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Ajudarei Dilma nem que seja última coisa que faça, diz Lula

O ex-presidente que, com o agravamento da crise que afeta o país, se convenceu de que deveria ajudar Dilma a governar


	Dilma e Lula: "Nem que seja a última coisa que eu faça na vida, vou ajudar a Dilma a governar esse país", disse o ex-presidente
 (Adriano Machado / Reuters)

Dilma e Lula: "Nem que seja a última coisa que eu faça na vida, vou ajudar a Dilma a governar esse país", disse o ex-presidente (Adriano Machado / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 23 de março de 2016 às 20h37.

São Paulo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em discurso para sindicalistas que vai ajudar Dilma a governar.

"Nem que seja a última coisa que eu faça na vida, vou ajudar a Dilma a governar esse País com a decência que o povo merece", afirmou nesta quarta-feira, 23, à plateia de cerca de mil apoiadores na capital paulista.

Lula disse que a "companheira Dilma" tinha lhe chamado para compor o ministério em agosto do ano passado e ele disse não ter aceitado por saber que não é fácil a convivência de presidente e ex-presidente no governo.

"Não sou analfabeto político como alguns pensam. Tenho noção que não é fácil uma presidente conviver na mesma sala com um ex-presidente."

Ele argumentou, contudo, que, com o agravamento da crise que afeta o País, se convenceu de que deveria ajudar.

"Quando foi agora, com a crise política, os adversários apertando cada vez mais a Dilma, ela disse 'preciso de você pra me ajudar'", relatou Lula no discurso.

Segundo o ex-presidente, ele ainda resistiu porque não queria passar a impressão de que buscava "privilégios", mas que acabou cedendo por causa do cenário.

"Aceitei porque tenho pleno bom senso que posso ajudar a Dilma, com aquilo que mais sei fazer na vida que é conversar, ouvir as pessoas", afirmou.

Lula chegou a dizer que no ato pró-governo e de apoio a ele, na sexta-feira, 18, na Avenida Paulista, sentiu que estava tomando posse de novo. "A impressão que tive na Avenida Paulista foi que vocês estavam me dando posse", afirmou.

Golpe

Lula fez uma comparação histórica para defender a sucessora Dilma Rousseff do que ele e aliados classificam de iniciativa golpista de forças "conservadoras" contra a presidente.

Lula lembrou que o País tem o maior período de estabilidade democrática desde a constituição de 1988 e citou os episódios do suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e da deposição de Jango em 1964 com o golpe militar em uma referência ao que, ao ver dele, ocorre hoje.

O ex-presidente também citou Juscelino e disse que o golpe foi para que o então ex-presidente não pudesse concorrer nas eleições de 1965.

"Até a historia de apartamento que me acusam hoje, acusavam Juscelino de ter apartamento no Rio que ele não tinha", disse comparando-se ao ex-mandatário.

"Eles têm que aprender que nós ganhamos a eleição pelo voto democrático. Se eles querem ir pra Presidência que esperem por 2018", disse ao argumentar novamente que ele aguardou por eleições desde 1994 até chegar ao cargo máximo do País em 2002.

"Não tentem dar golpe na Dilma que nós não vamos aceitar. Não existe nenhuma razão legal para o impeachment. E o respeito pelo povo brasileiro, pelo voto?", questionou. "Acho que é bom eles aprenderem a ficarem calmos."

O ex-presidente reforçou que os sindicatos e movimentos sociais têm uma obrigação de defender a democracia. "Tentar tirar a Dilma agora é golpe e esse País não pode aceitar o golpe na Dilma."

Ele reclamou das investigações contra ele. Voltou a dizer que iria depor à Lava Jato sem a necessidade de ser levado à força pela condução coercitiva e chamou de "pachorra" a iniciativa de um procurador de São Paulo denunciar sua mulher, Marisa Letícia, por lavagem de dinheiro.

Lula, Marisa e o filho mais velho do casal foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo por suposta ocultação de patrimônio no caso que envolve um tríplex no Guarujá.

"Tiveram a pachorra de um promotor dizer que a dona Marisa estava enquadrada por lavagem de dinheiro", bradou Lula. "Eles têm que aprender que mentira tem perna curta" e emendou em críticas à oposição, repetindo que eles não têm paciência para esperar a eleição de 2018.

"Se enganam aqueles que acham que sou contra o combate à corrupção", disse ao argumentar que seu governo deu autonomia à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal e repetiu ser honesto, mais honesto que os integrantes da força-tarefa da Lava Jato.

"Se um deles for mais honesto que eu, desisto da vida pública nesse País", bradou.

Ele questionou ainda se os coordenadores da Lava Jato imaginam o tamanho do "prejuízo" que a operação causou à economia brasileira.

Protestos

Lula também reclamou dos protestos pró-impeachment, dizendo que a imprensa incentiva o "ódio", em referência indireta à TV Globo. O público gritava "o povo não é bobo, abaixo a rede Globo". Lula chegou a dizer estar "enojado" com alguns veículos de comunicação.

"O que a gente não pode aceitar é o ódio que está sendo destilado neste País. Acham que quem usa camisa verde e amarelo é mais brasileiro que nós. Tem muita gente que acha que é mais brasileiro que nós porque o dólar está alto e não pode fazer enxoval em Miami", disse ao argumentar que entre 2007 e 2012 o Brasil era o país "mais otimista do mundo".

Lula discursou por mais de uma hora, mesmo com a voz bastante rouca por causa de um resfriado.

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