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Após ataques na internet, ministra da Agricultura cobra apoio de Bolsonaro

Tereza Cristina sofre ataques na internet, mirando filiação ao DEM e defesa da relação com a China, e não estaria disposta a sofrer fritura pública

Ministra da Agricultura, Tereza Cristina 
18/01/2019
REUTERS/Ueslei Marcelino (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ministra da Agricultura, Tereza Cristina 18/01/2019 REUTERS/Ueslei Marcelino (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de abril de 2020 às 17h52.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai pedir ao presidente Jair Bolsonaro, nesta segunda-feira, 20, durante despacho no Palácio do Planalto, que ele interceda junto às tropas bolsonaristas para suspender a escalada de ataques a ela pela internet após as crises artificiais criadas por setores governistas com a China e principalmente a partir da demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde.

Bolsonaro demitiu Mandetta na tarde de quinta-feira, 16, e naquela mesma noite já atirava contra seu novo inimigo número um o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Tereza Cristina é do DEM, como Maia, Mandetta, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que acaba de romper com o Planalto.

Ela é também do Mato Grosso do Sul, como Mandetta, e líder ruralista, como Caiado. Sua assessoria identifica articulações e um aumento considerável de ataques sem sentido contra ela na internet, com o dedo do chamado "gabinete do ódio", o grupo do Planalto que dispara impropérios e fakenews contra adversários reais ou imaginários do presidente.

No primeiro ano de governo, o DEM teve três ministros: Tereza Cristina, Mandeta e Onyx Lorenzoni, depois rebaixado da Casa Civil para o Ministério da Cidadania. Diante da guerra de Bolsonaro com o partido, Onyx ainda não sabe se deve ou não migrar do DEM para o Aliança, o partido que o presidente tenta criar. Tereza Cristina está sendo indiretamente forçada a optar entre o Ministério da Agricultura e o seu partido. Uma escolha que ela não está disposta a fazer, pois se sente confortável no DEM e tem boa relação com Bolsonaro. Como sempre diz, neste momento seu negócio é a Agricultura, não a política.

A principal diferença entre os casos dos dois ministros é justamente essa: Mandetta batia de frente com o próprio presidente da República por divergências quanto ao isolamento social no combate ao coronavírus, enquanto o problema de Tereza Cristina não é Bolsonaro. Ela é respaldada por ele, mas alvo de hostes bolsonaristas, principalmente das mais ligadas ao seu setor, a Agricultura. A outra diferença é que, conforme tem dito a aliados e amigos, a ministra não tem a menor intenção de ser "fritada" publicamente durante semanas, como foi Mandetta. Se tiver que sair, quer sair logo. Com mandato de deputada, ela volta para a Câmara.

Além da questão político-partidária em torno do DEM, há também a questão ideológica envolvendo a China. Enquanto o deputado Eduardo Bolsonaro e o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fazem provocações contra o maior parceiro comercial do Brasil, um culpando a China pela pandemia, outro usando o personagem de quadrinhos Cebolinha para ironizar os chineses, Tereza Cristina trabalha em sentido oposto: restabelecer pontes.

A China é a maior importadora de soja do Brasil. No ano passado, foi responsável por 80% das compras do produto e pela entrada de R$ 20 bilhões no setor. Afinal, como lembram integrantes da Frente Parlamentar da Agricultura, em maioria bolsonaristas e aliados da ministra, o país tem 1,4 bilhão de bocas a serem alimentadas. Nunca é hora de brigar com a China, muito menos em tempos de pandemia por covid-19 e o mundo de ponta cabeça.

A grande preocupação, não só da ministra, mas de toda a agricultura, é que os Estados Unidos entrem no vácuo e se habilitem como principal exportador para a China, tirando mercado brasileiro. E não é só em relação a soja. O Brasil também abriu brechas na China para exportar carne bovina, de frango e de porco. Se essas brechas se fecharem, o que fazer com a produção?

Até por isso, a ministra participou de uma videoconferência de mais de uma hora com o embaixador americano em Brasília, o recém-chegado Todd Chapman. Ela não passou detalhes a seus interlocutores do Congresso, limitando-se a dizer que a conversa foi "muito boa", e deixou claro que a questão agrícola não é de aliança política com esse ou aquele país, mas sim "de mercado".

Além da Frente, associações e órgãos ligados à agricultura têm defendido a ministra e criticado os ataques do filho do presidente e do ministro da Educação contra a China. Alguns se prontificaram, inclusive, a fazer moções e manifestos a favor de Tereza Cristina, que desestimula iniciativas do gênero e, nas conversas com integrantes desses grupos, sempre se refere ao "nosso governo", elogia o presidente Bolsonaro e diz que a relação entre eles é muito boa.

O agronegócio, porém, não é um monobloco. Além dos favoráveis, há também os adversários da ministra, que pressionam por mais recursos e agora usam a crise para tentar arrancar mais privilégios. São esses que, na opinião dos aliados dela, estão se aproveitando do ambiente político e dos atritos do presidente com o DEM para tentar miná-la junto ao Planalto. A palavra está com Bolsonaro. 

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