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Amazônia pode ser maior repositório de coronavírus do mundo, diz cientista

Segundo David Lapola, a intervenção humana nas florestas pode gerar desequilíbrio ecológico e exportar as doenças que estão dentro das matas

Amazônia: Lapola lembra que nas décadas anteriores o mundo já sofreu com o HIV, o ebola e a dengue, vírus que se disseminaram a partir de desequilíbrios ecológicos (Ricardo Lima/Getty Images)

Amazônia: Lapola lembra que nas décadas anteriores o mundo já sofreu com o HIV, o ebola e a dengue, vírus que se disseminaram a partir de desequilíbrios ecológicos (Ricardo Lima/Getty Images)

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AFP

Publicado em 13 de maio de 2020 às 12h24.

Última atualização em 13 de maio de 2020 às 12h25.

A história é conhecida: a intervenção humana em matas nativas pode gerar desequilíbrio ecológico e exportar doenças do coração da floresta. Com a devastação da Amazônia, a próxima grande pandemia pode surgir no Brasil, alerta o cientista David Lapola.
"A Amazônia é um potão de vírus", afirma o pesquisador, de 38 anos. Ao devastá-la, colocamos à prova nossa própria sorte, acrescenta.

A maior floresta tropical do mundo ainda tem extensas áreas preservadas, mas "cada vez há mais degradação, mais desmatamento", adverte Lapola.

"Quando você gera esse desequilíbrio ecológico, você altera essas cadeias e nessa hora pode acontecer esse pulo do vírus [dos animais para os humanos]", explica, em entrevista à AFP.

Formado em Ecologia, Lapola lembra que em décadas anteriores o mundo já sofreu com o HIV, o ebola e a dengue. "Foram todos vírus que acabaram ou surgindo ou se disseminando de uma maneira muito grande a partir de desequilíbrios ecológicos".

Lapola diz que, segundo estudos, essa transmissão ocorre com mais frequência no sul da Ásia e na África, onde se encontram majoritariamente certas famílias de morcegos, mas que a biodiversidade da Amazônia poderia caracterizar a região como "o maior repositório de coronavírus do mundo".

"A culpa não é dos morcegos, não é para sair matando morcego por ali", esclarece o pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp.

"É mais uma entre 'n' outras razões pra gente não fazer esse uso irracional que agora está aumentando ainda mais da Amazônia, a nossa maior floresta", ressalta.

"Refundar" a relação com a floresta

Lapola adverte que a conjuntura atual, com o avanço do coronavírus, que já provocou 12.400 mortes no Brasil, dificulta ainda mais a vigilância da floresta tropical, já ameaçada.
"Primeiro a gente tem que atacar essa crise sanitária e todo o esforço tem que ir para isso (...) Mas é preocupante porque a gente está tendo um aumento muito expressivo agora, não sendo ainda a estação de desmatamento", expressa.

Nos primeiros quatro meses de 2020 foram desmatados 1.202 km2 de floresta, segundo dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Isto representa um aumento de 55% em comparação com o mesmo período de 2019, quando o presidente Jair Bolsonaro enfrentou duras críticas dentro e fora do Brasil por minimizar o avanço dos incêndios que consumiram extensões recorde de floresta.

O presidente, que defende a abertura da Amazônia à exploração de minério e à agropecuária, enviou esta semana um contingente militar para combater o desmatamento.

Os números vão demonstrar se esta foi uma estratégia bem-sucedida, afirma Lapola.
"A questão mais grave é a gente usar o Exército pra tudo e qualquer questão no Brasil. Isso mostra um pouco uma certa crise das nossas instituições e um Ibama desaparelhado", destaca.

"Está provado que a questão do desmatamento é suscetível a quem nos governa. A boa notícia é que os governos são passageiros. Eu espero que numa próxima gestão se dê mais atenção a essa questão e a gente trate com mais zelo esse enorme, talvez o maior, tesouro biológico do planeta", declara.

Para o pesquisador, também se faz necessário "refundar a relação da sociedade com as florestas". Lapola destaca que, embora a propagação de novas doenças a partir do coração da floresta seja "um processo muito complexo pra gente poder prever, é melhor usar o princípio da precaução e não testar muito a nossa sorte".

 

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