Agência de notícias
Publicado em 9 de junho de 2025 às 18h05.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto se reuniram com o ex-presidente para discutir a possibilidade das urnas eletrônicas serem alvo de fraude durante as eleições de 2022. Segundo Cid, o encontro foi agendado pela parlamentar e realizado no Palácio Alvorada.
— Foi na hora do café da manhã. Eles chegaram bem cedo. O hacker estava levantando as hipóteses de como poderia ter sido feita a fraude e como se poderia descobri-la — disse Cid. Segundo o tenente-coronel, Bolsonaro pediu que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, marcasse outro encontro com Delgatti para continuar a discussão sobre as possíveis fraudes.
O tenente-coronel também que o ex-presidente e o general Braga Netto tinham "expectativa" de que fosse detectada uma fraude nas urnas eletrônicas para que "alguma coisa" acontecesse. Segundo ele, a identificação de um eventual problema no sistema eletrônico poderia "convencer" as Forças Armadas a intervirem no processo de transição de governo, no fim de 2022 — o que não aconteceu porque nenhuma vulnerabilidade foi encontrada.
— A expectativa é que fosse encontrada uma fraude nas urnas. O que nós vimos era uma busca por uma fraude nas urnas. Com a fraude nas urnas, poderia convencer as Forças Armadas a fazer alguma coisa — disse Cid em resposta ao procurador-geral da República, Paulo Gonet. — Bolsonaro sempre buscou fraude nas urnas — complementou Cid.
Um pouco antes, o tenente-coronel afirmou que o governo Bolsonaro não detectou nenhuma fraude nas urnas, apesar da pressão exercida pelo ex-presidente em cima do Ministério da Defesa — a pasta criou um grupo para verificar o processo eleitoral.
Cid também confirmou ao Supremo que Bolsonaro queria uma ação "mais contundente" e um "documento duro" do Ministério da Defesa.
— Essa pressão realmente existia. Ele [Paulo Sérgio] tinha uma conclusão nesse documento voltada para um lado mais técnico, e se tinha a tendência de fazer algo voltado mais político. E no final se chegou a um meio termo que foi o documento produzido e assinado — disse o militar, referindo-se ao relatório produzida pelas Forças Armadas sobre o Sistema Eletrônico de Votação após as eleições de 2022.
No início do depoimento, Moraes ainda perguntou a Cid se algum integrante do governo chegou a detectar algum indício de fraude nas eleições daquele ano.
— Não conseguiu se provar nada — respondeu Cid.
Zambelli foi condenada pelo STF pela invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com objetivo de adulterar documentos, como a emissão falsa de mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes.
No sábado, Moraes determinou que o Ministério da Justiça deve formalizar um pedido de extradição da deputada federal, que está na Itália e foi condenada a 10 anos de prisão. Além disso, mandou comunicar imediatamente a Câmara dos Deputados da perda de mandato dela, que faz parte da condenação, e transformou sua prisão preventiva em definitiva.
O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos/PB), sinalizou nesta segunda-feira que dará andamento à decisão:
— Vamos dar andamento ao rito para cumprir a decisão do STF — disse Motta durante o seminário “Agenda Brasil — o cenário fiscal brasileiro”, promovido pelo Valor, pela rádio CBN e pelo jornal “O Globo”.
Na sexta-feira passada, a Primeira Turma do STF rejeitou, por unanimidade, um recurso apresentado por Zambelli contra sua condenação, ocorrida em maio. Com isso, a ação penal foi encerrada e Moraes determinou a prisão definitiva de Zambelli e de Delgatti, também condenado na mesma ação, mas a oito anos e três meses de prisão.
Dois dias antes, Moraes já havia determinado a prisão preventiva de Zambelli, após ela anunciar que deixou o Brasil. Agora, o mandado de prisão segue valendo, mas o início do cumprimento da pena. Da mesma forma, Delgatti já estava preso preventivamente e seguirá detido.