Gilmar Mendes: o ministro manteve 43 contatos - via aplicativo WhatsApp - com o senador (REUTERS/Ueslei Marcelino/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de outubro de 2017 às 17h53.
São Paulo - Após palestra na Escola Paulista de Magistrados, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, disse que o "Brasil vive Macarthismo".
Ele saiu em defesa aberta de Gilmar Mendes e classificou de "normal" o fato de o colega da Corte ter mantido 43 contatos - via aplicativo WhatsApp - com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), alvo da Operação Patmos, da Polícia Federal, por suposta propina de R$ 2 milhões da JBS.
"O ministro Gilmar, desde o início de seu mandato, se reúne com presidentes de vários partidos, com diversos senadores para tratar da reforma política", disse Alexandre.
"E o faz às claras. Então, não há nenhum problema em que um membro do Supremo converse com parlamentares. Nós estamos vivendo, infelizmente, no Brasil, o que os Estados Unidos viveram lá atrás, um Macarthismo muito grande."
O Macarthismo foi um movimento radical deflagrado nos anos 1950 pelo senador Joseph McCarthy (republicano) contra os que defendiam o comunismo.
"Os deputados e senadores são membros de um Poder. Nós não podemos confundir o continente com o conteúdo", seguiu o ministro.
Para Alexandre, "o continente é o Congresso, essencial para a democracia".
Ele citou períodos de exceção no País. "Toda vez em que se enfraqueceu o Congresso, nós tivemos uma ditadura, com Vargas e depois a ditadura militar."
Nesta quinta-feira, 19, relatório da Polícia Federal encaminhado ao Supremo mostrou detalhes - mas não o conteúdo - das 43 chamadas entre Gilmar e Aécio, que estava no grampo dos investigadores em ação controlada autorizada pelo STF.
A investigação pegou contatos entre o ministro e o senador no mesmo dia em que Gilmar decretou o adiamento do depoimento de Aécio na Corte. O ministro é relator de quatro inquéritos abertos para investigar o tucano.
Esses inquéritos fazem parte do acervo da Operação Lava Jato. Alexandre disse que essas investigações "não podem depender apenas de delatores".
"O Brasil precisa ter mecanismos de investigação mais ágeis e preventivos. Como não se percebeu que, durante anos e anos, bilhões foram desviados da Petrobras?", questionou Alexandre.