Auxiliada por Antonio Patriota, a presidente Dilma Rousseff deve reforçar laços com os países do Mercosul (Roberto Stuckert Filho/Presidência)
Da Redação
Publicado em 17 de janeiro de 2011 às 05h36.
Brasília - Em duas semanas, a presidente Dilma Rousseff mostrará seu estilo de comandar a política externa brasileira. A decisão de começar a agenda internacional pela Argentina, no próximo dia 31, indica que a prioridade dela será a América do Sul. A ideia é reunir em uma só agenda os temas de políticas econômica e social. Por todos os países que vai visitar, Dilma deve defender que a área social é fundamental para o desenvolvimento equilibrado da região.
Uma das propostas em estudo é mostrar os resultados positivos dos programas de transferência de renda no Brasil. O exemplo deverá ser o Programa Bolsa Família, que atende cerca de 60 milhões de pessoas, repassando R$ 90 mensais. O destaque da experiência brasileira, segundo especialistas, está na parceria entre órgãos públicos e privados.
A presidenta avisou a assessores que pretende visitar também o Uruguai, o Paraguai e o Peru até março. A meta em todas as viagens é dar destaque às questões sociais. Só depois ela viajará para outros países, como os Estados Unidos, a China e a Bulgária. Antes de visitar cada um, Dilma enviará o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, para articular as reuniões.
Para a Argentina, a presidenta seguirá com uma comitiva de ministros e assessores que atuam nas áreas econômica, de ciência e tecnologia, defesa e social. No total, brasileiros e argentinos estão envolvidos em 22 projetos distintos - nos setores nuclear, espacial, de material de defesa e coordenação macroeconômica, além de construção de obras.
Apenas o comércio entre o Brasil e a Argentina, em 2010, registrou US$ 32,9 bilhões - favoráveis ao Brasil. Os materiais industrializados são a base comercia.l De acordo com assessores, o nível de integração nesse setor entre os dois países é absoluto. Na semana passada, Patriota conversou com praticamente toda a equipe de governo da Argentina - da presidenta Cristina Kirchner aos ministros das principais áreas.
Na visita a Buenos Aires, Dilma e os ministros brasileiros negociarão ainda a ampliação das parcerias nas áreas de energia elétrica e nuclear, além de tecnologia digital e investimentos no setor de mineração. Um dos projetos se refere à construção do complexo hidrelétrico de Garabi, na região argentina de Corrientes, e o estado do Rio Grande do Sul. O objetivo é começar as obras em 2012 para que no futuro a hidrelétrica seja capaz de gerar aproximadamente 2.900 megawatts.
Dilma decidiu adiar para meados de fevereiro a visita ao Uruguai prevista para o próximo dia 1º. A decisão foi tomada para ter mais espaço na agenda, segundo assessores. Em Montevidéu, também serão firmadas parcerias nas áreas econômica e tecnológica. Pelo menos sete propostas de ratificação de acordos são preparadas.
Já estão em fase avançada a série de estudos sobre o porto de águas profundas em La Paloma, a construção do centro de feiras e convenções em Montevidéu, a hidrovia da Lagoa Mirim e portos fluviais. Também está prevista uma reunião sobre as pontes no Rio Jaguarão que liga os municípios de Jaguarão e Rio, assim como a recuperação da ponte Barão de Mauá - por onde passam os turistas que tentam ir de um país ao outro.
Visitas ao Paraguai e ao Uruguai
Antes das viagens ao exterior da presidenta Dilma Rousseff, o ministro Antonio Patriota segue hoje (17) para o Paraguai e amanhã (18) para o Uruguai. Nos dois países, estão marcadas reuniões com os presidentes paraguaio, Fernando Lugo, e uruguaio, José Pepe Mujica. Com Lugo, os temas vão desde o processo de regularização dos chamados brasiguaios até a revisão de tarifas da Hidrelétrica de Itaipu.
Em Assunção hoje, Patriota tem reuniões marcadas com Lugo, o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Héctor Lacognata, e ministros das áreas econômica e social. Desde julho de 2010, há um processo de regularização de documentos dos cerca de 90 mil brasiguaios - pequenos agricultores que vivem na área fronteiriça.
De acordo com autoridades dos dois países, muitos dos chamados brasiguaios estavam sem documentação. No ano passado, cerca de 8 mil tiveram a situação regularizada. Esses agricultores reclamam também de preconceito e do tratamento diferenciado por parte das autoridades paraguaias.
Outro tema que está na agenda de discussão é a revisão do Tratado de Itaipu. O acordo aguarda votação no Congresso brasileiro. Pelo texto, haverá um reajuste de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões sobre a taxa anual de cessão paga ao Paraguai pela energia não usada da Usina de Itaipu.
Atualmente, o Brasil paga US$ 43,8 pelo megawatt/hora de Itaipu somados a US$ 3,17 pela cessão da energia que o Paraguai não utiliza. O valor da taxa de cessão será de US$ 9,51 tão logo o acordo seja aprovado pelos dois parlamentos. O comércio entre o Brasil e o Paraguai atingiu US$ 3,16 bilhões em 2010, o que representa aumento de 39% em relação a 2009.
De Assunção, Patriota segue amanhã para Montevidéu. O chanceler tem reuniões marcadas com Mujica e o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Luis Almagro. Assim como no Paraguai e na Argentina, ele se reunirá com ministros de várias áreas. O objetivo é avançar nas discussões nas áreas de infraestrutura, integração produtiva e ciência e tecnologia.
O Brasil é o principal parceiro comercial do Uruguai. Em 2010, o intercâmbio chegou a US$ 3,1 bilhões, o que representou aumento de 19,4% em relação a 2009. Em decorrência do crescimento de quase 27% na exportação de produtos uruguaios ao Brasil, o intercâmbio comercial ficou mais equilibrado, com um pequeno superávit de US$ 43 milhões em favor do Uruguai.