Brasil

Após caso Janot-Gilmar, o enterro da Lava-Jato?

Desgaste de Janot arranha junto a imagem da operação da qual ele esteve à frente durante a maior parte de seus dois mandatos como procurador-geral

Janot: ex-procurador-geral da República pode ser o responsável por enterrar a Lava Jato de vez

Janot: ex-procurador-geral da República pode ser o responsável por enterrar a Lava Jato de vez

DR

Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2019 às 05h48.

Última atualização em 30 de setembro de 2019 às 08h47.

Um dos maiores defensores da Lava-Jato, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot pode ser o responsável por enterrá-la de vez. Após entrevista divulgada pela revista VEJA na última quinta-feira 26 em que o ex-PGR afirma que foi armado ao Supremo Tribunal Federal (STF) para matar o ministro Gilmar Mendes, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) avalia abrir investigação contra Janot, segundo informação divulgada no domingo 29 pela imprensa.

A investigação pode ser oficializada nos próximos dias, aumentando o desgaste de Janot e arranhando junto, invariavelmente, a imagem da operação sob a qual ele esteve à frente durante a maior parte de seus dois mandatos como procurador, entre 2013 e 2017.

Janot, como PGR, foi responsável por investigar dezenas de políticos com foro privilegiado — nas chamadas “listas de Janot” –, denunciou por duas vezes o ex-presidente Michel Temer após áudios gravados pelos donos do frigorífico JBS. Também na delação da JBS, Janot foi responsável ainda por autorizar a gravação do ex-deputado Rocha Loures carregando mala de 500.000 reais em dinheiro.

As declarações do ex-PGR dão subsídio para os que passaram quatro anos afirmando — desde o início da Lava-Jato, em 2014, e sua intensificação em 2015 — que a operação cometia excessos. Não poderiam vir em momento pior para os procuradores da força-tarefa, com o ano de 2019 se coroando como o pior de todos para a operação. Dados da Polícia Federal (PF) publicados pelo jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira 29 apontam que o primeiro semestre do ano teve 204 operações da PF, número mais baixo da história.

Também neste ano, vazamento de conversas de nomes da força-tarefa da Lava-Jato pelo site The Intercept Brasil, como o então juiz e hoje ministro da Justiça Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, levantaram mais questionamentos sobre a operação.

O caso também pode desencadear manifestações de outros investigados na Lava-Jato. O movimento já começou. Os advogados do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) afirmaram em nota que as declarações são “esquizofrênicas” e “revelam agora aquilo que a defesa já sabia: as ilegalidades praticadas contra Eduardo Cunha, à época que ele conduziu com o fígado o Ministério Público Federal, violavam princípios básicos como a impessoalidade”, mostrando que Cunha foi “acusado e processado por um Procurador suspeito, sem qualquer chance de justiça”.

Declarações do tipo, até então, estavam restritas à defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pede reavaliação do caso após as conversas vazadas pelo The Intercept.

A Lava-Jato terá com Lula, inclusive, uma de suas maiores batalhas no STF, quando a corte julgar uma possível suspeição do então juiz Sergio Moro, o que deve acontecer entre outubro e novembro. Se o primeiro semestre foi difícil para a Lava-Jato, o segundo pode ser ainda pior.

Acompanhe tudo sobre:Exame HojeOperação Lava JatoRodrigo JanotSergio MoroSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

Inmet prevê chuvas intensas em 12 estados e emite alerta amerelo para "perigo potencial" nesta sexta

'Tentativa de qualquer atentado contra Estado de Direito já é crime consumado', diz Gilmar Mendes

Entenda o que é indiciamento, como o feito contra Bolsonaro e aliados

Moraes decide manter delação de Mauro Cid após depoimento no STF