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Acidente Voepass: familiares das vítimas terão reunião com delegado para discutir novo depoimento

Testemunha contou em entrevista ao G1 que falha no avião horas antes do acidente foi omitida do diário de bordo técnico

Nova testemunha afirmou ter havido uma omissão no diário de bordo de uma falha no avião horas antes do acidente (AFP)

Nova testemunha afirmou ter havido uma omissão no diário de bordo de uma falha no avião horas antes do acidente (AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 2 de agosto de 2025 às 17h42.

Representantes da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283 - Voepass vão se reunir na próxima semana com o delegado-chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, para discutir as declarações de uma nova testemunha, que afirmou ter havido uma omissão no diário de bordo de uma falha no avião horas antes do acidente que causou 62 mortes em Vinhedo (SP). Em entrevista publicada pelo site G1, ele contou ainda que funcionários eram pressionados pela diretoria da empresa a evitar que aeronaves ficassem paradas para manutenção.

Adriana Ibba, vice-presidente associação, mãe de Liz Ibba dos Santos, de três anos, que morreu na tragédia, avalia que, nse as declarações forem confirmadas, são mais um indicativo de que a tragédia poderia ter sido evitada.

— Se se confirmar, com certeza é mais um indicativo de que houve crime e que a tragédia podia ter sido evitada. Se o avião tivesse sido fiscalizado como deveria ser pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), também não teria acontecido. A empresa tinha a cultura de ir além do que era seguro e alguns sabiam disso, como mostram multa e notificações da Anac anteriores ao acidente — ressalta.

O advogado Luciano Katarinhuk, que acompanha as famílias das vítimas, afirmou que vai participar de uma reunião com o delegado da Polícia Federal na próxima para tomar parte do depoimento dado por essa testemunha e, a partir dos novos indícios, analisar os caminhos judiciais que podem ser tomados.

— Na reunião teremos mais posições a respeito até de um dolo eventual, quando a pessoa assume o risco do resultado. Uma omissão dessa magnitude pode tirar da esfera do culposo para algo de assumir o risco — avalia Katarinhuk.

No próximo sábado, dia 9 de agosto, quando a tragédia completa um ano, familiares das vítimas vão se reunir em Vinhedo para um ato em homenagem aos 62 mortos no acidente. Será realizado um culto ecumênico e um cerimônia de plantio de árvores pelos familiares.

Omissão

Em entrevista ao G1, o ex-funcionário afirmou ter presenciado a última manutenção do ATR 72-500 antes da queda do avião. Segundo ele, a aeronave pousou em Ribeirão Preto 1h ma manhã, quando o piloto relatou verbalmente ter enfrentado falhas no sistema de degelo, e ficou parada no hangar para manutenção básica, sem que houvesse qualquer investigação sobre a pane, sob a justificativa de que ela não foi formalizada por escrito. No dia seguinte, às 13h22 o avião cai em Vinhedo, em um voo que saiu de Cascavel rumo a Guarulhos.

— Essa aeronave nunca tinha apresentado esse tipo de falha, né? Só que no dia do acidente, quando essa aeronave chegou de Guarulhos para Ribeirão, ela foi reportada verbalmente pelo comandante que trouxe ela. Foi alegado que ela tinha apresentado o airframe [fault] (alerta emitido quando há problema no degelo) durante o voo. E ela estava desarmando sozinha. Ele acionava [o sistema] e ela desarmava. Coisa que não poderia acontecer — afirmou a testemunha ao G1.

Ainda na entrevista, o ex-funcionário da Voepass contou que que a decisão do piloto de não incluir o problema no diário de bordo técnico (TLB) aconteceu em um contexto em que eles eram pressionados pela diretoria da empresa a evitar que aeronaves ficassem paradas para manutenção.

— Ela [a aeronave] chegou por último, por volta de meia-noite e meia, quase uma hora, e 5h30 da manhã ela já tinha que estar lá em cima para poder assumir voo. É um período muito curto para ser feita manutenção na aeronave. Era a própria diretoria que exigia isso, queria o avião voando. Então assim, eles nem pesquisaram [o problema no sistema de degelo] — disse.

Anac

Na última semana, aAgência Nacional de Aviação Civil (Anac) decidiu pela cassação do Certificado de Operador Aéreo da Passaredo Transportes Aéreos, principal empresa do grupo Voepass. A decisão ocorreu após o órgão regulador ter identificado "falhas graves e persistentes no Sistema de Análise e Supervisão Continuada (SASC) da companhia".

Não cabem mais recursos à decisão, que incluiu aplicação de sanções pecuniárias no valor total de R$ 570,4 mil, diz a Anac. A cassação ocorre após a realização de operação que teve início após o acidente aéreo ocorrido em 9 de agosto de 2024. Neste ano, a Anac havia suspendido as operações da empresa.

Mesmo assim, segundo a Anac, depois do acidente em agosto passado, a Voepass operou 2.687 voos com aeronaves sem manutenção adequada e sem condição de navegar.

"No curso da operação assistida, a Anac verificou falhas na execução de itens de inspeção obrigatória de manutenção, que não foram detectadas nem corrigidas pelos controles internos da empresa — um indício de que o sistema de supervisão da companhia havia se degradado, comprometendo sua capacidade de atuar preventivamente", diz a Anac.

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