O senador Aécio Neves, do PSDB, tem a obrigação de superar as divergências internas de seu partido, afirmou o senador José Agripino (Veja)
Da Redação
Publicado em 27 de fevereiro de 2013 às 16h27.
Brasília - Ainda tentando entender os motivos que levaram a presidente Dilma Rousseff a antecipar o movimento da reeleição, os partidos de oposição buscam uma alternativa eleitoral para retornar ao poder e, por enquanto, a provável candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) não une os oposicionistas.
Dirigentes dos três principais partidos, PPS, DEM e PSDB ouvidos pela Reuters revelaram também que ainda não há uma estratégia definida para tentar voltar ao comando do país em 2014, quando a oposição completará 12 anos fora do Palácio do Planalto.
Mesmo entre os tucanos, que devem ter a candidatura de Aécio imposta, os movimentos estratégicos para disputar a Presidência são marcados pelo improviso. Foi o caso do discurso do senador mineiro na semana passada, antecipado para se contrapor à festa petista em comemoração aos 10 anos de governo federal.
Ou ainda a estratégia desastrada de se opor à candidatura do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado, dias antes da votação. O movimento foi classificado como "erro" na cúpula do PSDB, porque o partido não conseguiu mobilizar os demais aliados e mesmo na bancada tucana houve grande apoio a Renan, que é alvo de pedido de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).
"Não há maior definição no campo oposicionista. Tem a provável candidatura do PSDB, do Aécio Neves, e evidentemente está como um hipótese de trabalho, vamos usar essa denominação, do PPS", disse o presidente da legenda à Reuters, deputado Roberto Freire (SP).
"Mas existem outras hipóteses. Se Eduardo Campos (PSB)efetivamente se tornar uma alternativa ao bloco dominante é uma hipótese de trabalho para o PPS. A Marina Silva também pode vir a ser uma hipótese de trabalho", acrescentou Freire, cujo partido já esteve na base aliada do governo petista no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Marina, que recebeu cerca de 20 milhões de votos em 2010 quando concorreu à Presidência pelo PV, articula a criação de um novo partido e pode se candidatar novamente. Já a candidatura de Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, tem sido ventilada desde o final das eleições municipais do ano passado, quando os socialistas conquistaram 444 prefeituras, entre elas cinco capitais.
Assim como o PPS ainda estuda se a candidatura tucana é o melhor caminho para voltar ao poder, o DEM também quer outras definições antes de se juntar a um projeto para 2014.
"Minha estratégia é mais do que clara: agregar novos partidos na aliança (oposicionista). Antes de definir o candidato, para daí sim ter um cacife real para ganhar a eleição", disse o presidente do DEM, senador José Agripino (RN).
"Aécio é um bom candidato, mas é apenas um bom postulante (por enquanto). A oposição precisa de novos parceiros", afirmou Agripino. O partido, desde os tempos que se chamava PFL, com exceção de 2002, sempre apoiou as candidaturas tucanas à Presidência.
SEM CORRERIA
O próprio presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), admite que a antecipação eleitoral promovida pela presidente apressou os movimentos da oposição, porém isso ainda não motiva os tucanos a apresentarem formalmente a candidatura de Aécio, o que pode aumentar a agonia dos tradicionais aliados.
O PSDB acredita que ele acumularia desgastes desnecessários, o que tornaria a disputa com Dilma ainda mais difícil, já que ela tem índice pessoal de aprovação de 77 por cento e sua gestão é bem avaliada por 62 por cento, segundo levantamento da CNI/Ibope de dezembro.
O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), diz ainda que uma candidatura lançada às pressas não resolve o problema da oposição.
"Agora não é hora de a gente pôr a campanha na rua. É claro que não tem que ficar parado, mas uma etapa agora que é de organização do partido, montar uma direção com capacidade de ação para resolver questões nos Estados, com capacidade de formulação", argumenta o senador, que é tido no partido como um grande aliado de José Serra, que perdeu duas disputas presidenciais pelo PSDB.
Guerra, que deve passar o comando do partido para as mãos do próprio Aécio em maio, concorda com Aloysio e diz que 2013 é o ano para que o virtual candidato do PSDB à Presidência fique conhecido do eleitorado e convença outros partidos a lhe apoiarem.
"Ao longo desse ano tem que ficar claro que Aécio pode ganhar e que é nosso candidato e em torno dele muitos podem ir se juntando", disse Guerra.
O líder tucano no Senado acrescenta que o discurso do PSDB ainda está muito economicista. "O povo não sabe o que é déficit primário, o que é dívida líquida e nem vota por isso, nem aqui e nem em nenhum lugar do mundo", afirmou o senador.
Para Agripino, Aécio tem ainda outra obrigação. "Cabe ao Aécio superar as divergências internas. Todo mundo sabe das diferenças entre o Serra e ele, que não são intransponíveis", disse.
Essa divisão interna, porém, não existe mais, segundo Guerra.
"O Serra não tem nem com quem falar (no partido). Essa divisão da gente, Serra de um lado e não sei quem do outro não tem nada disso. Não existe isso. Nós só temos uma chance, é com Aécio e ponto final", argumentou o presidente do PSDB.
APOSTA NA DIVISÃO DA BASE
Mas há ao menos uma aposta que une PSDB, DEM e PPS: a divisão da base aliada do governo no Congresso, o que poderia engrossar a aliança eleitoral da oposição.
Os presidentes dos três partidos evitam vocalizar quais seriam os partidos preferenciais da base governista que poderiam trocar de lado. Mas as insatisfações das bancadas do PR, do PDT, do PSB e do PP são acompanhadas de perto.
"A barca do governo é grande demais e não sei se vai continuar tendo espaço para todo mundo", avaliou Aloysio. "Acabou de pôr o PSD (na base aliada). Em algum momento vai haver movimento aí dentro e não sei quantas melancias vão caber", acrescentou.
Já os movimentos de Campos e do PSB para uma possível candidatura à Presidência geram diferentes reações na oposição. Enquanto alguns apontam que sua entrada na eleição pode tirar votos de Dilma, outros duvidam das intenções do pernambucano.
Entre os desconfiados está Guerra. "Esse negócio não vai longe. Não será candidato contra esse governo aí. Ele também não tem a decisão de ser candidato das oposições contra o governo atual. Não tem coragem", argumenta o tucano.
Já o presidente do PPS vê com bons olhos o surgimento de um potencial candidato dentro do campo governista. "Podemos dizer que a oposição brasileira está começando a ter, se não apoio, pelo menos um espaço maior para enfrentamento com o governo", avaliou Freire.
Mas para o cientista político da Universidade de Brasília, Leonardo Barreto, esse jogo pode ser perigoso para o PSDB.
"Não vejo nenhuma chance de um cenário Campos-Aécio (numa chapa PSB-PSDB). Ao mesmo tempo que Campos não teria vantagens, o PSDB não quer abrir mão de ser o antagonista ao PT. Poderia vir a perder o espaço simbólico que é dele", analisou Barreto.
"O PSDB é um partido hoje em decadência e de certa maneira o que pode estar em jogo não é voltar à Presidência, é guardar posição como principal alternativa ao PT", acrescentou.