Amazonas: estado concentra mais da metade dos casos da covid-19 na Região Norte. Até ontem, eram 1.809 registros e 145 óbitos (REUTERS/Bruno Kelly/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de abril de 2020 às 09h53.
Última atualização em 18 de abril de 2020 às 09h54.
Sem leitos de UTI, respiradores e recursos humanos, o governo do Amazonas está equipando hospitais do estado, lotados com pacientes infectados pelo coronavírus, com contêineres frigoríficos para acondicionamento de corpos das vítimas da doença. Com a situação de colapso no sistema de saúde, o governo já prevê "convulsão" e "revolta".
Na quinta-feira, vídeo divulgado por profissionais do plantão do hospital da rede estadual João Lúcio, em Manaus, repercutiu nas redes sociais e assustou a população. O vídeo mostra pacientes e corpos dividindo o mesmo espaço. Quem filma circula entre os leitos com corpos dispostos lado a lado. O vídeo mostra ao menos dez mortos.
Na sexta, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), em entrevista à Rádio Tiradentes, em Manaus, afirmou que todas as unidades hospitalares da capital passarão a contar com contêineres frigoríficos para abrigar corpos de vítimas da covid-19. Lima disse que o governo opera no limite ao se referir às UTIs e admitiu que em alguns dias não terá mais como atender às pessoas nem onde colocar cadáveres. Até bombeiros militares foram convocados para atuar em hospitais.
O governador pede que recebam prioridade pacientes que apresentem quadros de "alta gravidade". Ele afirmou que pleiteou no Ministério da Saúde 150 respiradores, mas recebeu indicação de que terá somente 50. Além disso, garantiu que está tentando comprar outros 200 respiradores da China, dos Estados Unidos e de "uma empresa brasileira", sem dar detalhes. O estado do Amazonas concentra mais da metade dos casos da covid-19 na Região Norte. Até ontem, eram 1.809 registros e 145 óbitos.
O governador prevê alta nos registros nas próximas semanas e "convulsões" e "revolta". "Em algum momento, nosso sistema de saúde ão não terá condição de atender todo mundo. Em algum momento, como já estamos vendo em unidades hospitalares, não vou mais ter onde colocar corpos."
Segundo o governo do estado, Manaus tinha média de 30 enterros por dia e, só na última quinta-feira, foram cem. A atualização diária do governo estadual sobre óbitos mostra discrepância em relação aos enterros. Na quinta, a Fundação de Vigilância Sanitária (FVS) e a Secretaria de Estado de Saúde informaram que o registro foi de 18 mortes em 24 horas.
Segundo Lima, há subnotificação e já há relatos de pessoas que estão morrendo em casa. "Tenho casos aqui no Amazonas de pessoas que estão falecendo em casa, que os parentes ligam para funerária, sem passar pela FVS. Esse corpo é levado direto para o enterro."
O governador afirmou que pretende impor maior rigor ao isolamento social e ao funcionamento do comércio. Citou como exemplo o município de Parintins, a 360 quilômetros de Manaus, que adotou toque de recolher e tem menos registros da doença. Ontem, um decreto da prefeitura de Manaus suspendeu, até o fim de junho, a concessão de licenças para eventos públicos de qualquer natureza, a fim de evitar aglomerações.