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Analfabetismo funcional estagnou desde 2018, diz estudo

Pesquisa, realizada entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, aponta que a condição é uma realidade para quase um terço dos brasileiros

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Publicado em 5 de maio de 2025 às 10h07.

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O número de analfabetos funcionais no Brasil em 2024 continua o mesmo do que foi registrado seis anos antes. Os dados, que são da nova edição do Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), apontam que 29% dos brasileiros de 15 a 64 anos vivem sem ter aprendido o básico de leitura e escrita. A proporção é a mesma registrada em 2018, último ano com informações da série histórica.

O estudo, que avaliou a capacidade de leitura, escrita e Matemática de 2.554 pessoas por meio de simulações de situações do cotidiano, é coordenado pela organização da sociedade civil Ação Educativa e pela consultoria Conhecimento Social, e é uma co-realização da Fundação Itaú, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, Unesco e Unicef.

Nível elementar

De acordo com o Inaf, os alfabetizados em nível elementar, que possuem capacidades básicas de escrita e leitura e conseguem resolver questões matemáticas simples, formam o maior grupo entre os brasileiros, com 36%.

Pessoas com alfabetismo consolidado, ou seja, que têm pelo menos a capacidade de selecionar múltiplas informações em textos e compreender tabelas, formam 35% da população.

Usando como recorte a população empregada, o levantamento aponta que 27% dos trabalhadores do país são analfabetos funcionais, 34% atingem o nível elementar e 40% têm níveis consolidados de alfabetismo.

De acordo com o coordenador da área de educação da Ação Educativa, Roberto Catelli, a queda do número de matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade para quem não completou a educação básica, contribuiu para essa estagnação. Em 2024, ela registrou o menor número de alunos da história, segundo o Censo Escolar.

— Se a gente tem uma política pública que reforça a educação de jovens e adultos e que abre as portas em condições adequadas para que jovens e adultos possam ampliar sua escolaridade, com certeza, isso vai ter impacto positivo sobre o nível de alfabetismo — complementa.

O Indicador ainda registrou aumento do número de analfabetos funcionais entre brasileiros de 15 a 29 anos, que foi de 14% para 16%. Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, afirma que a piora dos dados representa o desperdício do maior ativo que um país pode ter.

— Estamos falhando na missão mais básica da escola: garantir as condições fundamentais para que os jovens leiam, compreendam e transformem a si próprios e ao mundo à sua volta — afirma. — Estamos matando algo precioso: a esperança e a dignidade dos nossos jovens — complementa.

Já na avaliação da superintendente de Conhecimento da Fundação Roberto Marinho (FRM), Rosalina Soares, apesar de mais brasileiros estarem frequentando a escola, a qualidade da aprendizagem não acompanhou esse avanço.

— Os dados do Saeb mostram que, ao final do ensino médio, a maioria dos estudantes não atingiu o nível adequado em Língua Portuguesa e em Matemática. Isso indica que muitos concluem etapas da educação básica sem as competências necessárias para o exercício da cidadania, o mundo do trabalho e a vida em sociedade — diz.

Analfabetismo digital

O levantamento também incluiu pela primeira vez desde 2001, ano da primeira edição, um recorte específico sobre o analfabetismo no contexto digital. De acordo com o Indicador, 95% dos analfabetos só conseguem realizar um número limitado de tarefas, e 40% dos alfabetizados proficientes, que são aqueles que atingem o nível mais alto da escala de alfabetização, apresentaram médio ou baixo desempenho em tarefas digitais.

No recorte por escolaridade, o estudo aponta que 96% daqueles que nunca frequentaram a escola situam-se no nível mais baixo de resultado. Nesse patamar encontram-se 15% daqueles que alcançaram o Ensino Médio e 9% dos que chegaram ou concluíram o ensino superior.

Já pelo critério de renda, 21% das pessoas com mais alto desempenho nas atividades digitais têm, em média, uma renda familiar superior a cinco salários mínimos, essa proporção é de 10% no grupo com desempenho mediano e de 3% no grupo de baixo desempenho.

Metodologia do estudo

O estudo foi feito a partir de dados coletados de 2.554 pessoas entre 15 e 64 anos de idade e foi realizado entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025. A margem de erro estimada varia de dois a três pontos percentuais, a depender da faixa etária.

Os entrevistados passaram por encontros presenciais mediados por aplicador, um teste composto por um conjunto de itens que refletem situações do cotidiano com diferentes graus de dificuldade, e um questionário para caracterização sociodemográfica, econômica, cultural e educacional.

Já para avaliar a habilidade dos brasileiros no mundo digital, foram propostas três

tarefas. Na primeira, o entrevistado deveria realizar a compra de um par de tênis a partir de um anúncio publicado em uma rede social; a segunda situação simulava uma conversa em aplicativo de mensagens; e a terceira situação propunha exigia a criação de uma conta e o preenchimento de um formulário online.

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