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Apesar dos resultados, pré-candidatos em SP põem em xeque câmeras da PM

Mesmo com redução de mortes de policiais e de suspeitos após adoção da medida, pré-candidatos paulistas questionam iniciativa em busca de eleitores bolsonaristas

Policiais militares paulistas utilizam câmeras desde 2020, mas iniciativa é questionada por pré-candidatos (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)

Policiais militares paulistas utilizam câmeras desde 2020, mas iniciativa é questionada por pré-candidatos (Governo do Estado de São Paulo/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de abril de 2022 às 20h25.

A maioria dos pré-candidatos ao governo paulista tem adotado um tom crítico em relação ao uso de câmeras acopladas ao uniforme de policiais militares. As manifestações recentes indicam a disposição dessas pré-campanhas de se conectar com o eleitorado bolsonarista no Estado. Tarcísio de Freitas (Republicanos), Márcio França (PSB), Felício Ramuth (PSD) e Vinicius Poit (Novo) defendem mudanças no projeto implementado no governo João Doria (PSDB).

O governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição, manifestou dúvidas sobre o programa antes de passar a defendê-lo. Entre os pré-candidatos mais conhecidos, só Fernando Haddad (PT) tem endossado a iniciativa.

A medida, que levou à redução de mortes de policiais e de suspeitos em confronto, foi adotada em 2020 pelo secretário de Segurança Pública de Doria - então governador e hoje pré-candidato à Presidência -, general João Camilo Pires de Campos. A ação virou vitrine.

Desde o início, o projeto foi alvo de críticas de bolsonaristas. Em redes sociais, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi o primeiro a questionar "a quem interessa" um equipamento que grava ações de PMs em tempo integral.

Tarcísio, ex-ministro da Infraestrutura e pré-candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, promete abolir o uso de câmeras. "Tarcísio pretende acabar com a obrigatoriedade de câmeras no fardamento policial por considerar que a forma mais efetiva de combate ao crime é garantir treinamento contínuo e capacitação de qualidade para a tropa, de forma a assegurar a capacidade de agir de acordo com as circunstâncias enfrentadas nas ruas de São Paulo", afirmou a assessoria do pré-candidato, em nota.

Resultados positivos

Os números mostram os efeitos da iniciativa. A queda de letalidade policial no Estado após a adoção das câmeras foi de 46% na média mensal, comparando o período anterior ao posterior à adoção do sistema.

Os 18 batalhões que trabalham com câmeras registraram diminuição de 85% (mais informações nesta página). Houve, ainda, segundo a Secretaria da Segurança Pública aumento de 41% das prisões em flagrante na comparação com os batalhões sem câmeras.

Relatório da Ouvidoria da Polícia divulgado na quarta-feira passada mostra queda de 10% de denúncias de abuso de autoridade e de 41% de lesão corporal. O total de queixas contra a PM caiu 10,8% de 2019 a 2021.

"O programa está sendo mal compreendido. Ele não visa só à redução da letalidade, que é palco de disputa ideológica, mas serve para proteção do policial", disse Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O ano passado foi o que registrou o menor número de policiais mortos em serviço desde 1991. Foram quatro - três deles em acidentes de trânsito.

Para surpresa de tucanos ligados a Doria, Garcia chegou a pôr o projeto em xeque. Em entrevista à revista Veja São Paulo, ele afirmou que as câmeras precisariam "filmar mais os bandidos do que a polícia". "Para as operações especiais, como Choque e Rota, eu realmente tenho dúvidas", completou.

Mais tarde, em entrevista ao Estadão, o governador mudou o discurso. "Tenho repetido: as câmeras filmam o bandido e protegem o policial. Transformar seu uso numa discussão ideológica, do contra ou a favor, é não levar a sério a segurança pública. Os dados até agora mostram que as câmeras protegem a vida do policial. Ninguém me provou o contrário", disse.

Oposição se divide

As críticas do bolsonarismo encontraram abrigo na esquerda. No momento em que tenta construir aliança com o PT, França vai na contramão de Haddad, ex-ministro, ex-prefeito e pré-candidato. "Sobre a utilização de câmeras, defendo que elas sejam acionadas em momentos de conflitos ou em ações específicas. Por exemplo: no momento em que o policial sacar a arma, a câmera começa a gravar imediatamente. Ao que me oponho é a esse formato ‘BBB’ em que uma policial nem sequer pode ir ao banheiro sem ser filmada", disse o pré-candidato do PSB.

Haddad, por sua vez, fez um raro elogio à gestão Doria e classificou a medida como um "avanço". "Eu sou pela vida das pessoas. Sempre. A maioria dos especialistas em segurança pública defende a utilização das câmeras no uniforme dos PMs.", afirmou ao Estadão.

Ramuth, ex-prefeito de São José dos Campos e pré-candidato do PSD, disse ser favorável à tecnologia, mas com adequações. "As câmeras são necessárias e tiveram resultado positivo no patrulhamento de rotina, mas, nas operações especiais, defendo protocolos específicos estabelecidos pelas próprias forças de segurança."

Poit defendeu também com ressalvas. "Acho que é uma decisão que deve ser tomada em conjunto com as forças de segurança pública, baseada em dados e evidências", afirmou o pré-candidato do Novo.

Para o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC, os questionamentos revelam tentativa de diálogo dos pré-candidatos com o eleitor bolsonarista, que hoje tende a votar em Tarcísio. "Em São Paulo, em Minas e no Rio, a disputa entre Bolsonaro e Lula será mais forte. Por isso, Garcia terá dificuldade de se colocar em uma terceira via. Já França viu seu campo congestionado com Haddad e busca um crescimento artificial da intenção de voto sinalizando para o eleitor conservador." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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