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Amigo de Heleno, general Villas Bôas assume cargo de assessor no GSI

Villas Bôas deve iniciar o novo trabalho a partir de fevereiro, a convite do ministro da pasta, general da reserva Augusto Heleno

Sessão de transmissão de cargo: nesta sexta-feira, o general passou o comando do Exército para Edson Leal Pujol (Rafael Carvalho/Divulgação)

Sessão de transmissão de cargo: nesta sexta-feira, o general passou o comando do Exército para Edson Leal Pujol (Rafael Carvalho/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 12 de janeiro de 2019 às 11h46.

Última atualização em 12 de janeiro de 2019 às 11h48.

Brasília — O general Eduardo Villas Bôas deixou ontem o comando do Exército, após quase quatro anos no posto, e vai assumir a função de assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), no Palácio do Planalto.

Villas Bôas deve iniciar o novo trabalho a partir de fevereiro, a convite do ministro da pasta, general da reserva Augusto Heleno, de quem é amigo.

O governo quer aproveitar a experiência de Villas Bôas como uma espécie de consultor de Heleno, que, por sua vez, é um dos principais conselheiros do presidente Jair Bolsonaro.

Tecnicamente, o GSI é responsável pela segurança do presidente e por ações de inteligência e estratégia do governo. Na prática, a pasta ganhou mais força na atual gestão — Heleno exerce influência em decisões estratégicas em diversas áreas.

Villas Bôas também possui boa relação com Bolsonaro. Ontem, na cerimônia de transmissão do cargo ao sucessor, general Edson Leal Pujol, ele se emocionou ao receber um abraço do presidente.

Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, foram os primeiros saudados no discurso do general, para quem o Brasil festeja a chegada deles ao Planalto.

"O senhor traz a necessária renovação e a liberação das amarras ideológicas que sequestraram o livre-pensar, embotaram o discernimento e induziram a um pensamento único, nefasto, como assinala o jornalista americano Walter Lippman, 'quando todos pensam da mesma maneira, é porque ninguém está pensando'", disse o mestre de cerimônias que leu o discurso de Villas Bôas.

Debilitado por uma doença degenerativa, o general se poupou na cerimônia, fez uma saudação inicial e voltou a falar apenas na hora de transmitir o cargo a Pujol.

Um dia após assumir a Presidência, Bolsonaro havia citado Villas Bôas como um dos responsáveis por sua chegada ao Planalto. "O que nós já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu estar aqui", afirmou o presidente, durante a transmissão de cargo do ministro da Defesa, Fernando Azevedo.

'Instabilidades'

Na cerimônia de ontem, Azevedo citou a instabilidade política que marcou os quatro anos em que o general comandou a força, sem falar abertamente sobre o processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff e as eleições de 2018.

Ele afirmou que a passagem de Villas Bôas ocorreu "num tempo que guarda as marcas das instabilidades que colocaram à prova a maturidade das instituições democráticas brasileiras, incluídas as Forças Armadas".

"O general Villas Bôas é reconhecido pelo carisma de líder equilibrado. Mas o seu grande feito não pode ser medido com olhos rasos. A maior entrega deste comandante foi o que ele conseguiu evitar. Foram tempos que colocaram à prova a postura do Exército como organismo de Estado, isento da política e obediente ao regramento democrático", disse o ministro da Defesa.

Em abril do ano passado, porém, Villas Bôas se envolveu em uma polêmica ao fazer, na véspera do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal, um post no Twitter repudiando a "impunidade" e dizendo que o Exército estava "atento às missões institucionais".

Villas Bôas classificou 2018 como um ano de "acontecimentos desafiadores para as instituições e até mesmo para a identidade nacional" e destacou o protagonismo de três personalidades para que o País "voltasse ao rumo normal": Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o interventor no Rio, general Walter Souza Braga Netto.

O general fez reconhecimentos a Dilma e a Michel Temer. A petista o indicou para o cargo, e o emedebista o manteve. Apesar disso, fez reclamações por constantes cortes de verbas nos últimos anos. Ele também destacou o papel da imprensa no aperfeiçoamento institucional e citou jornalistas do jornal O Estado de S. Paulo.

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