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Apoios de última hora favoreceram Haddad, diz coordenador da FGV

Especialista avalia que a declaração de apoio do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa a Haddad foi "importantíssima"

Haddad: apoio de Joaquim Barbosa foi importante, segundo o cientista (Ricardo Moraes/Reuters)

Haddad: apoio de Joaquim Barbosa foi importante, segundo o cientista (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de outubro de 2018 às 22h47.

São Paulo - O cientista político e coordenador do mestrado Gestão em Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudio Couto, avalia que a declaração de apoio do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa ao candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, foi "importantíssima" para o crescimento dele nas pesquisas de intenção de voto divulgadas neste sábado pelo Datafolha e Ibope.

"É uma pessoa que atuou contra a corrupção nos últimos anos, inclusive contra o PT. Imagino que a declaração pode ter um efeito em muita gente que gostava do Joaquim Barbosa e ficava ressabiada quanto ao PT", disse Couto.

Para o cientista político, como as pesquisas foram realizadas nos últimos dias e o apoio foi declarado apenas na manhã deste sábado, parte de seu efeito sobre as intenções de votos declaradas pelos eleitores pode não ter sido captada.

Couto considera, além disso, que a "insistência contínua sobre o caráter antidemocrático da candidatura de (Jair) Bolsonaro", por parte da campanha de Haddad, surtiu efeito maior na reta final da corrida presidencial. A declaração de apoio do youtuber Felipe Neto, com número muito grande de seguidores jovens, também teve um peso importante na reta final da campanha, na avaliação de Couto.

"Também tem a reorientação, ainda que tímida, de a campanha de Haddad fazer um mea culpa sobre certos assuntos, como políticas econômicas (adotadas por governos) do PT", complementou o cientista político.

Quanto às sucessivas quedas nas intenções de voto para Bolsonaro, Couto considera que alguns pontos foram relevantes. Entre eles, as declarações do próprio candidato em ato na Avenida Paulista, em São Paulo, de que iria "varrer os bandidos vermelhos do Brasil", que teriam de ir "para fora ou para a cadeia".

"A declaração provocou reações contrárias de diversas lideranças políticas e produziu alguns apoios surpreendentes (a Haddad) nessa reta final", disse.

A declaração de Eduardo Bolsonaro sobre o STF (de que bastariam um cabo e um soldado para fechar o órgão) e as posteriores explicações também pesaram contra o candidato do PSL, na análise de Couto. Após a declaração, Jair Bolsonaro disse que já havia advertido o "garoto".

"Para alguém que defende a redução da maioridade penal no País, foi uma inconsistência", comentou o cientista político.

Couto ponderou que ainda há grande distância entre os dois candidatos, mas avaliou que a "eleição (presidencial) está mais em aberto do que há alguns dias atrás".

Sobre o fato de Ciro Gomes (PDT) não ter declarado apoio à candidatura de Haddad, como se aventou, Couto considerou que o apoio poderia ter ajudado o presidenciável do PT a subir mais nas pesquisas. E considerou que a decisão, do ponto de vista de estratégia de Ciro para o futuro, "pode ter sido um tiro no pé".

"Sendo o Ciro tão alinhado à esquerda e o (seu) partido tendo dado apoio crítico (a Haddad) lá no começo (logo após o primeiro turno), o movimento era esse. Ao ficar nessa posição, parece que se queimou com a esquerda", disse Couto. "A percepção é de que ele saiu menor dessa eleição do que entrou", concluiu.

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