Eduardo Bolsonaro: deputado disse que "quando chegar ao ponto que o presidente não tiver mais saída e for necessário uma medida enérgica ele é que será tachado como ditador" (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de maio de 2020 às 17h37.
Última atualização em 29 de maio de 2020 às 18h39.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se tornou alvo de mais uma representação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Câmara.
A Rede Sustentabilidade, o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) protocolaram o pedido na quinta-feira (28).
A ofensiva da oposição veio após declarações de Eduardo em uma transmissão ao vivo ao lado de apoiadores bolsonaristas investigados no inquérito das fake news. O parlamentar afirmou não ter dúvida de que será alvo de uma investigação em breve e disse que participa de reuniões em que se discute "quando" acontecerá "momento de ruptura" no Brasil.
"Não tenho nem dúvida que amanhã vai ser na minha casa [que cumprirão mandado de busca], que se nós tivermos uma posição colaborativa, vão entrar na nossa casa, dando risada. Até entendo quem tem uma postura moderada, vamos dizer, para não tentar chegar a momento de ruptura, a momento de cisão ainda maior, conflito ainda maior. Entendo essa pessoas que querem evitar esse momento de caos. Mas falando bem abertamente, opinião de Eduardo Bolsonaro, não é mais uma opção de se, mas, sim, de quando isso vai ocorrer", afirmou o parlamentar, que emendou:
"E não se enganem, as pessoas discutem isso. Essas reuniões entre altas autoridades, até a própria reunião de dentro de setores políticos, eu, Bia, etc, a gente discute esse tipo de coisa porque a gente estuda história. A gente sabe que a história vai apenas se repetindo. Não foi de uma hora para outra que começou a ditadura na Venezuela, foi aos poucos."
O deputado disse ainda que "quando chegar ao ponto que o presidente não tiver mais saída e for necessário uma medida enérgica ele é que será tachado como ditador".
A live foi transmitida pelo canal de YouTube do blog Terça Livre de Allan dos Santos, um dos alvos da operação da última quarta-feira contra empresários, políticos e apoiadores de Bolsonaro investigados por divulgar notícias falsas e ameaças contra autoridades da República, como ministros do Supremo e seus familiares.
Além de Santos, a deputada Bia Kicis (PSL-SP), outra investigada pelo inquérito das fakes news, também participou da transmissão, ao lado de Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, e do médico Ítalo Marsili.
Para a oposição, Eduardo Bolsonaro atentou "contra o Estado Democrático de Direito" e demonstrou que "há, em curso, uma articulação orientada pelo Representado e por aliados do Presidente da República, na tentativa de deflagrar uma ruptura institucional, com graves consequências para a democracia brasileira".
Eduardo Bolsonaro já responde a processo no Conselho de Ética por afirmar que "se a esquerda brasileira radicalizar", uma resposta pode ser "via um novo AI-5".
Em julho de 2018, antes do primeiro turno das eleições que deram a vitória a Jair Bolsonaro, o filho caçula do então presidenciável Jair Bolsonaro, disse que, para fechar STF, bastava "um soldado e um cabo". A declaração se referia à possibilidade do pai ser impedido de assumir o Planalto caso fosse eleito ainda na primeira fase da corrida presidencial.
Nos últimos dias, o governo tem sofrido uma sucessão de derrotas no Supremo, a maioria delas por decisões individuais dos ministros Celso de Mello e Alexandre de Moraes. O estopim para a nova crise ocorreu, no entanto após a ação operação determinada por Moraes, relator do inquérito das fake news.
Na ação de anteontem, a PF apreendeu documentos, computadores e celulares em endereços de apoiadores do presidente. Desde então, aumentam as investidas contra o STF dirigidas pelo próprio presidente e por seus apoiadores.