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Após 8 meses, morte de Marielle Franco e Anderson Gomes ainda é mistério

Hoje (14), se completam oito meses do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes; entidades cobram respostas das autoridades

Marielle Franco: oito meses depois, não há respostas sobre o caso (Mário Vasconcellos/CMRJ/Divulgação)

Marielle Franco: oito meses depois, não há respostas sobre o caso (Mário Vasconcellos/CMRJ/Divulgação)

Guilherme Dearo

Guilherme Dearo

Publicado em 14 de novembro de 2018 às 14h45.

Última atualização em 14 de novembro de 2018 às 14h50.

São Paulo - Hoje (14), se completam oito meses do assassinato de Marielle Franco, à época vereadora pelo PSOL no Rio de Janeiro. Na emboscada ao carro de Marielle, seu motorista Anderson Gomes também foi morto. Meses depois, o caso parece longe de ser solucionado, apesar de autoridades prometerem encontrar os responsáveis até o fim de 2018.

Desde o começo cobrando respostas para o crime, a Anistia Internacional divulgou nesta quarta-feira um relatório onde detalha o que já se sabe sobre o caso e o que ainda falta ser respondido, no que chamou de "labirinto".

"O objetivo é apontar questões graves que não foram respondidas, possíveis incoerências e contradições no decorrer da investigação e questionar o posicionamento das autoridades competentes", disse a Anistia em comunicado oficial.

“É chocante olhar para tudo o que já foi divulgado sobre as investigações do assassinato de Marielle Franco ao longo de oito meses e ver que o padrão foi de inconsistências, incoerências e contradições. As autoridades não respondem às denúncias graves que vieram à tona", afirmou Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional no Brasil.

Em um evento no Rio de Janeiro, a Anistia Internacional sugeriu a criação de um comitê externo e independente do Estado brasileiro para acompanhar as investigações. Tal comissão poderia ser composta por peritos e juristas, sem ligações com as autoridades brasileiras, para verificar o andamento das investigações e ajudar a encontrar os responsáveis pelo crime.

No evento, o pai de Marielle Franco, Antônio, disse que a impressão era de que as autoridades estão "enxugando gelo", pois nada avançava.

Dúvidas urgentes

O relatório aponta o que se sabe e o que não se sabe em cinco categorias-chave: disparos e munição; a arma do crime; os carros e aparelhos usados e as câmeras de segurança; procedimentos investigativos; e o andamento das investigações.

Uma das dúvidas é sobre a procedência da arma usada no crime (submetralhadora HK-MP5) e a munição encontrada (pertencente ao lote UZZ-18). As submetralhadoras são de uso restrito e são incomuns no Brasil. Cinco dessas armas sumiram, sem explicação, do arsenal da Polícia Civil. Já o lote de munição UZZ-18 pertence à Polícia Federal. Supostamente, um carregamento dessa munição foi desviado em 2009, na Paraíba. Cápsulas do mesmo lote foi encontrado em uma chacina em São Paulo, em 2015.

Para a Anistia, é urgente as investigações responderem: como essas armas sumiram e quem foi o responsável por isso; como que a munição UZZ-18 foi desviada da Polícia Federal e qual a relação desse crime com o grupo de extermínio que agiu em São Paulo em 2015.

Outro ponto crucial passa pelas câmeras de segurança pública. As câmeras que monitoravam as ruas e área onde o crime ocorreu foram misteriosamente desligadas às vésperas da noite do assassinato. O fato impediu a existência de imagens precisas do ataque. Para a Anistia, é urgente responder por que essas câmeras estavam coincidentemente desligadas e quem as desligou.

Labirinto

Quinta vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016, Marielle Franco, 38, foi morta na noite de 14 de março desse ano, no bairro de Estácio, no Rio. Ela estava no carro quando foi atingida por disparos. Seu motorista Anderson Gomes também morreu no ataque. Sua assessora, no banco do passageiro, sobreviveu. As trajetórias das balas e a precisão indicam que os criminosos sabiam onde Marielle estava sentada e visavam a vereadora. A hipótese de um assalto ou latrocínio foi descartada.

Marielle atuava defendendo os direitos humanos e os direitos das mulheres, dos negros e das pessoas LGBTI. Também denunciava os abusos e crimes cometidos por policiais e outros agentes do estado nas comunidades cariocas.

As investigações iniciais do caso indicam que o crime foi cuidadosamente planejado e que pode ter contado com o envolvimento de agentes do estado e das forças de segurança.

Um ponto que pode ajudar a entender a demora na solução do crime é a suspeita de que forças que estariam agindo para impedir as investigações. No começo de novembro, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou que a Polícia Federal investigaria a existência de um grupo criminoso que estaria agindo para atrapalhar e impedir as investigações do crime. Agentes públicos e milicianos poderiam estar nesse grupo.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, foi quem pediu a investigação, a partir do depoimento de duas pessoas que estariam ligadas ao crime. Segundo o jornal O Globo, uma dessas testemunhas seria o ex-policial militar Orlando de Oliveira Araújo, atualmente preso no Rio Grande do Norte. Ele teria dito em depoimento que não tinha nada a ver com as mortes, mas que sabia que a Polícia Civil do Rio não tinha interesse em investigar o caso e que havia pagamento de dinheiro a agentes públicos para impedir as investigações.

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