Brasil

Acusado de operar propina para Odebrecht diz morar na Suíça

O doleiro Bernardo Freiburghaus foi um dos investigados que teve mandado de condução coercitiva decretado pela Justiça Federal


	Lava Jato: Bernardo Freiburghaus foi um dos alvos da nova fase da Lava Jato, deflagrada no dia 5
 (Nacho Doce/Reuters)

Lava Jato: Bernardo Freiburghaus foi um dos alvos da nova fase da Lava Jato, deflagrada no dia 5 (Nacho Doce/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de fevereiro de 2015 às 16h18.

São Paulo e Curitiba - A defesa do doleiro Bernardo Freiburghaus, suspeito de ter aberto e operado contas no exterior para o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa - entre elas a que serviu para recebimento de US$ 23 milhões da construtora Norberto Odebrecht -, informou à Polícia Federal que está na Suíça.

Freiburghaus foi um dos alvos da nova fase da Lava Jato, batizada de Operação My Way, deflagrada no dia 5.

O doleiro foi um dos investigados que teve mandado de condução coercitiva decretado pela Justiça Federal.

A Polícia Federal esteve nos endereços indicados nos mandatos, mas não encontrou o doleiro nem sua empresa.

O doleiro é dono da Diagonal Investimentos, com sede do Rio.

Na petição entregue à Polícia Federal no dia 13 e anexada aos autos da Lava Jato ontem, 24, a defesa do doleiro disse que ele mora atualmente em Genebra, na Suíça, e demonstrará "oportunamente que nenhuma ilegalidade praticou".

Na petição, a defesa do doleiro apontou ainda o novo endereço da Diagonal no Rio.

"Embora esteja funcionando de forma precária, tendo em vista a expressiva diminuição de seus clientes, a empresa está regulamente constituída no endereço acima declinado", afirma a advogada do doleiro Fernanda Silva Telles.

Segundo a criminalista, em 13 de fevereiro, "após tomar conhecimento de que foi procurado para prestar esclarecimentos sobre os fatos" investigados, Freiburghaus "protocolou, via internet, petição informando que é cidadão suíço" e informou seu atual endereço, em Genebra, "onde poderá ser notificado".

O ex-diretor de Abastecimento afirmou em sua delação premiada, em setembro do ano passado, que a empreiteira Odebrecht, que está na mira das novas etapas da força-tarefa da Lava Jato, fez depósitos de propinas "a cada dois ou três meses" em suas contas no exterior entre 2008 e 2013.

Os pagamentos seriam fruto de uma "política de bom relacionamento" da empresa com o ex-diretor.

Costa foi um dos homens fortes dos quadros da Petrobras até 2012, quando se aposentou.

Depois disso, montou a Costa Global, empresa que usava para consultorias e recebimentos das propinas pendentes.

Os repasses totalizaram ao menos US$ 31,5 milhões até 2012, segundo o delator.

Costa afirma que os pagamentos em suas contas na Suíça não tinham relação com as propinas repassadas a partidos políticos.

Segundo descobriu a Lava Jato, PT, PMDB e PP cobravam de 1% a 3% do total dos contratos de empreiteiras, por meio de diretores indicados politicamente aos cargos.

Executivo

O ex-diretor de Abastecimento afirma que os valores pagos via Freiburghaus começaram a ser realizados por sugestão do diretor da Odebrecht Plantas Industriais Rogério Araújo.

O executivo teria indicado o doleiro suíço que tinha base no Rio para operar esse contato com o banco na Europa.

Costa afirmou ter ouvido de Araújo, em uma reunião que teve com ele, a seguinte frase: "Paulo, você é muito tolo, você ajuda mais os outros do que a si mesmo. E em relação aos políticos que você ajuda, a hora que você precisar de algum deles, eles vão te virar as costas."

No depoimento, o ex-diretor da estatal detalha como era a operação das contas, que ficavam a cargo de Freiburghaus, com quem Costa diz que se encontrava a cada dois meses para conferir os extratos.

As reuniões aconteceram na sede da Diagonal, no Rio, ou mesmo na Costa Global, duas empresa de consultoria.

Segundo o delator, após os encontros, os extratos eram destruídos e o ex-diretor não ficava com nenhum documento.

Costa relatou ainda que o operador cobrava um valor fixo pelos serviços e rotineiramente alterava as contas para apagar rastros identificáveis por autoridades.

Freiburghaus considerava importante, "de tempos em tempos, haver alguma mudança" nas contas, afirmou o ex-diretor de Abastecimento.

Apesar de não entrar para a cota do partido - Costa era o indicado do PP no esquema -, a propina paga pela Odebrecht via Freiburghaus era relativa aos contratos que a construtora obteve nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

Costa disse que apenas Araújo, o operador e seus familiares sabiam das contas no exterior.

Ele sequer mantinha as senhas das contas, que ficavam com Freiburghaus.

O dinheiro, segundo afirmou o delator, era mantido no exterior como uma reserva "para uso futuro, quando viesse a precisar".

O montante faz parte do dinheiro que o ex-diretor devolveu dentro do acordo de delação premiada que fez com a força-tarefa da Lava Jato, em troca de redução de pena.

Odebrecht

A Construtora Norberto Odebrecht tem negado pagamento de propina a Costa e relações ilícitas com Freiburghaus.

A empreiteira negou publicamente as acusações de Costa e garantiu que não fez pagamentos ou depósitos para o ex-diretor "nem para qualquer outro executivo ou ex-diretor da estatal".

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasGás e combustíveisIndústria do petróleoIrregularidadesNovonor (ex-Odebrecht)Operação Lava JatoPetrobrasPetróleo

Mais de Brasil

Giro do dia: morte de Pepe Mujica, CPI das Bets, JBS, INSS e investimentos da China

Governo Lula paralisa cessão da área da favela do Moinho em SP ao governo Tarcísio

Prefeito de Sorocaba (SP) vira réu por suspeita de superfaturamento na compra de lousas digitais

Tornado atinge município do RS, provoca danos em mais de 280 moradias e destrói rede elétrica