Brasil

Apesar de chefiar OMC, País caminha para acordos bilaterais

Autoridades afirmam que foram instruídas a priorizar uma maior integração com os Estados Unidos e a União Europeia


	Roberto Azevêdo, diretor da OMC: oficialmente, o governo Dilma diz que planeja avançar tanto em negociações multilaterais na OMC quando em acordos comerciais mais focados
 (Elza Fiúza/ABr)

Roberto Azevêdo, diretor da OMC: oficialmente, o governo Dilma diz que planeja avançar tanto em negociações multilaterais na OMC quando em acordos comerciais mais focados (Elza Fiúza/ABr)

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Da Redação

Publicado em 10 de maio de 2013 às 17h18.

Brasília - O Brasil fez forte campanha para conseguir a chefia da Organização Mundial do Comércio (OMC) nesta semana, mas a portas fechadas o próprio país admite que a principal missão da entidade --avançar nas negociações globais de comércio-- parece no momento uma causa perdida.

Em vez disso, o governo da presidente Dilma Rousseff avança, ainda que cautelosamente, na direção de acordos bilaterais e regionais menos ambiciosos que podem ter maior chance de sucesso.

Na terça-feira, o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo venceu a disputa para ser o próximo diretor-geral da OMC, o que foi comemorado por Dilma como uma vitória dos países em desenvolvimento.

Mas com as negociações lideradas pela OMC no limbo há anos, várias autoridades afirmaram à Reuters que foram instruídas a priorizar uma maior integração com os Estados Unidos e a União Europeia.

"O Brasil fez uma aposta pela OMC, mas agora a OMC não tem muita perspectiva de avançar. Assim, começa a surgir a percepção de que temos que partir para acordos bilaterais", disse uma autoridade que, como as outras, pediu anonimato.

"O governo começa a acordar para o fato de que o mundo está avançando e nós estamos perdendo mercado. Não podemos ficar parados." Os mais próximos a Dilma dizem que ela não é uma protecionista, mas tem se mostrado relutante em explorar negociações comerciais devido a desequilíbrios econômicos ainda remanescentes da crise global de 2008/09.

Ela tem reclamado que países ricos estariam promovendo uma "guerra cambial" para enfraquecer suas moedas por meio de políticas monetárias expansionistas, favorecendo de forma injusta suas próprias exportações.

Como resultado, Dilma elevou no ano passado os impostos sobre dezenas de produtos importados, de carros a vidro, fechando o Brasil ainda mais.

O comércio responde por apenas 25 % da economia brasileira, a menor proporção na América Latina de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), atrás de Venezuela (52 %), México (59 %) e Chile (71 %).


O Brasil teve por muito tempo uma reputação de detonar as negociações comerciais, ao invés de impulsioná-las. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi fundamental para enterrar os planos de pacto de comércio de todas as Américas na última década, e também ajudou a estancar a rodada Doha de negociações comerciais, insistindo para que Washington e Bruxelas desmantelassem seus subsídios agrícolas.

No entanto, o persistente crescimento fraco da economia, que cresceu apenas 0,9 % no ano passado e está patinando em 2013, parece estar influenciando a presidente Dilma a buscar uma maior integração, dizem observadores.

"Você finalmente tem um governo que sabe que o país não pode ficar isolado", disse Vera Thorstensen, chefe do Centro de Comércio Global e Investimento da Fundação Getúlio Vargas.

Sinais recentes

Oficialmente, o governo Dilma diz que planeja avançar tanto em negociações multilaterais na OMC quando em acordos comerciais mais focados.

"O Brasil segue defendendo que a liberalização pela via multilateral", disse o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior em resposta por email à Reuters. "Este esforço tem sido combinado com o empenho em aprofundar a integração regional e estabelecer acordos com parceiros selecionados." Ainda assim, os sinais mais encorajadores têm claramente vindo do fronte bilateral.

Vários diplomatas disseram ter ficado surpresos com uma reunião de executivos norte-americanos e brasileiros neste ano, em que autoridades brasileiras --entre elas o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel --prometeram acelerar as negociações para acordos bilaterais de investimento e serviços com Washington.

O que acreditava-se ser uma reunião rotineira em Brasília acabou virando um "sopro de ar fresco" para o comércio entre os dois países, disse um diplomata.


Também há sinais de que líderes empresariais podem estar começando a se afastar lentamente do protecionismo. Por exemplo, autoridades afirmaram que uma recente consulta do governo junto a líderes empresariais mostrou amplo suporte à aceleração das negociações com a União Europeia.

"Hoje vivemos em um mundo em que o países estão baixando as barreiras tarifárias, impulsionando o comércio e sendo mais competitivos. Nós estamos perdendo competitividade",disse o diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi.

Parte dessa mudança pode ser explicada por acontecimentos recentes. Apesar de uma safra recorde de soja, a balança comercial do Brasil tem se deteriorado tanto neste ano que alguns temem que o país poderá registrar seu primeiro déficit comercial anual em 13 anos.

O senso de urgência também tem sido alimentado por uma série de pactos comerciais regionais sendo trabalhados entre Estados Unidos, Europa e outros países na Ásia e América Latina que podem deixar o Brasil de fora.

E a capacidade do Brasil de negociar acordos comerciais também sofre a restrição das regras do Mercosul, o bloco comercial regional que também inclui Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela.

O Mercosul proíbe os países de assinarem unilateralmente acordos que envolvam o comércio de bens. Entretanto, num momento de alta tensão com a Argentina, o Brasil avalia a ideia de flexibilizar as regras para permitir que cada membro negocie acordos comerciais a seu próprio ritmo, disseram autoridades empresariais e do governo.

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