distribuíram abraços. Recebemos também a visita da polícia militar e civil", diz a diretora Letícia Lyle.

No Colégio Magno, na zona sul, as faltas ficaram em torno de 20% entre os alunos mais velhos. Segundo a diretora Claudia Tricate, a frequência foi normal entre as crianças da educação infantil. "Fizemos jogos cooperativos, dinâmicas, produção de conteúdo digital", afirmou.

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo conversou com secretários da Educação de Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará, Piauí, Espírito Santo.

Somente Piauí informou não ter diminuição da presença de alunos. Em todas elas, as escolas promovem atividades para celebração da paz, com desenhos, balões, flores, e conscientização sobre bullying e violência, segundo os secretários.

"A frequência está mais baixa, em especial nas áreas mais turísticas, mas as escolas estão focadas em acolher os alunos e trabalhar a importância da paz", afirmou o secretário municipal de Educação do Rio, Renan Ferreirinha.

O mesmo foi dito pelo secretário municipal de São Paulo, Fernando Padula. Na capital, a rede também teve rodas de conversa, de crianças e adultos, confecção de cartazes com mensagens de paz e outras atividades. Ferreirinha e Padula passaram a manhã visitando escolas

Em Recife, a frequência das escolas municipais foi desigual. Segundo o secretário de educação Fred Amâncio, houve entre 40% e 90% de presença durante a manhã. Muitas escolas promoveram atividades para celebração da paz, com pinturas e brancos e m média cerca de 60% de presença. "Acredito que se encerramos o dia assim, voltaremos a normalidade total na próxima semana", disse Amâncio.

No início da semana, alguns movimentos passaram a incentivar uma mudança de narrativa após supostas ameaças de ataques nesta quinta-feira.

"Juntos, podemos resgatar a potência das escolas e permitir que seus professores, estudantes e todos de suas comunidades construam um futuro de civilidade, respeito e democracia", diz outro movimento, o Manifesto pela Escola sem Medo, lançado na segunda-feira pela Associação Nova Escola. "Como mudar esse cenário? Não é se fechando nem se isolando. É se abrindo para a conversa, o diálogo e a escuta. É discutindo soluções e engajando cada indivíduo e toda a sociedade ao mesmo tempo."

Suspensão do Telegram

O ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que a pasta abrirá um processo administrativo contra o Telegram após a rede não informar os mecanismos adotados para conter conteúdos de ódio e ataques escolares. Segundo ele, o aplicativo de mensagens poderá ser suspenso no país caso não colabore.

"Esse processo pode resultar naquelas sanções, que estão no Código de Defesa do Consumidor, que são multas até eventualmente suspensão das atividades no território nacional", afirmou, em balanço da Operação Escola Segura nesta quinta-feira.

O processo administrativo será aberto pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). De acordo com o secretário Wadih Damous, o Telegram foi a única empresa que declinou os pedidos do governo brasileiro.

"O Telegram tradicionalmente é de difícil contato, é de difícil diálogo", disse. "Não respondeu à notificação da secretaria Nacional do Consumidor, então nós vamos abrir um processo administrativo sancionador".

A pasta determinou que as redes sociais apresentassem medidas contra o avanço de grupos extremistas em suas plataformas no último dia 12. A decisão integra um pacote de ações do governo pela segurança nas escolas. Flávio Dino destacou a importância da colaboração das bigtechs para controlar o ódio disseminado na internet, que contribui para o incentivo de adultos e adolescentes a atos violentos.

Até agora, a Operação Escola Segura, da PRF, realizou 302 prisões ou apreensões e 270 ordens de busca. Além disso, 1.062 pessoas foram conduzidas às delegacias para prestar esclarecimentos e 812 solicitações de preservação de conteúdo para investigações ou remoção de conteúdos de plataformas foram feitas.

"Falou em nazismo, falou em ataque, ameaçou a comunidade escolar? Estamos fazendo a prisão, porque não há possibilidade de convivermos com esse clima que alguns poucos querem criar", disse o ministro.

(Com informações do Estadão Conteúdo e Agência O Globo)

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