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Análise: eleições mostram força de centro e direita e desafio de renovação de MDB, PSDB e PT

Lucas de Aragão, Arko Advice, analisa quem ganha e quem perde no cenário político do país com as eleições municipais

Publicado em 7 de outubro de 2024 às 14h50.

*Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice

As eleições municipais de 2024 trouxeram mudanças significativas no cenário político brasileiro, refletindo um novo equilíbrio de forças entre os partidos, especialmente no nível local. O resultado dessa disputa mostrou como a fragmentação partidária continua alta e como partidos de centro e direita ganharam ainda mais espaço no comando das prefeituras. Escrevi na Exame, em dia 30 de junho, que a eleição municipal mostraria uma centro-direita e uma direita com fôlego, elegendo um alto número de prefeitos.

Uma das grandes novidades foi o desempenho do MDB, que pela primeira vez desde 1992, perdeu sua posição de liderança no número de prefeituras eleitas. Durante muitos anos o MDB serviu como o partido-base do Centrão. Com o nascimento de novas legendas, como o PSD, e o crescimento de outras, como o União Brasil e Republicanos, o MDB perdeu espaço como o principal partido do centro político brasileiro. A legenda também perdeu espaço nas grandes cidades.

Quem ocupou esse posto foi o PSD, que consolidou sua força como o partido com maior número de prefeituras sob seu comando.

As legendas de centro, centro-direita e direita foram os grandes vencedores dessas eleições. 72,81% das prefeituras do Brasil serão comandadas PSD, MDB, PP, União Brasil, PL e Republicanos, reforçando a tese de que o Brasil experimenta uma "direitização" do eleitorado.

Outro destaque, mas que não surpreende, é o enfraquecimento do PSDB, que teve a maior queda no número de prefeituras conquistadas em relação a 2020. Com uma variação negativa de 255 prefeituras, o PSDB, que já foi uma força dominante na política nacional e local, enfrenta hoje uma enorme crise de identidade e de liderança.

A fragmentação partidária, uma característica já conhecida da política brasileira, se manteve alta. 24 partidos elegeram prefeitos em pelo menos uma das 5.570 cidades do país, o que ressalta o quão diversa e pulverizada é a política local no Brasil.

O Partido dos Trabalhadores (PT) conseguiu uma leve recuperação após anos de quedas sucessivas. Em 2012, o PT havia conquistado 650 prefeituras, mas esse número caiu drasticamente após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, atingindo apenas 174 prefeituras em 2020. Agora, em 2024, o partido volta a crescer, elegendo 251 prefeitos. Apesar dessa recuperação, continua sendo apenas o nono colocado no ranking de legendas com maior número de prefeituras eleitas. Nas principais capitais do Brasil o PT não teve o protagonismo de outros tempos.

Nas maiores cidades do país a situação do PT é ainda mais delicada. A legenda corre o risco de perder até 50% das prefeituras que conquistou em 2020, mas também tem o potencial de crescer até 275%, já que conseguiu levar 13 candidatos ao segundo turno. Isso mostra que, embora a força do partido nas pequenas e médias cidades tenha diminuído, ele ainda pode ser competitivo nos grandes centros urbanos.

Por outro lado, um dos grandes vencedores nessas cidades foi o Partido Liberal (PL), impulsionado pela força do ex-presidente Jair Bolsonaro. O PL já garantiu a eleição de dez prefeitos nas maiores cidades, representando um crescimento de 400% nesse grupo de municípios. A sigla também aumentou seu total de prefeituras de 345 em 2020 para 523 em 2024, consolidando-se como uma das forças mais influentes na política local. No grupo das cidades com mais de 200 mil eleitores, o PL foi o partido que mais elegeu prefeitos e ainda disputará o segundo turno em outras 33 cidades, o que pode ampliar ainda mais sua presença nos grandes municípios.

Outro fator relevante é que o PSD, além de ter conquistado o maior número de prefeituras, será o partido que governará a maior parte da população brasileira: 29,1 milhões de pessoas. Logo atrás, vêm o PL, o MDB, União Brasil e PP, o que mostra que os partidos do centro e da direita não só ganharam mais prefeituras, mas também terão sob seu comando uma fatia significativa da população.

Esses resultados confirmam a tendência de fortalecimento dos partidos de centro e direita, ao mesmo tempo que colocam um desafio de renovação para legendas tradicionais como o PSDB e o MDB. O PT, por sua vez, ainda busca se reerguer e recuperar sua relevância no cenário local, principalmente nas grandes cidades. Em um contexto de alta fragmentação e disputa intensa pelo controle das prefeituras, as eleições municipais de 2024 mostram um país cada vez mais polarizado e complexo, onde a força política está se redistribuindo de maneiras que podem definir os rumos das próximas eleições gerais.

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