Aloysio Nunes: o governo brasileiro tem endurecido o discurso contra a Venezuela, aliado a outros países da região, mas reconhece que não houve resultados (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Reuters
Publicado em 2 de maio de 2017 às 19h20.
Brasília - O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, classificou como "golpe" e "ruptura da ordem democrática" a decisão do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, de convocar uma assembleia constituinte no país.
"É mais um momento de ruptura da ordem democrática, contrariando a própria Constituição do país", escreveu o ministro em sua página no Facebook.
Aloysio argumenta que, diferentemente da Constituinte brasileira de 1988, eleita pela população, os membros da Constituinte venezuelana serão escolhidos por "organizações sociais controladas pelo presidente Maduro para fazer uma Constituição de acordo com o que ele quer".
A avaliação no Itamaraty é que Maduro tenta cada vez mais embaralhar a situação no país para tentar se garantir no poder, em um momento em que perde apoio de todos os lados, e complica a possibilidade de um diálogo interno.
"Ele se afasta cada vez mais dessas noções 'burguesas' de democracia", disse à Reuters uma fonte diplomática.
O governo brasileiro tem endurecido o discurso contra a Venezuela, aliado a outros países da região, mas reconhece que não houve resultados.
"Se sobrava ainda algum respeito pela democracia, essa decisão do governo rasgou os últimos pedacinhos", disse a fonte.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) têm marcada para os próximos dias uma reunião de chanceleres para aplicar a carta democrática à Venezuela. No entanto, o país já declarou que se retira da organização. Sua suspensão teria pouco efeito prático.
No Mercosul, a situação é a mesma. O país já está suspenso e, na última reunião de chanceleres iniciou-se a aplicação do Protocolo de Ushuaia, a carta democrática do Mercosul, mas também com poucos resultados práticos.
Os diplomatas brasileiros admitem que não há pressão que pareça demover Maduro da estratégia de manter os chavistas no poder a qualquer custo e pouco pode ser feito além de manter uma pressão internacional que possa, em algum momento, levar a algum diálogo.
"As pessoas estão na rua sem dinheiro, sem comida, é uma combinação explosiva. Vai piorar muito antes de melhorar", avalia a fonte.
Antigos aliados, como o Uruguai, estão em posição desconfortável, diz a fonte, e tem se afastado da Venezuela.
Na região, apenas Equador e Bolívia se mantém como aliados ao governo de Maduro, mas com um apoio cada vez mais silencioso. Cuba é o único país que ainda se sente confortável em defender as ações do presidente venezuelano.