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Africanos não conseguem ocupar postos qualificados no Brasil

A visão estereotipada dos países africanos e o preconceito são, segundo ONG, algumas das razões para que as empresas não abram espaço


	Migrantes africanos: o secretário nacional de Justiça disse que o problema deverá ser enfrentado na mudança da lei que regulamenta os direitos dos estrangeiros (Christophe Simon/AFP)

Migrantes africanos: o secretário nacional de Justiça disse que o problema deverá ser enfrentado na mudança da lei que regulamenta os direitos dos estrangeiros (Christophe Simon/AFP)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2013 às 07h30.

São Paulo – Imigrantes africanos se queixam que, mesmo qualificados, têm dificuldade para conseguir bons empregos no Brasil. “Essa busca por mão de obra qualificada é pensada muitas vezes em relação ao europeu, principalmente ao branco. Não imaginam que o africano tem essa qualificação, que o haitiano tem essa qualificação”, ressalta a diretora do Instituto da Diáspora Africana no Brasil (IDAB), Carmen Victor da Silva. A organização não governamental busca dar apoio a imigrantes que chegam ao país.

A visão estereotipada dos países africanos e o preconceito são, segundo Carmen, algumas das razões para que as empresas não abram espaço em postos qualificados para africanos.

“Eu percebo que existe uma distinção. Quando se fala de imigrantes de outras localidades, latinos ou africanos, se fala sempre como mão de obra braçal, não intelectual”, enfatizou, em entrevista à Agência Brasil, antes de participar de audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo.

O secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, admitiu que o problema é presente e deverá ser enfrentado na mudança da lei que regulamenta os direitos dos estrangeiros.

“É preciso reconhecer que o preconceito faz parte das relações humanas e é por isso que todo o debate dessa questão migratória tem que ser calcado no afastamento e enfrentamento da xenofobia”, disse. “Será constituído agora um comitê de especialistas para dar a formatação jurídica de um anteprojeto que poderá ser encaminhado ao Congresso”, acrescentou.


Procedente da Guiné-Bissau, formada em teologia e pedagogia, Madalena Nanque conseguiu emprego apenas em uma loja que vende chinelos. Mas, após problemas com a burocracia para o pedido de residência permanente, perdeu até esse trabalho.

“Quero fazer concurso, não consigo. Quero fazer pós-graduação, minhas amigas já acabaram, eu não consigo, porque não tenho documento”, reclama a africana, de 36 anos.

“Eu acho que deve haver uma base aqui em São Paulo para ajudar gente como eu, que não tem pai para dar nada, que tem que trabalhar”, diz, ao se queixar dos gastos dos deslocamentos a Brasília para resolver a sua situação legal.

O estudante angolano Marseu de Carvalho também reclama da falta de atenção do governo aos imigrantes com poucos recursos. “Nós sabemos que não há políticas públicas que recaem sobre os estudantes imigrantes. E se há políticas públicas, elas não chegam à minha camada, daqueles que não têm nenhuma representatividade governamental ao sair de seus países por conta própria”, destacou durante o encontro.

Além da falta de apoio institucional, o estudante universitário Ademar Carvalho diz sofrer com o racismo no Brasil. “O meu governo falava que os brasileiros e portugueses são nossos irmãos porque falam a mesma língua. Hoje, já não penso mais assim”, desabafou o jovem que se diz enganado por uma faculdade do interior paulista. Um representante da instituição, segundo Carvalho, foi a Angola oferecer uma série de vantagens que não se cumpriram na prática. Atualmente, o estudante move uma ação, com a ajuda da Defensoria Pública da União (DPU), contra a faculdade.

A parceria entre o Ministério da Justiça e a defensoria é uma das ações do governo, de acordo com Paulo Abrão, para solucionar os problemas que afligem os imigrantes. “Para que ela [a DPU] passe a atuar na defesa jurídica de todo e qualquer estrangeiro dentro do território nacional”. Abrão acrescentou que também foi firmada uma parceria com a Organização Internacional de Migrações. “A primeira etapa é a realização de diálogos públicos com representações e lideranças dos imigrantes”, destacou.

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