Maconha (Pablo Porciuncula/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de julho de 2018 às 10h46.
Última atualização em 18 de julho de 2018 às 10h47.
São Paulo - Pelo menos três remessas de canabidiol importadas dos Estados Unidos por pacientes brasileiros, cada uma no valor médio de U$ 1 mil (cerca de R$ 3,8 mil), foram confiscadas pela alfândega americana nos últimos 30 dias por causa de um conflito das diferentes leis americanas.
Como o composto, feito à base de maconha, não é produzido no Brasil e só pode ser importado com autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os pacientes prejudicados pelo confisco da encomenda não têm outra forma de conseguir a medicação e estão tendo pioras nos estados de saúde. O produto é usado no tratamento de diversas doenças, principalmente contra crises convulsivas.
Inicialmente, os pacientes e a empresa importadora do produto acreditaram que a medicação havia sido furtada após chegar ao Brasil. Isso porque as caixas foram entregues lacradas na casa dos clientes, mas, ao serem abertas, estavam sem o medicamento, apenas com o isopor e a capa de alumínio que protege o produto. A Polícia Federal brasileira chegou a abrir inquérito para investigar o sumiço dos frascos de canabidiol.
Questionada pela reportagem, a empresa transportadora das mercadorias, a americana UPS, informou que, na verdade, os produtos não haviam sido furtados, mas, sim, interceptados pela U.S. Customs and Border Protection (CBP), a alfândega dos Estados Unidos, no Aeroporto de Louisville, no Estado do Kentucky, informação confirmada pelo órgão à reportagem.
Em nota, a alfândega afirma que "embora o uso de maconha, principalmente para fins medicinais, tenha sido descriminalizado em algum grau por alguns Estados dos EUA, a venda, posse, produção e distribuição de maconha continuam sendo ilegais sob a lei federal" do país. O órgão não informou por que apenas essas três encomendas foram confiscadas sob essa alegação, se dezenas de outras remessas do tipo são enviadas para o Brasil todos os meses.
Já a UPS afirmou que está "cooperando com a CBP, e trabalhando juntamente com nossos clientes, para que eles tenham todas as informações a respeito das circunstâncias do conteúdo confiscado de suas remessas". Enquanto isso, as famílias dos pacientes que ficaram sem remédio demonstram desespero pela falta.
Um dos prejudicados é Lázaro Medina Souza, de 23 anos, que sofre de epilepsia grave desde os cinco anos e toma o canabidiol para controlar as crises convulsivas. "Nós já tínhamos tentado de tudo, eram umas 20 crises por dia. Depois que começamos com o canabidiol, praticamente zerou. Agora já estamos há dez dias sem o remédio e ele voltou a ter crises. Em uma delas, ele caiu da cama e se machucou. Nós, que somos pais, não sabemos o que fazer", conta a operadora de caixa Valdenia Medina Sousa, de 41 anos.
Outro paciente afetado pelo problema é o garoto Felipe da Silva Marra, de 6 anos, que sofre de uma síndrome genética rara e usa o canabidiol há dois anos. "Além de controlar as crises convulsivas, o remédio ajudava na parte cognitiva e na irritabilidade. Com o canabidiol, ele fica mais feliz, mais sociável", comenta a fisioterapeuta Viviane Ferreira Marra, de 36 anos, mãe do menino.
Representante da CBDRx Functional Remedies no Brasil, uma das fabricantes do produto nos Estados Unidos, Cassio Ismael diz que a empresa já envia o produto para o País há três anos e o confisco nunca havia acontecido. "Isso deve ser apurado rigorosamente para que não falte medicamento para os pacientes. O absurdo é não haver notificação nenhuma (do confisco) nem para a empresa que está vendendo nem para o paciente", declarou. De qualquer forma, a fabricante já providenciou outras três remessas de produto para os pacientes prejudicados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.