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Nova onda? mortes e internações pela covid dão sinais de alta

Pesquisadores de diferentes instituições observam interrupção na queda dos indicadores e alertam para risco de reversão do cenário

Segundo epidemiologistas, há muitos fatores a serem considerados para explicar essa mudança de tendência (Kacper Pempel/Reuters)

Segundo epidemiologistas, há muitos fatores a serem considerados para explicar essa mudança de tendência (Kacper Pempel/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 20 de agosto de 2021 às 09h12.

Última atualização em 20 de agosto de 2021 às 09h29.

Após uma trajetória de queda que durou dois meses ininterruptos, o número de mortes por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), o quadro sintomático compatível com Covid-19, voltou a entrar em tendência de alta na última semana. O número de internações, que parou de se reduzir há um mês, também dá sinais de estar subindo, indicam dois núcleos de cientistas, um na Fiocruz e outro no Observatório Covid-19 BR, com várias instituições de pesquisa.

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Para chegar à conclusão, os cientistas usaram a técnica estatística do nowcasting, para corrigir a subnotificação dos últimos dias. Por levar em conta os atrasos de notificações e um diagnóstico clínico, que não depende de confirmação da Covid-19 por teste, esse tem sido o melhor termômetro para medir a dinâmica da epidemia no Brasil.

Desde os primeiros meses de 2020, todas as vezes que os dados de SRAG indicaram viés de alta nas mortes e internações, as estatísticas oficiais seguiram a tendência com um intervalo de duas ou três semanas.

— As estimativas agora estão apontando uma desaceleração nas quedas das hospitalizações, em praticamente todo o país. Em alguns lugares vemos até retomada de aumento nas estimativas — afirma o estatístico Leonardo Bastos, integrante dos dois grupos que trabalham nas estimativas.

Como o número de mortes por SRAG e Covid-19 só indicam tendência de alta há uma semana, por conta da margem de erro ainda é preciso esperar alguns dias para uma confirmação. Se há dúvida sobre se a taxa começou a subir, é nítido que ela parou de cair.

Segundo epidemiologistas, há muitos fatores a serem considerados para explicar essa mudança de tendência.

Múltiplas explicações

— Uma soma de fatores pode explicar esse aumento recente, e sem dúvida a flexibilização das medidas restritivas favorece o aumento da transmissão — afirma a epidemiologista Gulnar Azevedo, professora da Uerj e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). — A sensação de que a vacina protege está fazendo com que os vacinados abram mão das máscaras e do distanciamento físico. E a entrada da variante Delta do coronavírus, que é muito transmissível, pode ser um fator importante.

A maior parte dos especialistas dá mais ênfase na reabertura para explicar a trajetória atual da epidemia.

— A reabertura como está em curso é o determinante maior — afirma o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da USP.

Para ele, a entrada da variante Delta é preocupante, mas houve pouco tempo para que ela possa ter se refletido de forma mais intensa nas estimativas de mortes e internações. Sua disseminação, por enquanto, seria mais uma consequência do que uma causa da retomada no ritmo das infecções.

— Mas em um segundo momento essa mudança de tendência poderá ser pela variante Delta. É mais ou menos o que aconteceu em dezembro, quando estávamos em situação bem melhor do que agora. Houve aumento pela reabertura e, depois, a dinâmica da variante Gama tomou conta do cenário — afirma.

A situação não é igual em todo o país, mas há 14 estados que já apontam tendências de alta na última semana, ainda que leves, notadamente nas regões Norte e Centro-Oeste. Os outros parecem ter entrado num platô de estabilidade no último mês, quando considerados os números de óbitos.

Ainda não está claro se, caso já esteja se desenhando uma terceira onda da Covid-19, ela ocorreria na mesma escala que as outras duas. Entre especialistas, existe uma percepção vaga de que isso não vai ocorrer, mas poucos se arriscam a fazer previsões categóricas.

Para entender a tendência, especialistas também olham para outros países onde a pandemia começou antes do Brasil. Os Estados Unidos, que têm características territoriais similares e problemas de baixa adesão a medidas sanitárias, têm sido usado para comparação.

No território americano, o número de casos registrados diariamente voltou a aumentar em junho e já é o dobro daqueles que ocorreram na primeira onda da Covid-19, em 2020, cerca de 140 mil por dia. O número de mortes começou a subir de novo em julho, e ainda está em alta. Mas a escala dos óbitos nos EUA neste momento, cerca de 700 por dia, é muito menor do que aquela dos picos das duas ondas anteriores, que ultrapassaram 2.000 e 3.000.

Cobertura vacinal

Talvez seja cedo, porém, para afirmar que o Brasil conseguirá conter uma terceira onda como os EUA, quando se observa proporção da população que já tomou segunda dose da vacina ou produto de dose única.

— Na comparação entre Brasil e EUA sobre cobertura vacinal, o que você deve olhar é para a proporção de cidadãos totalmente protegidos. Nesta situação os EUA, com 50%, têm o dobro do Brasil, com 25% — destaca o epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-chefe da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Brasil.

Para Gulnar Azevedo, além de aceleração na vacinação, o momento inspira repensar as medidas de suspensão de restrições:

— É fundamental intensificar a vigilância genômica e todas as medidas de saúde pública para conter a transmissão. A comunicação clara para a população feita pelas autoridades sanitárias e um plano coordenado de enfrentamento são urgentes.

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