Jair Bolsonaro: briga entre guru do governo e líder evangélico é a nova dor de cabeça para o presidente (Carlos Barria/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de março de 2019 às 14h35.
Última atualização em 23 de março de 2019 às 15h01.
São Paulo — Dois dos principais líderes do bolsonarismo e com grande influência nas redes sociais estão em conflito: o filósofo Olavo de Carvalho e o pastor Silas Malafaia.
Tudo começou quando o evangélico criticou, no início da semana, uma declaração de Eduardo Bolsonaro sobre Olavo ter sido o maior responsável pela vitória do pai nas eleições 2018. Para Silas, foram os evangélicos - e ele - os responsáveis pela eleição de Bolsonaro. "Perde a oportunidade de ficar de boca fechada. É simplesmente ridículo. Aprenda a respeitar aliados e deixe de bajular guru", escreveu no dia 18.
EDUARDO BOLSONARO! Eu fui um dos principais apoiadores do seu pai na campanha. Continuo apoiando e peço a Deus que ele faça um grande governo em prol do povo brasileiro. Você como político tem muito que aprender.Para começar aprenda a respeitar aliados e deixe de bajular guru.
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) March 18, 2019
Nesta sexta, 22, Olavo publicou uma mensagem no Facebook direcionada a Silas dizendo que as igrejas evangélicas demoraram para começar a atuar na luta contra o petismo. "Pelo menos até 2009 ainda se davam muito bem com o partido governante", escreveu Olavo, sobre os evangélicos. "Nesse ano Lula em pessoa oficializou em lei a Marcha Para Jesus. Será que o senhor já esqueceu?"
Malafaia reagiu neste sábado com uma sequência de tweets atacando o filósofo. Nesta altura, a discussão ganha um detalhe: Olavo chama o pastor de "bispo". Malafaia chama o filósofo de "astrólogo".
OLAVO DE CARVALHO ESTÁ EQUIVOCADO EM RELAÇÃO AOS EVANGÉLICOS 1 > Vou colocar uma série de Twitter para desmentir o astrólogo Olavo de Carvalho sobre os evangélicos estarem contra a esquerda 20 anos depois dele. Coitado não sabe de nada!
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) March 23, 2019
OLAVO DE CARVALHO ESTÁ EQUIVOCADO EM RELAÇÃO AOS EVANGÉLICOS 2 > Em 1989 , apoiar o PT era como um pecado no mundo evangélico.A liderança evangélica, quase que absoluta , repudiava a esquerda fazendo comparação com a perseguição dos comunistas aos evangélicos na antiga URSS.
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) March 23, 2019
OLAVO DE CARVALHO ESTÁ EQUIVOCADO EM RELAÇÃO AOS EVANGÉLICOS 3 > Em 1989 eu não possuía nenhuma relevância na liderança evangélica, tinha 8 anos como pastor. Minhas posições não possuíam nenhuma influência na comunidade evangélica.
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) March 23, 2019
Malafaia prometeu "desmentir" o filósofo. Disse que votou em Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, reconheceu apoio a Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 "pela crença de que ele poderia resgatar o Brasil da miséria", mas disse que não se posicionou a favor de petistas desde então.
"Olavo estava em um rancho nos EUA, eu e Bolsonaro tomando pancada do ativismo gay", relatou Silas sobre os idos de 2006. "Ficar dando piruada escondido nos EUA, é mole! Aqui fui ameaçado, até hoje respondo processo por defender convicções que Bolsonaro também defende. O meu caso de acusação de homofobia está no STF."
Depois de dizer que "a influência de Olavo na eleição de Bolsonaro é quase zero", Malafaia cobrou o posicionamento do filósofo acerca de algumas questões e voltou a fazer ataques: "Sua posição sobre Israel, inquisição, esoterismo . Como tem gente enganada no mundo evangélico com esse sujeito. Dizer que nós só chegamos agora para defender esses princípios ideológicos, é rasgar a história, nossas crenças e valores. Bolsonaro reconhece o papel fundamental dos evangélicos."
O filósofo tem criticado abertamente apoiadores de Bolsonaro. Neste sábado, antes dos comentários de Malafaia, sugeriu a discussão acerca de um "medidor de bolsonarismo" para identificar quem realmente está comprometido com o governo.
"O presidente disse que o grande objetivo da sua vida e do seu governo é eliminar e ideologia esquerdista. Quantos dos seus pretensos aliados têm a mesma prioridade, e quantos lutam por objetivos totalmente diferentes, nada concedendo à meta presidencial? Não está na hora de fazermos um "medidor de bolsonarismo" para separar as ovelhas dos bodes?", escreveu Olavo.