Abraham Weintraub, ministro da Educação: uma gestão marcada por desgastes (YouTube/Reprodução)
João Pedro Caleiro
Publicado em 18 de junho de 2020 às 16h08.
Última atualização em 18 de junho de 2020 às 17h43.
Abraham Weintraub, ministro da Educação e uma das figuras mais controversas do governo Jair Bolsonaro, anunciou que vai deixar o cargo. O atual secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, nome ligado ao guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, é cotado para assumir seu lugar.
Apesar de já esperada, a demissão ocorre em um dia de fragilidade do Planalto com a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, em um sítio pertencente ao advogado da família.
No vídeo em que anuncia sua saída, Weintraub diz que vai para o Banco Mundial e que não vai discutir agora os motivos da decisão. Já Bolsonaro diz que o momento é difícil e que não deixará de lutar por liberdade.
Nenhum dos dois cita qualquer tema relativo à área de educação. Esta é a décima queda de ministro do governo Bolsonaro, sendo a terceira ocorrida durante a pandemia.
O ministro sai em meio a investigações sobre racismo contra chineses, devido a um post nas redes sociais, e por ter pedido prisão para ministros do Supremo Tribunal Federal em uma reunião ministerial.
Ao repetir o insulto de "vagabundos" aos ministros do STF junto a um grupo apoiadores do governo no domingo, ele selou seu destino. Bolsonaro disse há dois dias que ele havia virado um "problema".
Weintraub também era um dos integrantes do governo que mais enfrentava resistências no Congresso, especialmente do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e era alvo de campanha pública por sua saída.
Na última semana, o ministro sofreu mais um revés quando Bolsonaro editou uma Medida Provisória que permitia a nomeação de reitores temporários, sem passar pelo processo de eleição, para universidades federais durante o período da pandemia, ferindo a autonomia universitária.
No dia seguinte, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, devolveu a MP. Essa foi a quarta vez desde 1988 que o Legislativo devolve uma MP para o Executivo sem a análise de deputados e senadores.
A saída é vista portanto como um gesto apaziguador em direção aos outros poderes da República em meio a um endurecimento da retórica de ruptura institucional pelo presidente e seus aliados.
Veja o vídeo da demissão:
Weintraub também foi condenado por entidades judaicas brasileiras e internacionais ao comparar, nas redes sociais, as ordens de busca e apreensão do inquérito com a Noite de Cristais, série de ataques nazistas a estabelecimentos judeus na Alemanha em 1938 que deixaram dezenas de mortos.
Sem experiência específica na área de educação, Weintraub assumiu o MEC em abril do ano passado no lugar de Ricardo Veléz, outra gestão marcada por crises, e colecionou reveses e inimigos.
Uma das primeiras ações de Weintraub foi o anúncio de um contingenciamento de 30% no orçamento de universidades federais que promovessem “balbúrdia” e tivessem desempenho abaixo do esperado.
Houve forte reação, e estudantes e simpatizantes foram às ruas de 190 cidades, incluindo todas as capitais, em defesa da educação no maior protesto do primeiro ano de governo Bolsonaro.
Recentemente, sua gestão sofreu mais desgaste em resistir ao adiamento da data do Enem diante da pandemia do coronavírus, pela falta de coordenação da experiência de ensino à distância e por ignorar o tema do FUNDEB, principal mecanismo de financiamento da educação básica e que vence este ano.
Outras críticas comuns são pela falta de execução dos recursos da pasta e pela rotatividade em cargos-chave. O INEP, por exemplo, responsável pelo Enem, teve quatro presidentes em um ano.
Antes de ser ministro, Abraham Weintraub foi secretário-executivo da Casa Civil, atuando como “número 2” da pasta então sob o comando de Onyx Lorenzoni.
Sem experiência específica prévia na área de educação, Weintraub é graduado em ciências econômicas pela Universidade de São Paulo e mestre em administração na área de finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A maior parte da sua carreira foi no mercado financeiro. Ele trabalhou 18 anos no Banco Votorantim, onde foi de office-boy a economista-chefe e diretor. Demitido, se tornou sócio na Quest Investimentos.
Ele também já foi membro do comitê de Trading da BM&FBovespa e atuava como professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) desde 2014.
Ele e seu irmão Arthur tem especialidade em Previdência e estavam entre os primeiros nomeados para o gabinete de transição de Bolsonaro. Eles aderiram ao grupo bolsonarista antes mesmo do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. Arthur é hoje assessor especial da Presidência da República.