Marcola: além dele, outros 21 membros da cúpula da facção criminosa também estão sendo enviados para presídios federais (YouTube/Reprodução)
Clara Cerioni
Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 12h10.
Última atualização em 13 de fevereiro de 2019 às 12h12.
São Paulo — O líder máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola, está sendo transferindo na manhã desta quarta-feira (13) do presídio de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, para uma penitenciária federal.
Além dele, outros 21 membros da cúpula da facção criminosa também estão sendo enviados para presídios federais. A operação teve início na madrugada.
Desde novembro, já havia previsão de transferência dos membros do PCC para unidades federais, após a descoberta de um plano de resgate de Marcola e de mais integrantes da facção do presídio de Presidente Venceslau.
Eles estão sendo levados para Mossoró (RN), Brasília e Porto Velho (RO). Sete foram transferidos porque haviam sido alvos da operação Echelon em 2018.
Outros 15 porque fazem parte da sintonia geral final do PCC, com seu primeiro e segundo escalão. Policiais militares e agentes penitenciários da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) participaram da operação.
Marcola é o ultimo grande líder de facção criminosa do País a ir para a rede de presídios federais. Lá já estão seu rivais do Comando Vermelho e da Família do Norte e seus aliados do Terceiro Comando Puro.
Com a operação, o presidente Jair Bolsonaro emitiu um decreto autorizando o uso das Forças Armadas no entorno de presídios federais de Rondônia e Rio Grande do Norte para garantir a segurança dos presídios para onde irá parte de cúpula do PCC.
"O emprego das Forças Armadas será realizado em articulação com as forças de segurança pública competentes e com o apoio de agentes penitenciários do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça e Segurança Pública", diz trecho do documento.
O decreto foi assinado por Bolsonaro e pelos ministros Sérgio Moro, da Justiça, Fernando Azevedo, da Defesa, e General Augusto Heleno, do GSI.
A apuração do jornal O Estado de S.Paulo mostra que o plano inicial era esperar alta do presidente Jair Bolsonaro, pois se temia possíveis reações da facção em São Paulo, o que não ocorreu até agora.
Todos os presídios de paulistas estão passando por blitzes simultâneas para evitar tumultos. A decisão foi tomada pelo secretário da Administração Penitenciária, Nivaldo Restivo. Em mais de 100 unidades prisionais do Estado existe presença de integrantes do PCC.
Os criminosos foram transferidos por decisão do juiz Paulo Zorzi corregedor dos presídios, e a pedido do promotor Lincoln Gakiya do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), de Presidente Prudente.
"Essa é a maior operação já feita. Esperamos desarticular momentaneamente a cúpula da facção", afirmou Gakyia.
A inteligência policial detectou planos da facção em outubro e novembro de 2018 de matar autoridades judiciais, o ex-secretário do governo da SAP Lourival Gomes, um diretor de presídio e um deputado estadual caso Marcola fosse transferido para o sistema federal.
Todos estão com escolta reforçada desde que a Justiça confirmou que ia deferir o pedido de transferência dos presos.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a cúpula da Secretaria da Segurança Pública (SSP) convocaram uma coletiva de imprensa às 14h para falar sobre a transferência dos presos.
De acordo com o MP, havia um plano de resgate de integrantes do PCC que estavam na Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau.
Os alvos do resgate seria Marcola e outros membros da facção. O aeroporto de Presidente Venceslau fica a apenas dois quilômetros, cerca de seis minutos, da unidade prisional.
Segundo o MP, na mesma ação, o líder havia sido condenado recentemente há 30 anos de prisão pela comarca de Presidente Venceslau. O total de penas impostas a Marcola já ultrapassa 300 anos.
O plano de resgate seria comandado por outro membro do PCC, Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como "Fuminho".
Ele fugiu da Casa de Detenção em 1999, é procurado pela Justiça e teria se estabelecido na Bolívia, de onde enviava drogas e armas para Brasil, Europa, Ásia e África, diz o documento do MP.
Entre os integrantes do grupo que iria resgatar Marcola estavam bandidos que já haviam participado de roubos contra empresas de valores.
Ainda de acordo com a Promotoria, a facção teria investido dezenas de milhões de dólares nesse plano de resgate - inclusive com a compra de veículos blindados, aeronaves e armamentos.
O plano de resgate incluía o bloqueio de rodovias e o ataque à penitenciária de Presidente Venceslau e também o ataque ao Batalhão da Polícia Militar, além do corte de energia e comunicações nas unidades policiais do entorno.
"A equipe que iria resgatar Marcola se dividiria em várias frentes, uma delas iria bloquear a Rodovia Raposo Tavares, a outra iria atacar a polícia e uma outra iria tentar impedir a decolagem do helicóptero Águia da PM do aeroporto de Presidente Prudente, que fica na região", diz o MP.
Ainda segundo os promotores, o plano previa que os criminosos seriam resgatados da prisão e levados para um aeroporto no norte do Paraná, de onde partiriam em outra aeronave para o Paraguai ou a Bolívia.
Mesmo com o reforço da segurança policial no entorno do presídio no dia 27 de outubro uma câmera registrou um sobrevoo de um drone nas imediações da cadeia.
"Podia ser um sinal de que um plano de resgate estaria em ação", diz o MP. Segundo a ação, os drones seriam usados pelo PCC para fazer filmagens e o reconhecimento do local antes do resgate.
O PCC movimenta quase US$ 800 milhões por ano no Brasil e tem cerca de 30 mil membros. É a maior organização criminosa da América do Sul. Com ligações com a máfia da Calábria (sul da Itália), passou a dominar o envio de cocaína da Bolívia para a Europa por meio de portos no Nordeste, Sudeste e Sul do País.