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Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2013 às 18h57.
Rio - O coordenador do Grupo Cultural AfroReggae, José Júnior, acusou nesta terça-feira o pastor evangélico Marcos Pereira da Silva de estar por trás do incêndio que destruiu parcialmente um imóvel no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, no início da madrugada. No local, seria inaugurado, no dia 5, um alojamento da organização não governamental (ONG) para receber universitários de outras regiões da capital fluminense ou do País que participarão de um programa de intercâmbio social do AfroReggae. A redação do jornal comunitário Voz das Comunidades também funcionava no imóvel e foi atingida pelas chamas.
Pastor Marcos, líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (Adud), está preso desde 7 de maio, acusado de estuprar duas fiéis da igreja. Ele ainda é investigado pela Polícia Civil por homicídios e ligação com traficantes do Comando Vermelho (CV), facção que dominava o conjunto de favelas até a pacificação. Antigos aliados, José Júnior e pastor Marcos romperam em fevereiro de 2012, após o ativista acusar o evangélico, publicamente, de envolvimento com o tráfico e de orquestrar a onda de ataques que levou pânico aos cariocas em 2006. A defesa do pastor Marcos nega todas as acusações.
"Eu e o AfroReggae passamos a ter problemas desde que fiz aquelas acusações contra o pastor. As constantes ameaças contra alguns membros nossos; o ataque à UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Vila Cruzeiro antes da corrida Desafio da Paz, em maio; e agora esse incêndio... nada disso é coincidência. Tudo faz parte de uma estratégia do pastor de nos atingir. Não tenho a menor dúvida de que, se aparecer droga em alguma unidade do AfroReggae ou se algum integrante for morto, é coisa do crime organizado, do qual o pastor faz parte", afirmou coordenador do Grupo Cultural AfroReggae, antes de prestar depoimento na 22.ª Delegacia de Polícia (Penha), que investiga o incêndio.
Advogado do religioso, Marcelo Patrício disse que as afirmações de José Júnior não têm fundamento. "Somente na semana passada que o pastor passou a receber a visita da filha e da irmã. Como a gente não acreditava que ele ficaria muito tempo preso, elas demoraram a pedir a autorização para visitá-lo na cadeia. Até então, ele só recebia os advogados. O pastor não tem o dom da telepatia, e é impossível que ele tenha orquestrado esse incêndio. Daqui a pouco, Júnior vai acusá-lo de ser o responsável pela derrubada do World Trade Center", ironizou, referindo-se aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2011 nos Estados Unidos.
Suspeito identificado
Um homem identificado como Wagner Moraes da Silva, de 20 anos, teve 30% do corpo queimado no incêndio. Moraes da Silva foi resgatado no local por bombeiros e levado ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, zona norte, onde continua na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) em observação. O estado de saúde dele é estável.
Informalmente, Moraes da Silva afirmou a investigadores da 22.ª DP que entrou no imóvel por um basculante para apagar o incêndio, e se queimou. "Esse incêndio está esquisito. O imóvel tem três andares, e só teve fogo no primeiro e no terceiro. Funcionários do AfroReggae dizem que ele não é funcionário da ONG e não o conhecem. Moradores da região dizem que ele não é de lá. Além disso, encontramos do lado de fora do imóvel televisão, cafeteira, e outros objetos que foram furtados da redação do jornal, que ficava no terceiro andar. Também achamos uma lata de combustível no local. Por isso, achamos que o incêndio foi criminoso, e o rapaz ferido é o principal suspeito", afirmou o delegado Reginaldo Guilherme.
Guilherme disse ainda que investigará as denúncias de José Júnior sobre o suposto envolvimento do pastor Marcos no episódio. "O ferido não tem antecedentes criminais. Precisamos descobrir se ele tem alguma ligação com o tráfico ou com o pastor, e também a motivação do incêndio. Se o objetivo era apenas furtar os objetos, por que ele não pegou as coisas e foi embora?".
O delegado aguardará Moraes da Silva ter alta hospitalar para ouvi-lo formalmente no inquérito. O estudante Renê Silva Santos, de 19 anos, que fundou o Voz das Comunidades em 2005, estava em casa quando recebeu uma ligação de um amigo que mora perto da redação do jornal dizendo que saía muita fumaça do local.
"Saí correndo e quando cheguei os bombeiros já tinham acabado de apagar as chamas. Perdemos todo o material gráfico, como jornais, revistas e edições antigas, além de equipamentos, como ar condicionado, micro-ondas, ventiladores... Por sorte, os computadores e as câmeras do estúdio ficam guardados em nossas casas. Mas é muito triste", disse o jovem, que ganhou a redação em 2012, ao participar de um quadro do programa Caldeirão do Huck, da TV Globo.
O rapaz ganhou notoriedade ao transmitir em tempo real, por meio de redes sociais, a ocupação do Complexo do Alemão pelas forças de segurança, em novembro de 2010. Ele disse que já recebeu mensagens de diversas pessoas pelo Twitter querendo ajudar a reequipar a redação do jornal comunitário.